CAPITULO 61

1734 Words
O trajeto até a igreja foi silencioso, exceto pelo som do motor e das batidas ritmadas do meu coração. Eu sabia que esse dia não seria fácil, mas estava decidida a enfrentar o que viesse, incluindo Samuel e seus constantes jogos de sedução. Chegamos à igreja, uma construção imponente de pedra com vitrais coloridos. Descemos do carro e caminhamos em direção à entrada, eu me esforçando para me sentir à vontade no vestido de Samantha. As portas grandes se abriram diante de nós, revelando um interior amplo e reverente. Samuel caminhava ao meu lado, seus dedos roçando ocasionalmente contra os meus, o que só aumentava minha inquietação. Tentava focar na seriedade do momento, mas a proximidade de Samuel era uma distração constante. Entramos e nos sentamos em um dos bancos, Doug e Samantha parecendo em casa, enquanto eu me sentia como uma estranha em um lugar desconhecido. O sermão começou, e eu me perdi em pensamentos, tentando entender meus sentimentos e a confusão que Samuel causava em mim. Olhei para ele várias vezes durante a missa, tentando decifrar seu comportamento. Ele parecia calmo, talvez até mais introspectivo do que eu esperava. Em um momento, ele me pegou olhando e me deu um sorriso breve, mas cheio de significado. Durante o serviço, tentei concentrar-me nas palavras do padre, mas minha mente vagava. Sentia o olhar de Samuel sobre mim, queimando minha pele. Minha mente voltava ao cinema, à intensidade do toque dele. Fechei os olhos, tentando afastar esses pensamentos. Olhava fixamente para o padre, tentando absorver suas palavras sobre fornicação e pecado. A missa estava em seu ponto alto, e o sermão parecia ser direcionado diretamente a mim, ou pelo menos, Samuel queria que eu pensasse assim. "O tema de hoje parece cair como uma luva para você, Lily," sussurrou Samuel, a voz dele um murmúrio provocador em meu ouvido. O padre continuava, sua voz reverberando pela nave da igreja. "A Bíblia é clara em sua mensagem sobre a pureza s****l. Em 1 Coríntios 6:18-20, somos instruídos a 'fugir da imoralidade s****l', pois nosso corpo é o templo do Espírito Santo. Devemos honrar a Deus com nossos corpos, mantendo-nos puros e santos, pois fomos comprados por um preço." Lancei um olhar duro para Samuel. "Acho que isso é mais para você, não acha?" Samuel sorriu, aquele sorriso cínico que fazia meu sangue ferver. "Eu não fui quem estava em um encontro no cinema e acabou aos beijos com outra pessoa no banheiro." Minhas bochechas queimaram com a raiva e a vergonha. Antes que eu pudesse responder, o padre prosseguiu. "As consequências da fornicação podem ser graves e duradouras. Elas incluem danos emocionais, relacionamentos quebrados, doenças sexualmente transmissíveis e gravidezes indesejadas. Além disso, há um impacto espiritual profundo, pois cada ato de fornicação afasta a pessoa do plano que Deus tem para a sua vida." Samuel inclinou-se ainda mais perto, seu hálito quente em meu ouvido. "Essas opções são tão tentadoras. O que será que acontece quando os dois fornicadores são irmãos?" "Não somos irmãos de verdade," sibilei, minha paciência se esgotando. "Que alívio," disse ele, sorrindo com malícia. "Porque sem dúvida Deus nos castigaria pela nossa promiscuidade." Eu olhei fixamente para frente, tentando ignorá-lo. "Não acredito que você já foi um cara que vinha à igreja. O que aconteceu com aquele jovem que Samantha disse que acreditava em Deus?" A expressão de Samuel endureceu. "Aquele cara morreu no dia em que meu pai morreu, e Deus não fez nada para salvá-lo. Mas até onde eu sei, você não é do tipo religiosa." "Pelo menos eu não sou hipócrita," retruquei, a raiva escorrendo pela minha voz. O padre continuava seu sermão, sem perceber o turbilhão que ocorria no banco de trás. "Em 1 Coríntios 11:27-29, Paulo também nos adverte: ‘Portanto, todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. Examine-se cada um a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação.’ Jovens, se vocês estão envolvidos em pecado, especialmente na fornicação, é crucial que se examinem antes de participar da Eucaristia. Reconheçam seus pecados, busquem o arrependimento sincero e procurem a graça de Deus para transformar suas vidas. Participar do corpo e sangue de Cristo exige uma postura de reverência e pureza." A missa avançava para a Eucaristia. Samantha e Doug levantaram-se e entraram na fila. Eu permaneci sentada ao lado de Samuel, tentando manter minha mente calma. "Não tenha medo," disse Samuel com um sorriso provocador. "Como você não acredita, se pegar o pão e o vinho, não será condenada ao inferno." Olhei para ele com desafio. "Por que você não pega logo para provar essa teoria?" Samuel deu de ombros e se levantou, entrando na fila. Observei-o com atenção, tentando decifrar se ele realmente teria coragem de seguir adiante. Quando virei a cabeça, vi Aidan olhando diretamente para mim, seu olhar cheio de perguntas não ditas. Desviei o olhar rapidamente, sentindo um nó se formar em meu estômago. Aidan não precisava saber das confusões internas que me atormentavam, especialmente sobre Samuel. Tentava me focar na missa, nas palavras do padre, mas minha mente estava em um turbilhão. Samuel avançava