###O APRENDIZADO

1547 Words
A mãe olhou com ternura para a filha e, percebendo o brilho de curiosidade nos olhos dela, sorriu e começou a explicar: — Maris… quando Allan Kardec perguntou aos Espíritos Superiores: “Deus é infinito ou limitado?”, a resposta foi direta, porém profunda: “Infinito em todas as Suas perfeições.” Ela tocou de leve no coração da filha, como se plantasse uma semente: — Mas o que significa isso na prática? Que Deus não tem princípio e nem fim. Ele não é como nós, que nascemos e morremos. Ele não é como o tempo, que corre em linha reta. Deus é. Ele sempre foi e sempre será. E essa infinitude se manifesta em tudo: no amor, na justiça, na bondade, na sabedoria, na misericórdia, na criação. Maris escutava, encantada. A mãe prosseguiu: — Deus é infinito em justiça, o que quer dizer que Ele vê além das aparências. Às vezes, na Terra, o ser humano sofre e pensa: “Deus se esqueceu de mim.” Mas, minha filha, o que a criatura vê como dor, Deus vê como lição, como redenção, como crescimento. — Mas se Deus é tão justo… por que permite tanta maldade? — Maris interrompeu, com a voz trêmula, e a mãe a olhou com carinho, como se já esperasse por aquela pergunta. — Porque Deus, sendo infinito em justiça e amor, também é infinito em liberdade de escolha. Ele permite que os Seus filhos aprendam com o uso do livre-arbítrio. Deus não é um tirano que obriga. Ele orienta, educa e aguarda. Ele oferece caminhos — a escolha é nossa. Cada um é responsável pela estrada que trilha. Mas jamais estamos sem amparo. Ela fez uma pausa para que Maris absorvesse. — E mais… Ele é infinito em misericórdia, porque mesmo o mais endurecido dos pecadores, ao se arrepender de coração sincero, é acolhido de volta como o filho pródigo. Ele é Pai. Pai verdadeiro, que corrige com amor e espera com paciência. Não há abismo tão profundo que o amor d’Ele não alcance. Maris deixou as lágrimas rolarem. — Então quer dizer que… mesmo eu, com tudo que fiz, Ele me ama? — Ele nunca deixou de amar você. Desde o seu primeiro erro, até o último pensamento de arrependimento, Ele permaneceu amando. Não como um humano ama — com condições e expectativas. Mas com amor divino, absoluto e puro. A mãe prosseguiu, como quem profetiza: — E saber que Deus é infinito muda tudo. Porque, se Ele fosse limitado, poderia não ouvir todas as preces. Poderia se cansar de nós. Poderia falhar. Mas Ele não falha. Ele nunca se ausenta. Quando sentimos Sua ausência, é porque nós nos afastamos d’Ele. Mas Ele… Ele nunca se move. É sempre nós que desviamos o olhar. Ela então completou com uma frase suave, mas poderosa: — Deus é a origem, o meio e o fim de tudo. Saber disso é o primeiro passo para amar. E amar é o primeiro passo para evoluir. Maris sussurrou: — Eu nunca mais vou me esquecer disso… Deus é infinito… em amor. A mãe da Maris olhou para ela com ternura, como quem se preparava para revelar algo sagrado. — Minha filha... você já percebeu que muitos na Terra imaginam Deus como um velho senhor de barbas brancas, sentado num trono entre nuvens? Isso é apenas uma forma infantil e limitada de tentar entender o que está além da compreensão humana. Ela tocou o coração da filha e disse com firmeza: — Deus não tem forma humana. Deus não é uma figura física. Deus é espírito puro, supremo, absoluto e imaterial. É a inteligência suprema, a causa primária de todas as coisas. Esse é o conceito mais claro e direto da pergunta número 1 de O Livro dos Espíritos. Maris arregalou os olhos. — Então... Deus é uma energia? — Mais do que isso — respondeu a mãe. — Ele é a própria origem de toda energia. Ele é o plasma divino, o sopro vital que movimenta o universo inteiro. Deus não é visível nem mensurável, mas se manifesta em tudo que existe. Desde a formação das estrelas até o nascimento de uma flor. Desde o milagre da vida até a justiça que rege o destino de todos os seres. Ela fez uma pausa e apontou para o alto: — Aqui no plano espiritual, aprendemos que Deus é o Espírito dos Espíritos. Ele não foi criado, porque sempre existiu. Tudo vem d’Ele. Tudo retorna a Ele. Ele é a inteligência por trás da ordem do universo, da harmonia das leis naturais, do equilíbrio das galáxias, do pulsar de cada vida. Ele é a causa sem causa, o princípio