CAPÍTULO 1

2418 Words
CAMILA LELIS Havia semanas desde o acontecimento i*****l que me levou quase para merda, naquele dia eu podia ir parar inconsciente e pelada em um motel ou em um beco, só não aconteceu porque um homem de "bom" coração e atitude me ajudou a chegar em casa em segurança. Mesmo assim, agora eu voltei a me encontrar com problemas. E é bem pior, agora eu estou bem sóbria. Essa é a lei na minha vida, sempre tem um problema. Se tem uma coisa que gosta, me ama, me adora são os problemas. O mesmo homem que me trouxe em casa quer me ver. É quase uma intimação dele, para falar a verdade eu fiquei a ponto de falar com Carolina, mas lembrei do seu lado nervoso. Carolina estava bem, não queria por mais um problema meu ao seu alcance. Precisava resolver os meus problemas sozinhas. Eu que quis beber por drama da noite r**m. Vou lidar com tudo de forma pacífica, como uma verdadeira mulher. Minha vida está muito agitada, primeiro, enchi a cara de cerveja barata, segundo, tive uma crise existencial, terceiro, consegui um emprego. E quarto, tem um cara que quer me ver, um cara que me ajudou noites atrás quando tava r**m. Não lembro nem as horas que cheguei em casa aquele dia, quem diria dele! Pelo menos sei o nome até bonito dele: Leonel. Nunca ouvi falar de algum psicopata, maníaco, assassino ou outra coisa assim que chama-se Leonel. Ele sabe que eu não quero ir, tanto que marcou no shopping onde eu trabalho, na praça para ser mais exata. No domingo à tarde. Mais uma coisa eu posso dizer: Ele sabe onde eu moro. O que me impede de poder ignorar e seguir em frente. Sem falar que tenho que passar por Carolina, minha linda irmã. Carolina me ama demais para me deixar ir encontrar um cara desconhecido. Se duvidar ela mesmo vai e enfia o sapato no r**o do cara. Esse encontro não pode ser de todos os males. Se o babaca acha que vai me fazer ir contra a minha própria vontade, eu farei ele não querer ter feito isso comigo. Fácil e rápido assim. Quando tinha dez anos eu fui para o restaurante onde mamãe trabalhava, tinha o filho da dona. Um garoto chato de treze anos. Me lembro bem daquele pedaço de saco de batata. Ele teve a ousadia de se aproximar de mim para fazer besteira. Essa besteira mesmo que você está pensando. Já viram cortador de folhas? Um bom instrumento na cozinha, mas é ótimo para tentar cortar uma perna fora. Se é que vocês me entendem. Se não entenderam só saibam que tentei cortar o p***o branco e enrugado do garoto. Quase cavei o emprego dela. Nunca tive sorte com homem. Nunca nem tive um namorado, mas por que? A resposta se divide em 40% e 60%, 60% por minha perna e 40% e por ser podre para escolher, gostar e ser azarada por homem. Todo cara que eu curti deu merda. Dezenove anos e virgem, não me parece tão r**m. Para alguns pode ser. Eu não tenho curiosidade, se for foi. Nunca soube o que é um orgasmo direito. É olha que tentei. E o mais irônico e trabalhar em um lugar remetido aos prazeres e orgasmos da vida louca. Semana passada ouvi uma mulher falar que o marido engasgou com a calcinha. O pior não foi saber que o cara tentou engolir a calcinha. Foi saber que a calcinha era comestível e de sabor morango. No fim comprei uma calcinha para comer, só para ver como era. E merda, gastei cinco dólares com aquela coisa seca e com gosto de chiclete de frutas velho. Vou fazer aquele cara engolir o convite que fez para mim. Se ele acha que sou a garota daquele dia ele está muito certo, mas sou a mesma só que sóbria. Uma diferença enorme! E é loucura pensar que o cara quer fazer graça. E é mais louco pensar que eu vou fazer também. Carolina me disse uma vez que o melhor jeito de combater algo chato e fazendo uma coisa em cima disso. Sabe, eu sei o que fazer isso ficar mais divertido. Se o homem pensa que vou dançar sua música ele está muito enganado. Não danço músicas de desconhecidos. Que fique claro: Um desconhecido. Um ordinário. Uma grande filha da mãe! Que pode ser um maníaco. Um louco. Um psicopata dos piores, aqueles que abusa, que mata e mesmo depois de morta, abusa de novo. Não sou dramática. Sou pessimista, o que é muito diferente. Ser pessimista é legal, você não cria expectativas que podem não se concretizar. Você fica bem preparada. Se você estiver pensando no que pode acontecer, no quesito pessimista, o que vêm de positivo é lucro e