As meninas saíram da piscina com os cabelos pingando e a pele brilhando sob o sol do fim de tarde. O riso delas era leve, solto, como quem não tem pressa de que o tempo corra.
Lana caminhava até a espreguiçadeira puxando a toalha dos ombros com os dedos longos. Os cabelos escorriam pelas costas como uma cortina de seda úmida.
Lena balançava os cabelos para trás enquanto secava o rosto com uma toalha bordada.
Nisse espremia os fios ruivos com as mãos, rindo de algo que Pathy disse.
Os rapazes estavam sentados, com copos gelados nas mãos, tentando disfarçar o impacto daquelas três visões molhadas e absolutamente reais.
Sem sucesso.
As meninas se acomodaram. Pathy, como boa anfitriã, pegou a bandeja de lanche que a mãe de Lana havia mandado para o lanche , Pathy levou até a mesinha lateral da varanda.
— Hora do café da tarde! Bolinhos de chuva, pão caseiro e suco natural. Mamãe mandou avisar que é para ninguém sair com fome daqui — disse, com orgulho.
— Dona Teresa é um tesouro — comentou Harry, pegando um bolinho e colocando dois de reserva no guardanapo.
Louis se adiantou e ajudou a distribuir os copos. Patrick manteve o olhar distante — ou pelo menos tentou.
Lana estendeu o copo com suco para ele.
— Quer?
— Quero. — Ele pegou, mas o toque dos dedos dela nos dele o deixou tenso por dentro. — Obrigado.
— De nada — ela respondeu, com aquele sorrisinho tímido que ele já não sabia mais se era charme ou naturalidade. Ou os dois.
Conversas leves se espalharam entre eles. Sorrisos discretos. Toques acidentais. Um empurrãozinho aqui, um elogio tímido ali.
Louis comentou algo engraçado sobre uma cliente que tentou agendar um jantar em troca de desconto na empresa.
Nice deu risada.
— Sério isso?
— Se não fosse o Harry gravando escondido, ninguém acreditava — Louis respondeu, provocando mais risadas.
A tarde foi escurecendo devagar. E o clima entre eles era outro. Havia algo suspenso no ar. Não era apenas desejo, não era só admiração. Era algo mais...
Nós sabíamos que algo estava começando ali.
Os olhares se cruzavam com mais intenção. O riso vinha com mais cuidado. A presença um do outro já não era casual. Era esperada.
Quase necessária.
Lana puxou a toalha para secar melhor os cabelos e, em um movimento automático, jogou os fios para trás.
Patrick observou.
Ficou em silêncio por um momento, encarando o nada.
Ou melhor — encarando tudo que estava nela.
Pathy, do outro lado, percebeu.
Olhou para ele.
Depois para a amiga
E deu um leve sorriso.
Mas Patrick não viu.
Estava preso naquele instante.
Naquela mulher que não fazia ideia da confusão que causava dentro dele.
“Ela é o meu problema... e eu quero esse problema pra mim.
Quero ou não quero? Não sei.
Mas vou ter que arranjar uma solução.”
O momento foi quebrado quando a mãe da Pathy veio até a varanda com uma nova jarra de suco, anunciando com doçura:
— Meninos, vocês ficam para o jantar?
— Hoje não, tia, obrigado — disse Patrick, levantando-se. — Já perturbamos demais. Mas obrigado, estava tudo maravilhoso.
— Agradeça à minha filha. E a essas meninas lindas — ela respondeu, sorrindo para as três.
Lana abaixou os olhos, tímida. Nice agradeceu, educada. Lena ajudava a recolher os copos.
Harry, Louis e Patrick se despediram com abraços leves, apertos de mão e promessas vagas de “ nos vemos por aí.”
Mas todos ali sabiam.
Não era a última vez.
Era só o começo.
O carro seguia pela avenida silenciosa. Nem o rádio estava ligado. Apenas o som abafado dos pneus no asfalto e a cidade se despedindo do fim de tarde pelas janelas.
Harry dirigia com uma expressão mais leve do que o normal, e Louis estava no banco de trás, com os braços cruzados atrás da cabeça, como quem carregava pensamentos no lugar do corpo.
Eu estava no banco do carona, quieto. Mas dentro da minha mente, havia um vendaval.
A imagem de Lana saindo da piscina, a água escorrendo pelas costas dela, os cabelos molhados grudando no pescoço…
O biquíni azul que parecia pintado à mão…
O sorriso leve, os dedos se cruzando quando me entregaram o copo…
A forma como ela jogou os cabelos para o alto antes de rir com a Pathy.
