Segunda-feira – Antes do Expediente

1299 Words
Patrick A segunda-feira amanheceu com cara de ressaca emocional. Dormi m*l, acordei cedo e passei longos minutos encarando o espelho com uma gravata na mão. Vesti. Tirei. Vesti de novo. Suspirei. O botão da camisa parecia mais apertado que o normal. E não era a costura — era o incômodo aqui dentro. Um nó formado entre o desejo, o receio e… a lembrança dela. Lana. O nome dela martelava silencioso, mas constante. Como batida de tambor em ritual antigo. Passei perfume. Dois borrifos a mais que o necessário. Fui paro escritório tentando não lembrar da saída de crochê grudada no corpo dela. Não lembrar das gotas descendo pela nuca. Do sorriso contido. Do “bom dia, Sr. Patrick” que já estava gravado no meu subconsciente. Cheguei mais cedo que o habitual. Abri as janelas da minha sala para o ar circular. Mas o ar não circulava. Estava carregado. Logo depois, ouvi passos no corredor. Era Louis. Entrou assobiando, terno claro, cabelo bagunçado, expressão de quem tinha dormido feito um anjo. — Alguém está animado — comentei. — Dormi com a imagem da ruiva nos sonhos — ele respondeu, jogando a pasta sobre o sofá. — E acordei decidido: essa semana eu dou um jeito de ficar a sós com a Nice. Nem que seja para convidar ela pra tomar um sorvete na esquina da faculdade dela. Revirei os olhos, mas não consegui conter o sorriso. Era bom ver meu irmão empolgado com algo real — ou melhor, com alguém real. Antes que eu dissesse qualquer coisa, o celular dele vibrou. E em seguida, o meu também. Harry. Mensagem no grupo dos três: Harry: Alguém tem o número da Lena? Estou querendo marcar um café com ela. Um inocente, juro. Louis: Inocente? Você? Patrick: Esquece. Pede para Pathy, ela que faz a ponte. Harry: Tarde demais. Já pedi. Balancei a cabeça. A Pathy não ia dar esse número tão fácil. Ou ia? Com ela, nunca se sabia. Louis se jogou no sofá da minha sala com o pé sobre o braço da poltrona. — Sabe o que é isso, mano? Sabe o nome disso que a gente tá sentindo? — Medo de compromisso? — Não — ele disse, apontando pra mim com um sorriso sacana. — Encantamento. Daquele tipo que a gente só sente uma ou duas vezes na vida. Eu não respondi. Porque, no fundo, eu sabia. O que eu sentia por Lana não era apenas atração. Era um começo de alguma coisa. E se eu deixasse... ia crescer. Lana A semana começou com o céu limpo e a alma em tempestade. Coloquei minha roupa mais neutra. Calça social preta, blusa branca de botões, r**o de cavalo firme. Maquiagem leve, perfume suave. A ideia era passar despercebida. Disfarçar o que queimava aqui dentro desde sábado. Mas era inútil. Desde a noite na casa da Pathy, algo havia mudado. E eu sabia disso com cada célula do meu corpo. Cheguei no prédio com dez minutos de antecedência, como sempre. Passei pela portaria com um sorriso para o Sr. Antônio, entrei no elevador e respirei fundo antes que as portas se abrissem no andar da presidência. Segurei firmemente a bolsa e fui direto para minha mesa. Tudo em ordem. Até que ouvi a voz dele. — Lana, pode vir até aqui um minuto? Virei devagar. Ele estava na porta da sala de reuniões, camisa branca impecável, mangas dobradas até os antebraços, gravata preta frouxa. O relógio prateado no pulso e aquele olhar… aquele olhar que dizia tudo que ele não tinha coragem de pronunciar. — Claro, Sr. Patrick. Entrei. A sala estava em silêncio. Ele fez sinal para que eu fechasse a porta. Fechei. Ele ficou parado ao lado da mesa central, os dedos tocando levemente a borda, como se aquilo o ajudasse a manter o controle. — Só queria confirmar se recebeu os relatórios de sexta à tarde. Te enviei