é muito melhor. Estou no vestiário da loja, já dentro do shopping, ajeitando a camiseta gótica cheia de desenhos fortes, a calça estava com dois rasgos na perna e o tênis era um allstar preto. Meu cabelo solto um tanto armado e os olhos com lápis preto, tudo da minha colega de trabalho Stela. – Tem certeza que vai fazer isso? Você está me assustando – A voz dela me fez virar e olhar para ela. – Essa é a intenção. – Isso é só uma cara – Tentei não cair na risada. – Você já sabe a história, que tal me apoiar? – Já deixei você usar o closet da loja. Emprestei roupas minhas. – Trabalho aqui, não lembra? - Ela sorriu. Meu trabalho não era o mais normal, mas também não achava o trabalho o mais estranho. Pelo contrário, passei a entender esse outro lado da moeda. O povo caracteriza uma loja erótica muito erradamente. Geralmente, quando se fala de sexshop, você tem toda uma imagem conturbada, mas, quando você conhece, você muda a ideia. Você não vai para um mercado comprar comida, para matar à vontade, a fome? Então. Sobre isso. Explicado? A pessoa vem aqui para isso, tirar algumas vontades ou matar a fome. Bem, basicamente isso. Você só entende o sistema se entrar no sistema. Deixo isso claro e deixo claro que eu sei o que é o sistema, só não estou no sistema. – Você não devia estar em casa? – Minha irmã não está em casa, e aniversário do cara que ela está saindo. – Conseguiu falar com a sua irmã, sobre esse cara? – Não, nem vou. Imagina ela fazendo escândalo, nem pensar, eu sei me cuidar sozinha – Falei e me dei como pronta. – Se a sua intenção era ficar estranha, não conseguiu. – Ah, não fala isso. – Se estivesse normalmente era mais fácil – Encarei o falso estilo gótico no espelho. Oh, droga! Estou ferrada. – O que me indica, Stela? – Não vá. – Ele sabe onde eu moro, não quero problemas com Carolina – Por um segundo fiquei pensativa. – Não, não, não quero problemas mesmo. Imagina um vendaval. Imagina Carolina. Bem, é isso. – Não sabe beber e foi beber por um cara r**m, Camila, você faz umas coisas sem nexo que eu juro, não entendo! – Olhei para ela colocando minha mochila no armário atrás do balcão que eu deixaria na loja. – Você tem que ser mais madura para alguns assusto, está parecendo uma adolescente assustada com medo dos garotos. Eu estava assustada com o cara. Isso não era novidade para ninguém. – Só quero paz. Stela era o tipo de garota madura demais. Mais velha. Estilo gótica. Casada. A única coisa que tínhamos em comum era a loja e uma amizade (provavelmente a roupa emprestada agora). Só isso. Então ela sabia um pouco de mim, como eu dela e eu a deixava opinar sobre algumas coisas e aceitava numa boa. Como agora. Peguei meu celular e lá estava a mensagem: Leonel – 14:08 Você está atrasada. ? Juro que queria enfiar minha cabeça debaixo da terra. Não, queria enfiar a cabeça desse cara na terra. Era vergonhoso, apavorante passar por isso. Peguei minha bolsa e tive a certeza que eu estava pronta pra qualquer coisa que viesse. Mesmo que eu tivesse que ir tremendo toda de medo desse cara. – Toma cuidado. – Tomarei. Até amanhã. Sai da loja bem ciente que eu estava diferente, que aquele visual fez alguns olharem pra mim. Não olhavam só para o meu jeito lento de andar agora. Mas pelo estilo gótico que eu havia pego emprestado. Subi as escadas rolantes até o segundo pavilhão do shopping. Estava com um bom movimento na praça de alimentação. Não vi ninguém que pudesse ser o tal Leonel. Vi alguns casais, famílias, um cara loiro sentando. E vi uma mulher sorrindo para o mesmo. Eu estava literalmente buscando o cara com o olhar. Duas senhoras à minha frente conversando e comendo. Ok, ele não está aqui. Quando dou meu primeiro passo eu vejo uma mão se ergue entre todos. Por um segundo olho para o loiro que está sozinho. Ele olha para minha direção, por segundos olho brevemente para trás. Só havia eu ali. O cara fica me olhando, da mesma forma que eu olhava para ele. Sentindo minhas bochechas queimarem como o inferno dou meu primeiro passo. Era enorme o cara. Alto. Não chegava nem perto do que eu imaginava para Leonel, aquele maníaco que eu estava imaginando. Na verdade a última vez que pensei em um cara como esse eu estava sonhando. Lembro que um sonho bom. Muito legal. Ele veio em minha direção, quase parei de respirar. O cara nem tinha a sobrancelhas