Era castigo.
Ou talvez, fosse o alerta de algo que eu já sabia:
Ela não era só mais uma garota bonita. Ela era a minha confusão preferida.
— Cara, — Louis quebrou o silêncio, rindo pelo nariz. — Eu estou ferrado.
Harry soltou um grunhido.
— Você? Eu estou pensando em pedir bênção para mãe da Lena se ela deixar eu levar a garota ao um encontro.
— Eu vou mudar — Louis decretou. — De verdade. Se a Nice piscar para mim de novo daquele jeito, eu viro vegetariano, católico e monogâmico na mesma semana.
Revirei os olhos, mas sorri de leve. No fundo, entendia o que eles estavam sentindo. A gente estava sob o mesmo efeito: encantamento súbito. Só que o meu parecia mais perigoso.
Porque ela trabalhava comigo.
Porque ela me fazia esquecer disso.
— Eu preciso manter distância... — falei, mais pra mim do que pra eles.
Louis se inclinou pra frente entre os bancos.
— Precisa? Ou quer?
— Querer eu não quero — confessei, sincero.
Harry deu uma risadinha, quase aliviado por me ver tão envolvido quanto eles.
— Então pronto. Resumindo , estamos os três ferrados. Mas é daquele jeito bom, sabe?
— Tipo queda livre com adrenalina? — Louis completou.
— Tipo casamento — Harry disse, fazendo drama, e todos rimos.
Mas logo o silêncio voltou.
Porque apesar das brincadeiras, havia algo mais denso pairando entre nós.
Nós sabiamos.
Aquela tarde tinha mudado tudo.
Lana
O sol já começava a se esconder atrás das árvores quando nos sentamos na área da varanda para secar os cabelos. A toalha ainda úmida enrolada no corpo, os pés descalços e a pele levemente dourada de sol e água.
Nice se espreguiçando como um gato molhado sobre a espreguiçadeira. Lena penteava os cabelos com os dedos, rindo de uma lembrança qualquer. Eu estava com o pensamento longe, mas o coração... perto demais de alguém que não devia.
Pathy chegou por trás e jogou a garrafa de água na mesa com um leve ploc, fazendo-nos virar ao mesmo tempo.
— E então? — ela soltou, cruzando os braços com aquele olhar de quem não ia deixar passar nada. — Vamos conversar sobre o elefante molhado na sala... ou melhor, na piscina?
— O quê? — Lena perguntou, rindo.
— Os três lobos enfeitiçados que acabaram de sair daqui como se tivessem visto a sereia do apocalipse — ela apontou para mim. — Você sabe que o Patrick não tirou os olhos de você, né?
— Pathy,— murmurei, tentando não sorrir, mas já sentindo as bochechas arderem.
— Lana, eu te conheço. Você fica com essa cara de paisagem, mas por dentro está gritando. Eu vi o jeito que ele te olhou. E vi o jeito que você evitou olhar de volta por tempo demais.
— Não aconteceu nada — respondi, tentando ser racional.
— Ainda — ela rebateu, certeira.
Lena se virou interessada.
— Sério mesmo que o Patrick tá assim por você?
— Eu não sei... — respondi. — Eu sinto... algo. É como se ele estivesse sempre em alerta comigo. Mas ele também é meu chefe. Eu não sei se isso é certo.
Nice riu com a língua entre os dentes.
— Certo ou não... eu sei que o Louis me olhou como se eu fosse sobremesa de restaurante cinco estrelas. E vou te dizer, se aquele homem vier com coragem, eu penso duas vezes antes de fugir.
Lena revirou os olhos.
— Ai, Nice.
— O quê? Ele é bonito, cheiroso, educado e tem aquele sorrisinho safado. Eu sou ruiva, mas não sou de gelo.
Lena finalmente soltou:
— O Harry me fez rir. Tipo, de verdade. E ele tem um jeito bobo, engraçado, que me desconcerta. Eu gostei. Só que ele é tão Harry. Tão "primo da Pathy que já ficou com meio mundo"
— Mas ele não ficou com você ainda — Pathy rebateu. — E pelo que eu vi, se depender do olhar dele hoje, ele só quer ficar com você.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Um silêncio cúmplice, contemplativo.
Lana então falou, baixinho:
— É como se algo tivesse começado hoje, né?
Pathy assentiu, olhando para o céu alaranjado.
— Não “como se”. Nós sabemos que algo está começando aqui. E nenhuma de vocês sai dessa ilesa.