O sol filtrava-se pelas cortinas bege do quarto. O aroma suave do café preparado por Lana preenchia o ar com um toque caseiro e amoroso. Patrick já estava de terno, ajustando os punhos da camisa diante do espelho, enquanto Lana, com a barriga levemente arredondada envolta por um vestido confortável, tomava um chá sentada à beira da cama.
— Amor… — ele disse, se virando para ela com um sorriso calmo — você vai ficar aqui hoje, certo? A arquiteta deve chegar logo.
— Vou sim — respondeu Lana, levantando-se com suavidade. — Já deixei o café preparado na mesa dela, e o caderno com as anotações do que eu pensei para o quartinho dos nossos bebês. Mas não se preocupe, eu não esqueci do que combinamos.
Patrick se aproximou, a expressão carinhosa e determinada.
— Amor… só reforçando: ela tem carta branca. Pode fazer tudo o que for necessário. Se for preciso trocar todo o projeto, ou pedir o melhor que a loja tiver, ela tem liberdade para isso. Não quero restrições quando se trata do bem-estar dos nossos filhos — ele disse, tocando de leve a barriga dela com os dedos. — E, principalmente, não esqueça de perguntar a ela sobre a comissão. Quanto ela recebe da loja, qual é o percentual. Nós vamos fazer o mesmo por nossa nova amiga.
Lana assentiu, emocionada com o tom sensível do marido.
— A Lisbeth vai receber essa comissão. Nem que seja por nós. Ela merece. Ela precisa. E eu não vou esquecer de nada disso, meu amor.
Patrick a puxou para um abraço firme, porém delicado.
— A vida colocou essa moça no nosso caminho por algum motivo. Se Deus nos deu tanto, por que não dividir um pouco com quem luta com dignidade?
Ela se aconchegou no peito dele por alguns segundos e respondeu com doçura:
— Você não é só o homem da minha vida. Você é o homem que me faz acreditar que o mundo ainda tem jeito.
Ele a beijou na testa.
— Qualquer coisa, me liga. Eu estarei no escritório, mas o celular fica comigo. Me atualize de tudo, combinado?
— Combinado.
Patrick saiu deixando o apartamento envolto por aquela paz discreta, que só os lares cheios de amor verdadeiro conseguem carregar. Lana respirou fundo, acariciou a barriga e murmurou:
— Vamos lá, meus amores. Hoje é dia de começar a sonhar com o quartinho de vocês.
A Arquiteta do Sonho
A campainha tocou pontualmente às nove da manhã. Lana, já com os cabelos presos num coque baixo e usando um vestido leve de algodão, caminhou até a porta e abriu com um sorriso gentil.
Do outro lado, estava uma mulher de seus cinquenta anos, cabelos grisalhos bem cuidados, óculos pendurados no colar, vestido em linho bege e um portfólio elegante nas mãos.
— Dona Lana? Que prazer imenso — disse a mulher, estendendo a mão com delicadeza. — Sou Cecí Rosenthal. A Lisbeth falou muito bem de você e do senhor Patrick.
— Seja muito bem-vinda, Cecí. Entre, por favor.
A arquiteta entrou, admirando com discrição o apartamento claro e aconchegante. Ao avistar a barriga já bem saliente de Lana, seus olhos se iluminaram.
— Que bênção maravilhosa! Qual é o seu primeiro filho?
— Na verdade… são três — Lana respondeu, sorrindo tímida.
— Trigêmeos?! — Cecí levou a mão ao peito, encantada. — Que dádiva! Meus parabéns, minha querida. Meus dois filhos já são adultos, mas como é bom ouvir uma notícia dessas logo cedo.
Lana a conduziu até a sala, onde havia deixado uma jarra com água e algumas frutas cortadas. Cecília depositou o portfólio sobre a mesa de centro e se sentou com serenidade.
— A Lisbeth me falou que vocês procuravam algo personalizado, e o que fica exposto na loja, infelizmente, é apenas o básico. Eu trouxe alguns dos meus últimos projetos e referências exclusivas — explicou, abrindo o portfólio.
Lana folheou com atenção. Os olhos brilhavam a cada proposta de layout, paleta de cores suaves, móveis funcionais e detalhes encantadores.
— Cecíl, seu trabalho é maravilhoso. De verdade. Eu estou apaixonada. Agora, me diga com sinceridade em quanto tempo você consegue montar esse quarto?
— Trinta dias. Se me deixarem trabalhar com liberdade, em trinta dias ele estará entregue, com tudo que precisa.
Lana assentiu, aliviada.
— É porque, como eu disse, são trigêmeos, e a médica já nos alertou que eles irão nascer prematuros. Provavelmente com a imunidade baixa. Então, por favor, evite qualquer material que possa provocar alergia.
— Compreendido. Nada de tapetes felpudos, nem cortinas de tecido pesado. Vamos trabalhar com persianas de fácil higienização, móveis com pintura atóxica e tecido hipoalergênico em tudo que for possível. Pode confiar.
Lana sorriu, sentindo-se segura.
— E agora, Cecí é uma questão que o Patrick me pediu para conversar com você.
— Claro, querida.
— Como você foi indicada pela Lisbeth, ele gostaria de saber: se fosse ela a responsável pela venda, ou se fosse ela que continuasse como nossa vendedora, quanto ela receberia de comissão?
A arquiteta ajeitou os óculos no rosto e respondeu com sinceridade:
— Essa parte depende de cada loja, minha filha. No Brasil, por exemplo, a minha filha também é arquiteta, e ela costuma receber cerca de 3% de RT — é o chamado retorno técnico — quando indica uma loja. Em alguns casos, a loja paga até 5%, dependendo do volume da compra. Mas quem define isso é o dono do estabelecimento. Nós arquitetos não temos autonomia para interferir nisso.
— Entendo. E você sabe me dizer quanto você recebe nessa loja em específico?
— Nesta loja, recebo 5% pelas compras feitas através do projeto que eu executo. Ou seja, tudo que for comprado para o quarto dos bebês, eu receberei 5% de comissão. A Lisbeth, como vendedora, não recebe se não for ela quem efetuar diretamente a venda. Por isso, se o projeto é aprovado com a arquiteta, essa comissão vai direto para mim.
Lana pegou o celular e anotou tudo, como combinado. Sorriu e agradeceu com carinho:
— Muito obrigada, Cecí. Pode ficar tranquila. O Patrick e eu vamos cuidar disso. E você tem carta branca para trabalhar como desejar. Vamos confiar no seu talento.
A arquiteta sorriu, lisonjeada.
— Pode deixar, minha querida. E já que tenho liberdade… o quartinho dos seus filhos vai ser inesquecível.