sem origem. — Mas por que é tão difícil entender isso na Terra, mamãe? — perguntou Maris, visivelmente emocionada. A mãe sorriu com brandura. — Porque a mente humana ainda está aprendendo a sair da matéria para o espírito. Muitos ainda precisam visualizar para crer. Mas Deus é invisível aos olhos, porém perceptível ao coração. A verdadeira fé não é acreditar com os olhos — é sentir a presença divina em tudo. — Então... Deus é amor? — Sim. Deus é amor. Mas também é justiça, sabedoria, paciência, perfeição. Deus não se ira como os homens, não castiga como os juízes da Terra. Deus educa. Deus corrige com amor. Deus espera pelo tempo de cada espírito. Ele não pune, mas ensina. Porque todo castigo, na verdade, é apenas a consequência das escolhas de quem ainda não aprendeu a amar. Ela respirou fundo e concluiu: — E o mais bonito de tudo, filha... é que essa centelha divina está em nós. Cada espírito é uma faísca da luz de Deus. Por isso, quanto mais evoluímos, mais nos aproximamos d’Ele. A perfeição é nossa meta, porque viemos d’Ele e voltaremos a Ele, até nos tornarmos espíritos puros — imagem e semelhança da sua essência. Maris sorriu com lágrimas nos olhos, tocando o próprio peito. — Então, Ele sempre esteve aqui dentro? A mãe sorriu de volta. — Sempre, minha filha. Sempre. A mãe da Maris respirou fundo, olhando para o horizonte dourado do plano espiritual, e disse: — Veja bem, minha filha… na Terra, a maioria das pessoas acredita que a existência se resume ao corpo de carne. Acham que o universo é feito apenas para os humanos. Que fora da Terra só há o vazio. Mas isso é ilusão, limitação do olhar materialista. A verdade é muito maior. A Criação de Deus não tem fronteiras. Ela segurou com carinho a mão da filha e continuou: — Quando alguém na Terra vê uma luz no céu, uma nave, um objeto estranho… logo dizem: “É alienígena!”. E sim, são alienígenas — porque são de outros mundos. Mas… e nós? Não somos alienígenas para eles também? Quem disse que o Espírito só pode habitar corpos humanos e mundos terrenos? Maris refletia em silêncio. — Se Deus é o sopro da vida, — continuou a mãe — se Ele é energia criadora, Ele não criaria só um tipo de vida, num único planeta, com um único modelo evolutivo. O mesmo sopro que deu origem à vida na Terra, também alimentou outras galáxias, outros sistemas, outros mundos. Jesus, nosso Mestre Maior, disse claramente: “Na casa de meu Pai há muitas moradas.” E isso não é poesia. Isso é verdade. Maris franziu a testa, curiosa. — Mamãe… o que Ele quis dizer exatamente com isso? A mãe sorriu com serenidade: — “Casa do Pai” é o universo. “Muitas moradas” são os inúmeros mundos habitados, espalhados pela Criação. Alguns são como a Terra — mundos de provas e expiações, onde os espíritos estão em aprendizado, tropeçando, caindo e se reerguendo. Outros já são mundos de regeneração, onde predomina a paz, o perdão, a fraternidade. E ainda existem os mundos felizes e puros, onde os espíritos vivem em comunhão com Deus. E também há mundos inferiores, mais atrasados que a Terra, onde o sofrimento é ainda mais denso. Maris arregalou os olhos. — Então... existem muitos tipos de humanidade? — Sim, filha. Espíritos habitando corpos e dimensões que se adaptam ao seu grau de evolução. Alguns em corpos de matéria densa, como o nosso era. Outros em corpos sutis, feitos de luz, fluido, energia. E todos esses mundos têm leis espirituais em comum, pois o Pai é um só, mas a forma de viver e aprender varia conforme o progresso do espírito. Ela tocou o peito da filha e disse, com voz firme: — Você ainda vai aprender muito mais. E um dia, se Deus permitir, poderá ajudar outros irmãos a compreenderem que o universo não gira ao redor do homem. A Terra é apenas uma escola entre tantas. E ninguém é o centro da Criação — apenas um aluno, entre bilhões de outros. Maris apertou a mão da mãe e murmurou, emocionada: — Isso me dá um alívio, mamãe. Porque por muito tempo eu achei que estávamos sozinhos. Agora eu vejo que Deus está em tudo. Que a vida é imensa. Que o amor é o verdadeiro elo entre todos os mundos. A mãe sorriu, tocando levemente a testa da filha. — Isso mesmo. O amor é a língua universal. E onde há amor, há Deus.
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