no e-mail pessoal por segurança. — A voz dele soava calma, mas havia algo nela... algo tenso, contido. — Recebi sim. Estão todos organizados. Posso trazer impressos, se preferir. — Não, não precisa. Eu só queria confirmar mesmo. Silêncio. Meu coração batia tão alto que eu podia ouvir. Ele deu um leve passo à frente, depois pareceu se arrepender e recuou discretamente. Os olhos dele encontraram os meus. E não fugiram. — Como foi o seu fim de semana? Demorei um segundo a responder. — Foi, leve. Um sorriso apareceu no canto da boca dele. Quase um deboche. Quase ternura. — Imagino que sim. — E o seu? — perguntei, devolvendo a pergunta mais por educação do que por coragem. Ele soltou um suspiro leve, desviando o olhar por um instante. — Inesquecível. Silêncio de novo. Fiquei mais um segundo ali, depois recuei um passo. — Se precisar de mais alguma coisa, estarei na minha mesa. — Lana? Me virei para encontrá-lo. — Bom dia. — Ele disse, finalmente, mas como se aquela fosse a primeira coisa que realmente importava desde que entrei. — Bom dia, Sr. Patrick — respondi. E saí. Mas o perfume dele ficou. E o olhar também. O ambiente da empresa naquela manhã de segunda parecia o mesmo de sempre... para quem olhasse de fora. As mesmas pastas, as mesmas reuniões, os mesmos ruídos de impressora, telefone tocando, salto no piso polido, vozes murmuradas em reuniões. Mas para quem sabia onde olhar… O cenário era outro. Na sala de reuniões, Patrick estava concentrado numa apresentação com Louis ao lado, enquanto Lana passava os slides com precisão. Ela mantinha a postura impecável, a voz firme, os olhos sempre no projetor — mas evitava os olhos dele. E ele notava. Cada segundo em que ela desviava o olhar. Cada vez que seus dedos quase se tocavam ao passar uma caneta. Quando Lana colocou o copo de água na frente dele, seus dedos roçaram os dele. Leve. Quase sem querer. Mas suficiente. Patrick segurou o copo com firmeza, como se tentasse se ancorar em alguma coisa. — Obrigado — disse baixo, rouco. Lana apenas assentiu e voltou para o notebook, tentando manter o foco. Mas o cheiro do perfume dele — amadeirado com um toque de almíscar — flutuava no ar, e seus sentidos estavam em alerta. A cada passo perto dele, algo dentro dela se retorcia. Uma mistura de ansiedade e desejo. De medo… e vontade. Na hora do almoço, o clima não melhorou. Harry apareceu na sala de recepção com um sorriso leve e as mãos no bolso. — Oi, Lena. Ela levantou os olhos do computador, surpresa. — Oi, Harry. — Queria saber se você topa almoçar comigo hoje. Só um lanche, papo leve. Sem contratos, sem Pathy de vela. Lena hesitou por um segundo. Depois riu. — Pode ser. — Sério? — ele piscou. — Vai me deixar pagar um sanduíche pra você? — Desde que não venha com promoção “namora comigo e leve um sócio grátis”. — Sem promoções hoje. Só eu e você. Prometo. No final do expediente, Louis passou pela portaria da faculdade onde sabia que Nice estudava. Parou o carro. Encostou. Ela saiu pelo portão de mochila no ombro e os cabelos preso num coque bagunçado. — Esperando alguém, playboy? — ela perguntou, já o reconhecendo com um sorrisinho. — Esperando um furacão ruivo que me roubou o sono — ele respondeu, com um brilho nos olhos. Nice riu. — Vai querer carona? — Se a motorista for você, eu só entro com cinto de segurança e coração na mão. — i****a. — Mas teu i****a favorito, vai por mim. E no meio de tudo isso, Patrick observava Lana da sua sala. Ela mexia nos relatórios com calma. Disfarçava bem. Mas ele via. Ela estava ali. E ele estava cada vez mais perto de perder o controle.
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