Lana acordou antes do despertador tocar. Ainda estava escuro lá fora, mas seu coração batia em ritmo próprio, como se soubesse que aquele dia não seria apenas mais uma segunda-feira qualquer.
Levantou-se devagar, tentando não acordar Lena, que murmurava algo em sonho do outro lado do quarto. No silêncio da casa, caminhou até o banheiro e tomou um banho demorado, deixando a água quente relaxar seus músculos e aquecer os pensamentos ainda em turbilhão.
Quando voltou ao quarto, já com a toalha presa no corpo, o céu começava a clarear, e uma leve brisa entrava pela janela entreaberta. Ela abriu o guarda-roupa e tirou cuidadosamente o conjunto que havia separado no sábado, quando decidiu que era hora de vestir não só roupas mais sóbrias, mas também uma nova versão de si mesma.
Vestiu a saia lápis em tom masala, de corte impecável, e combinou com a blusa branca de tecido leve, o blazer do mesmo tom da saia, bem estruturado. Prendeu os cabelos em um coque elegante e firme, deixando apenas um fio solto que caía suavemente sobre a lateral do rosto.
Finalizou o visual com sapatos e bolsa pretos, brincos discretos de pérola e uma maquiagem leve, apenas um batom com brilho rosado, rímel e uma sombra suave cor de champanhe.
Ao se olhar no espelho, suspirou.
— É hoje — murmurou para si mesma, com a sensação de que algo estava prestes a mudar.
Desceu para a cozinha e encontrou a mãe preparando café. Francisco já estava sentado, lendo as notícias no celular, enquanto Nisse e Lena ainda não haviam acordado.
— Bom dia, filha — disse Tereza com um sorriso, ao notar o look sofisticado. — Hoje tem reunião de diretoria?
— Não... mas é uma segunda-feira importante — respondeu, servindo-se de uma xícara de café.
Francisco levantou os olhos e observou a filha por um instante.
— Está linda, minha menina. Estou orgulhoso de você, Lana.
Ela sorriu com os olhos marejando e foi até ele, depositando um beijo em sua cabeça.
— Obrigada, pai. Por tudo.
Pouco depois, ela pegou o carro e saiu. O trânsito de Boston começava a se formar, mas ela foi ouvindo música leve e repetindo para si mesma que tudo ficaria bem.
Na cobertura, Patrick já estava acordado havia horas.
Havia malhado na academia do prédio antes do amanhecer e tomado um banho frio. Seu terno azul-marinho estava pronto sobre a cama, e o relógio marcava pouco depois das sete quando ele desceu para o carro.
— Para onde, senhor MacAllister? — perguntou o motorista.
— Para a sede. E depois para o setor de manutenção. Preciso conversar com o senhor Francisco — respondeu, olhando pela janela.
Enquanto o carro cruzava a cidade, Patrick revisava mentalmente o que precisava fazer: falar com o pai da Lana, reunir os acionistas e diretores para um comunicado formal, e encontrar a forma mais ética e correta de lidar com o envolvimento que, agora, já não era mais apenas uma tensão — era um compromisso nascendo.
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Lana chegou na empresa pouco antes das oito. Passou pela portaria cumprimentando os colegas e subiu para o seu andar com passos firmes. Notou alguns olhares, como sempre acontecia desde que seu estilo mais elegante começara a chamar atenção, mas não deu importância.
Ao chegar à sala de Patrick, foi surpreendida com uma pequena caixa sobre a mesa dela.
Um laço discreto envolvia o pacote preto com detalhes dourados. Havia um bilhete escrito à mão:
“Para um novo começo. – P”
Ela abriu e encontrou uma caneta-tinteiro luxuosa, com o nome “Lana G. Alves” gravado discretamente na lateral. Ao lado, um pequeno frasco de tinta azul-marinho e um lenço de seda delicadamente dobrado.
Ela levou a mão ao peito, tocada.
— Bom dia — disse Patrick ao entrar na sala alguns minutos depois, vestindo um terno impecável e com a expressão serena.
Lana se virou para ele, ainda segurando a caneta.
— Isso é... é maravilhoso. Mas você não precisava...
— Precisei, sim. Eu quis. E você merece. — Ele se aproximou, sem invadir seu espaço. — Eu vou resolver tudo da forma correta, como te prometi. Só preciso que confie em mim.
Ela assentiu, com os olhos brilhando.
— Eu confio.
— Ótimo. Eu tenho uma conversa com o seu pai antes da reunião do conselho. Depois disso, se você quiser... saímos para jantar.
— Eu vou querer — respondeu, com um sorriso contido.
Ele sorriu de volta, e por um segundo, ambos ficaram ali, apenas se olhando, como se o resto do mundo tivesse deixado de existir.
No setor de manutenção, Francisco ajeitava as ferramentas na bancada quando ouviu passos atrás de si.
Virou-se e deu de cara com Patrick, impecável em seu terno, mas com um olhar respeitoso.
— Bom dia, senhor Francisco.
— Patrick. — O tom foi cordial, mas com a firmeza de um pai atento.
— Posso falar com o senhor por alguns minutos?
Francisco indicou uma sala de apoio, e os dois entraram. Patrick esperou que estivessem a sós antes de falar.
— Vim até aqui como homem. Não como presidente da empresa. E como pai, imagino que o senhor me entenda.
Francisco cruzou os braços.
— Continue.
— Eu me apaixonei pela sua filha, senhor Francisco. E não quero esconder isso. Nem colocar ela em posição delicada. Vou comunicar ao conselho da empresa hoje mesmo que estou me afastando temporariamente da supervisão direta dela. E quero pedir sua bênção para convidá-la a sair... oficialmente.
O silêncio durou longos segundos. Francisco analisou o jovem à sua frente, buscando qualquer traço de jogo ou falsidade.
Não encontrou.
— Você sabe que a Lana é minha vida. Eu confiei essa menina a essa empresa antes mesmo dela andar. E se ela sair magoada, Patrick, quem vai ter que enfrentar um homem com sangue nordestino e honra de pai... é você.
Patrick assentiu com firmeza.
— Eu não a faria sofrer. Nunca. Não intencionalmente. E se um dia falhar... estarei aqui para me responsabilizar. Mas, com a sua permissão, quero tentar fazê-la feliz.
Francisco respirou fundo. E então, com um leve aceno de cabeça, respondeu:
— Então vá. Mas vá direito.
Patrick sorriu, aliviado.
— Obrigado, senhor Francisco.