feias. As sobrancelhas eram alinhadas, retas. Geralmente, alguns homens, tem a sobrancelha que parece duas taturanas se conhecendo. Mas ele não. Não. O cabelo dele loiro escuro. Porra, caramba! Não pode xingar. Você não xinga Camila, não mesmo! O cabelo não é grande, mas chega ao colarinho da camisa polo branca, por um segundo noto o conjunto de roupas dele, a calça jeans e o sapato. Eu aprendi a conhecer roupas caras. Quem era esse cara? O rosto dele é bonito, o queixo bonito, a boca lindinha. Quando ele parou na minha frente sorrindo e estendendo a mão pra mim, dei um olhar pausadamente sobre seu rosto. Agora mais de perto. Até o nariz dele era diferente dos convencionais. Eu pisquei diversas vezes. Saiu do céu ou de uma revista? – Vejo que está melhor hoje – A voz dele era firme e saiu passiva, até demais. Ele deu mais um passo até ficar bem próximo a mim, pegou minha mão e como se nada pudesse ficar pior ele beijou o dorso, senti os lábios nela e eu mesma afastei minha mão assustada. – Desculpe meu gesto. Comprei um suco e algo pra comer. – Primeiro, por que me chamou aqui? – Pronto, era só resolver isso e ir embora. Acabou. Fim. – Bem Camila, não sei. Depois daquele dia que te levei para casa, fiquei pensando em você – Ele sorriu e eu continuei séria. – Se você estava bem, não sou um bicho que vai te devorar. Por um segundo seus olhos se moveram sobre mim. Minuciosamente. – Você insistiu muito. – Lamento querida, trabalho às vezes nos dá alguns pontos negativos. – Não me chame de querida e não estou aqui pra saber sobre seus pontos negativos ou não. Fui rude? Quis ser. Vou ser. Era o único jeito de fugir. – Eu trabalho com coisas que precisam sair conforme as regras, eu sou chato quando decido algo e gosto que de certo, querida. Eu arqueio a sobrancelha. Ele está brincando comigo? Logo comigo?! – Beleza. Deu tudo certo, agora tenho que ir embora – No momento que virei e dei um passo ele segurou meu braço. – Me solta. Foi automático as últimas duas palavras. – Quero conversar, pelo menos não faça eu desperdiçar o que eu comprei. Sou um homem legal. – Que me obrigou a vir aqui? – Poderia ter ido na sua casa.... – Nem pense! – Falei, quase gritando. – Eu penso sim. Qual é? Não pode me dar um voto de confiança? O cara de quase dois metros de altura pedindo confiança? Sinceramente, eu não esperava que eu entraria nesse tipo de situação. Nunca. – Beleza – Eu falei e novamente e o bobão sorriu. Como se cada positividade minha fosse uma vitória pra ele. – Dez minutos. – Não vai se arrepender. – Na verdade eu já me arrependi, desde aquele fatídico dia. Quando chegamos a mesa ele puxou a cadeira. Gesto cavalheiro ou manipulação? Por hora ficarei com a segunda opção. – Você não bebe? – Não, não. Ele se sentou e deslizou o copo de suco até mim. – É de laranja – Falou e eu olhei para o copo. – Não tem veneno. – Não... Não pensei que tivesse. – Você está diferente daquele dia – Ele falou e voltei a olhar pra ele, que agora se inclinava sobre a mesa. – Mas achei legal. – Vi razoável ao meu normal. Ele gargalhou. – Garota, não vou te fazer algum m*l a você, na verdade essa roupa não vai me espantar para longe de você. Tenho meus motivos pra estar aqui. Eu olhei de cara feia pra ele. – Não tem nada de melhor pra fazer? – Comer batatas – Ele falou, mas não pegou uma batata que fosse. – Mas antes eu preciso fazer algo. – Só falta me dizer que é orar em uma igreja. – Não Camila, não é isso. – O que levou um cara como você a me ajudar e estar fazer esse papelão agora? – Sou motivado a curiosidade. – Só por isso? Olha pra você, seu estilo de roupa – O sorriso que estava no rosto dele sumiu. – Não banque o esperto comigo, eu não quero estar aqui, quero levantar e ir embora, embora daqui e nunca mais te ver. Falei de uma vez o que estava engasgado dentro de mim sobre ele. Ele ficou olhando pra mim, eu olhei pra ele, bem nos olhos, nos fundos. Só para identificar algo para o derrotar definitivamente. Só que ele voltou a sorrir e a se inclinar ainda mais até mim. Por que ele estava sorrindo pra mim? – Camila, você só vai levantar dessa mesa depois dos dez minutos, durante esse tempo você é minha. Senti o arrepio vindo do fundo. Era uma desgraça e eu não sabia o que fazer. Literalmente eu me enfiei em um péssimo lugar.
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