na fila, cada passo um desafio silencioso. Samantha e Doug haviam recebido a Eucaristia e voltado aos seus lugares, enquanto Samuel se aproximava do padre. Sentia cada movimento como uma provocação direta, uma aposta para ver se ele realmente desdenharia daquele momento sagrado. O padre ofereceu o pão e o vinho a Samuel, que o aceitou com uma reverência que parecia quase genuína. Ele retornou ao nosso banco, sentando-se ao meu lado, e me olhou com um sorriso triunfante, como se tivesse provado um ponto que só ele entendia. "O que achou?" ele sussurrou, com aquele sorriso provocador. Encarei Samuel, tentando manter a compostura. "Sem dúvida, você vai para o inferno." Ele apenas riu baixinho. "Nos veremos lá, então." Antes que eu pudesse responder, o serviço chegou ao fim. Samantha e Doug estavam animados, satisfeitos com a missa. Samuel permaneceu calmo, e eu estava perdida em um turbilhão de pensamentos. "O que você achou da missa, Lily?" Perguntou Samantha, sua voz cheia de expectativa. Antes que eu pudesse responder, Samuel se antecipou. "Ela amou. Falou para mim que quer vir outras vezes." Meu pai, olhou para mim com um sorriso no rosto, uma expressão de genuína alegria que eu raramente via. "É verdade, Lily?" Eu não consegui desmentir Samuel, principalmente porque ver meu pai tão contente era algo raro. "É verdade," respondi, tentando sorrir. Foi nesse momento que Aidan se aproximou. Ele estava acompanhado de um senhor de cabelos castanhos, mais ou menos da idade de Doug, uma mulher de cabelos cacheados, e uma garota que parecia ser da idade de Samuel. "Oi," disse Aidan, surpreso ao nos ver ali. "Não esperava encontrar vocês aqui." Samantha sorriu para ele. "É uma surpresa maravilhosa ver você aqui, Aidan." Ele assentiu. "Meus pais frequentam a igreja, e eu também." Samantha virou-se para mim com um sorriso pretensioso. "Não acha maravilhoso, Lily?" "Sim," respondi, forçando um sorriso. Aidan então olhou para mim, os olhos brilhando de entusiasmo. "Lily, você gostaria de conhecer minha família?" Engoli em seco, sentindo a tensão no ar, mas sorri e assenti. "Claro, adoraria." Aidan nos apresentou. "Esses são meus pais, Tom e Margaret, e minha irmã, Rachel." Cumprimentei cada um deles, tentando manter a calma. "Prazer em conhecê-los." Margaret, a mãe de Aidan, sorriu calorosamente. "Prazer é nosso, Lily. Aidan fala muito bem de você." "É bom conhecê-la finalmente," disse Tom, com um sorriso amigável. Rachel, a irmã de Aidan, olhou-me de cima a baixo com um olhar curioso. "Você frequenta essa igreja?" Antes que eu pudesse responder, Samantha interveio. "Hoje é a primeira vez, mas esperamos que seja a primeira de muitas, não é, Lily?" Eu apenas sorri e assenti. "Sim, espero que sim." A conversa seguiu seu curso, com os adultos falando sobre a missa e nós jovens ficando um pouco de lado. Samuel permaneceu ao meu lado, ocasionalmente lançando-me olhares provocadores. Quando finalmente conseguimos um momento sozinhos, Aidan se aproximou de mim. "Você realmente gostou da missa?" Olhei para ele, lutando contra a confusão interna. "Foi interessante." "Que bom. Espero que possamos vir juntos mais vezes," Aidan sorriu. Concordei, mas minha mente estava longe. O impacto de Samuel na minha vida estava se tornando mais evidente a cada dia. Enquanto Aidan era gentil e respeitoso, Samuel era a personificação do caos e da provocação. De volta ao carro, Samantha e Doug estavam animados, discutindo sobre a missa e os planos para o resto do dia. Samuel sentou-se ao meu lado no banco traseiro, com aquele sorriso enigmático. Eu não conseguia evitar a sensação de que estava presa em um jogo que ele controlava. Chegamos em casa e eu fui direto para o meu quarto, precisando de um momento para mim mesma. A missa havia mexido comigo de maneiras inesperadas, e eu precisava entender o que estava sentindo. Precisava encontrar uma forma de lidar com a tensão entre Samuel e eu, sem perder minha própria identidade no processo. Sentei-me na cama, revendo os acontecimentos da manhã. Sabia que estava numa encruzilhada. A influência de Samuel sobre mim era poderosa, mas eu precisava decidir se valia a pena sucumbir a essa atração ou buscar algo mais estável e saudável. Enquanto esses pensamentos rodopiavam na minha mente, ouvi uma batida na porta. "Lily, posso entrar?" Era Samantha. "Claro," respondi, tentando soar normal. Ela entrou e sentou-se ao meu lado. "Você foi maravilhosa hoje. Sei que pode ser estranho no início, mas a fé pode trazer muita paz e clareza." "Eu sei," murmurei, sem muita convicção. Samantha olhou para mim com preocupação. "Sei que você e Samuel têm suas diferenças, mas espero que você encontre uma forma de lidar com isso. Ele é uma boa pessoa, mesmo que esteja passando por um momento difícil." Assenti, sem saber o que dizer. "Vou tentar, Samantha." Ela sorriu e me abraçou. "Isso é tudo o que peço." Quando ela saiu do quarto, fiquei olhando para a porta fechada, refletindo sobre suas palavras. Precisava encontrar um equilíbrio, uma forma de lidar com Samuel sem perder minha sanidade. E, acima de tudo, precisava descobrir quem eu realmente era nesse caos todo.
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