Os dias seguintes foram confusos para Sandra. A visita de Pedro abriu uma ferida que ela havia feito de tudo para esconder. Agora ela já não conseguia olhar para o marido da mesma forma. Ele era um bom homem, sim. Um pai presente, um companheiro dedicado... mas ela sabia que a conexão entre eles havia se rompido.
Não foi por vingança. Não foi por ego. Foi por amor. O amor que nasceu devagar, entre os olhos de Pedro e o silêncio de tudo que não disseram.
Poucas semanas depois, o inevitável aconteceu. Uma discussão boba sobre algo trivial se transformou numa briga séria. Pela primeira vez, o marido de Sandra olhou nos olhos dela e perguntou:
— Você ainda me ama?
Ela não respondeu de imediato. Mas o silêncio foi suficiente.
— Tem outro homem?
Ela apenas assentiu. Com lágrimas. Sem nomes.
A separação foi dolorosa, especialmente por causa de Benjamim e Davi. Mas foi feita com respeito. O marido, embora magoado, entendeu que a mentira não poderia continuar. Ele não perguntou quem era o pai verdadeiro de Davi. Não quis saber. Só pediu que o amor pelos filhos continuasse. E continuou.
Do outro lado da cidade, Pedro também enfrentava seu próprio fim. Contou tudo à esposa, Vanessa. Ela chorou, gritou, quis saber todos os detalhes. Mas depois de dias de silêncio, ela mesma tomou a decisão.
— Eu já sabia. Só não queria ver.
Vanessa não guardou rancor. Com o tempo, ela se reergueu. Reencontrou sua autoestima, voltou a estudar, arrumou um bom emprego. E, um ano depois, reencontrou um antigo amor da juventude. Um homem que a fez rir de novo — e que, diferente de Pedro, nunca deixou de escolhê-la.
E Pedro? Pedro esperou.
Até o dia em que viu Sandra atravessar a praça, de mãos dadas com Davi, e com um sorriso sincero. Ela se aproximou e disse apenas:
— Agora é a nossa vez.