O filme finalmente terminou, e as luzes da sala começaram a acender gradualmente. Aidan se levantou e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Seus olhos brilhavam de entusiasmo enquanto ele começava a falar sobre as cenas favoritas dele. Eu tentava prestar atenção, mas minha mente estava em outro lugar, procurando desesperadamente por Samuel entre os rostos que saíam do cinema.
"Você está bem, Lily?" Aidan perguntou, a preocupação evidente em sua voz.
"Por que não estaria?" respondi, tentando manter minha voz firme, mas ela saiu mais ríspida do que eu pretendia.
"Você parece nervosa, como se estivesse procurando alguém." Aidan parou, olhando em volta, como se esperasse ver um rosto conhecido.
"Você viu alguém?" perguntei, tentando parecer casual.
"Alguém em específico?" ele respondeu, erguendo uma sobrancelha.
"Não, ninguém em específico," menti, tentando manter o tom leve.
Aidan segurou minha mão, sua presença reconfortante, mesmo que minha mente estivesse em tumulto.
"Gostei muito de assistir ao filme com você," ele disse, se aproximando.
Eu forcei um sorriso, sabendo que não tinha prestado atenção em nada do que acontecia na tela.
"Eu também gostei," respondi, tentando soar sincera.
Ele se inclinou para me beijar, e por um momento, eu quis deixar acontecer, querendo esquecer Samuel e tudo o que ele tinha feito. Mas então, como se o destino estivesse determinado a interromper qualquer tentativa de normalidade, meu pai apareceu.
"Que bom que vocês estão aqui," disse ele, colocando um braço ao redor de cada um de nós, puxando-nos para um abraço apertado. "Está na hora de levar as crianças para casa."
Aidan riu, meio sem graça, e eu forcei outro sorriso, embora meu estômago estivesse em nós. Doug nos conduziu para fora do cinema, e eu olhei por cima do ombro uma última vez, procurando por Samuel. Ele estava em algum lugar na minha mente, perturbando minha paz.
O caminho até o carro foi marcado pelo silêncio desconfortável. Meu pai tentou iniciar algumas conversas leves, mas eu estava muito distraída para participar. Quando finalmente chegamos ao carro, meu pai abriu a porta para mim e para Aidan. Sentamo-nos no banco de trás, e enquanto Doug dava a volta para entrar no carro, Aidan se virou para mim.
"Você parece distante," disse ele, segurando minha mão novamente. "Se tem alguma coisa acontecendo, pode me contar."
Eu queria contar, queria despejar todas as minhas confusões e sentimentos contraditórios, mas simplesmente não consegui.
"Estou bem, Aidan. Só um pouco cansada," menti novamente.
Ele parecia não estar convencido, mas não pressionou mais. O resto da viagem foi tranquilo, com meu pai tentando aliviar o clima com uma música suave no rádio. Quando chegamos em casa, Aidan me acompanhou até a porta, segurando minha mão até o último momento.
"Espero que possamos fazer isso de novo," disse ele, sorrindo.
"Sim, claro," respondi, tentando soar entusiasmada, mas minha mente ainda estava longe.
Ele se inclinou para me dar um beijo rápido na bochecha, e eu retribuí com um abraço rápido antes de entrar em casa. Fechei a porta atrás de mim e soltei um suspiro profundo, sentindo o peso do dia finalmente me atingir. Meu pai entrou logo atrás de mim, parecendo preocupado.
"Você está bem, querida?"
"Sim, pai. Só um pouco cansada," repeti a mesma desculpa, esperando que ele aceitasse.
Ele me deu um abraço apertado e beijou o topo da minha cabeça.
"Vai descansar. Amanhã é um novo dia."
Assenti e subi para o meu quarto, sentindo uma mistura de alívio e confusão. Eu precisava entender o que estava acontecendo com Samuel, e por que ele estava me afetando tanto. Mas agora, precisava de um tempo para processar tudo.
Fechei a porta do meu quarto e me joguei na cama, olhando para o teto. Meu coração estava dividido, e minha mente era um turbilhão de pensamentos e sentimentos conflitantes. Precisava encontrar uma maneira de enfrentar Samuel e resolver essa tensão entre nós, mas por enquanto, tudo o que queria era um pouco de paz e clareza.
Peguei meu celular e olhei para a tela, pensando em enviar uma mensagem para Emily, minha melhor amiga. Precisava desabafar, contar a ela sobre Samuel, sobre o que tinha acontecido. Mas, lembrando que ela tinha mentido sobre estar na casa de John, deixei o celular de lado. Não sabia em quem confiar.
Enquanto meus olhos se fechavam, uma última imagem de Samuel se formou na minha mente, , cada carícia, cada provocação. Não podia negar que havia algo entre nós, uma conexão inegável e perturbadora. Mas isso não significava que eu deveria ceder.
Precisava de uma estratégia, de um plano para lidar com Samuel. Precisava entender seus motivos e, acima de tudo, precisava encontrar uma maneira de proteger meu coração. Porque, apesar de tudo, ele tinha o poder de me destruir.
***
Na manhã seguinte, acordei com o sol já alto e me espreguicei preguiçosamente antes de descer para tomar café. Ao entrar na cozinha, encontrei meu pai, Doug, e Samantha, minha madrasta, ambos vestidos impecavelmente. Samantha estava ajustando a gravata de Doug, que parecia meio desconfortável com a situação.
"Para onde vocês vão tão arrumados?" perguntei, notando o esforço extra em suas roupas.
Samantha olhou para mim com um sorriso.
"Nós vamos à igreja, e você vai com a gente."
Eu franzi o cenho, surpresa. "Igreja?"
Doug suspirou, rendido. "Pois é, Samantha é anglicana e gosta de ir à igreja aos domingos."
Cruzei os braços, sentindo-me desafiadora. "Tudo bem a Samantha ser religiosa, mas nós dois não somos."
Samantha manteve a calma e respondeu, "Religião é um dos pilares muito importantes para uma família, ainda mais para uma família como a nossa."
Meu pai me olhou com um pedido mudo nos olhos. "Por favor, Lily, vai lá e coloca um dos seus vestidos. Não vamos causar problemas agora."
Eu arqueei uma sobrancelha, desafiando a situação. "Duvido que eu tenha um vestido digno para ir a uma missa ou sei lá o que os anglicanos fazem aos domingos."
Samantha sorriu, claramente preparada para essa resposta.
"Você pode pegar um dos meus."
Doug reforçou o pedido. "Vamos, filha, temos que ir logo, ou nos atrasaremos."
Eu continuei teimosa. "Samuel vai?"
Samantha suspirou, já antecipando a resposta.
"Espero que sim, mas depois da morte do pai dele, Samuel não tem frequentado."
"Então, eu, que não tenho religião, tenho que ir, mas Samuel, não? Não parece muito justo." Eu sabia que estava sendo um pouco difícil, mas não conseguia evitar.
Doug implorou, tentando evitar uma discussão.
"Por favor, Lily, só desta vez."
Samantha olhou para mim com uma expressão de súplica.
"Por favor, por mim?"
Revirei os olhos, derrotada. "Tudo bem, tudo bem."
Subi para o quarto de Samantha e Doug, abrindo o guarda-roupa para procurar um vestido sóbrio. Quando finalmente encontrei um, me virei e dei de cara com Samuel, que estava parado na porta.
"O que você está fazendo?" ele perguntou, com um sorriso brincalhão.
"Vou à missa ou sei lá o que com o meu pai e a Samantha," respondi, tentando manter a compostura.
Samuel sorriu ainda mais. "É missa, ou melhor, Santa Missa."
Ajeitei meu cabelo, nervosa. "Seja lá o que for."
Ele se aproximou, ficando a centímetros de mim, e perguntou baixinho, "Você tem certeza de que quer ir à missa?"
"Sem dúvida," respondi, tentando parecer firme. "Sempre ouvi falar que faz bem para a alma, e você deveria ir para se livrar dos seus pecados."
Samuel tocou levemente meu seio, seu toque enviando um arrepio que deixou meu mamilo endurecido.
"E como é que eu vou me livrar dos pecados, sendo que o maior deles é você?"
Senti o dedo de Samuel deslizar pelo meu corpo, me deixando extasiada. Mas antes que pudesse responder, ouvi a voz de Samantha gritando do andar de baixo.
“Lily, encontrou o vestido?”.
"Sim, já vou me arrumar!" respondi, afastando-me de Samuel.
Sai do quarto rapidamente para me vestir, escolhendo um dos vestidos de Samantha. Em poucos minutos, já estava pronta e desci as escadas. Samantha sorriu para mim.
"O vestido ficou ótimo em você, Lily."
Doug olhou para o relógio. "É melhor irmos logo."
Saímos de casa e eu estava abrindo a porta do carro quando ouvi a voz de Samuel.
"Esperem por mim!"
Doug olhou para Samantha, um sorriso satisfeito se espalhando em seu rosto.
“Parece que Deus escutou suas preces.”
Eu murmurei para mim mesma, "Pelo visto, Deus não ouve as minhas."