####O Despertar do Amor Materno

1265 Words
Cinco horas da manhã. Britney despertou sobressaltada, o coração acelerado como se tivesse perdido algo precioso. — Eu preciso tirar o leite! Eu tenho que alimentar meus filhos! — exclamou num sussurro agitado, erguendo-se da poltrona ao lado do bercinho térmico improvisado. Helena, que já havia notado seus movimentos inquietos, sorriu com ternura e calmaria. — Calma, meu bem… eles acabaram de se alimentar — disse em tom reconfortante. — Mas já que você acordou... o que você acha de aquecer os seus pequenos com o seu calor? Colocá-los junto ao peito, ouvir o seu coração, deixar que eles se lembrem da sua presença, como era no útero? Eles sentem tudo, sabiam? Os olhos de Britney brilharam com a sugestão. — Eu posso fazer isso? — perguntou com a voz ainda embargada pela emoção. — Não só pode… como deve — respondeu Helena, se aproximando com delicadeza. — Agora você tem alguém ao seu lado que tem prática, que conhece as técnicas. Nós vamos, sempre que possível, fazer isso. Eles vão crescer sentindo o seu afeto, e isso também os cura, minha filha. Amor também é medicina. Helena se dirigiu até a incubadora onde os gêmeos descansavam e, com mãos firmes e cuidadosas, preparou o espaço no colo da mãe. — Pronto, vamos fazer o método canguru. Eles vão escutar o seu coração batendo, sentir a sua pele… vão se lembrar que estão protegidos. E depois, quando eu colocá-los na redinha dentro da incubadora, eles vão continuar se sentindo acolhidos, porque estarão envolvidos por algo que simula o seu útero. Britney já chorava antes mesmo de segurá-los. — Meu Deus… por que não fizeram isso antes? É tão... é tão reconfortante… — Porque, antes, minha filha, você estava sobrecarregada. E todas as enfermeiras da UTI Neonatal, por mais que queiram, não têm condições de fazer isso com todas as mães o tempo todo. Mas agora, depois da visita da psicóloga, muita coisa mudou. E, como seu pai me contratou só para cuidar de vocês, eu sou, oficialmente, a enfermeira dos seus filhos. Exclusivamente. Só sua e deles. Britney sorriu entre as lágrimas, emocionada. — Obrigada. Obrigada por existir… — Agradeça ao seu pai, ele foi um anjo nisso tudo. Como dissemos ontem à noite, você vai ver, meus amores... com tudo isso, eles vão se recuperar mais rápido. E antes de você perceber, já estarão prontos para ir para casa com você. Britney fechou os olhos, acariciando as costas delicadas de seus filhos encostados ao peito. — Eu espero estar acordada quando o papai vier hoje. Quero dar um abraço nele. Grande. E dizer o quanto eu o amo... o quanto eu agradeço tudo que ele fez por mim. Ele não me desamparou. Ele não me criticou. Não me julgou. Tudo que ele me prometeu… ele cumpriu. Tudo. Helena se aproximou, repousando uma mão no ombro dela. — Seu pai é um homem de palavra. Um grande homem. Houve um breve silêncio, até Britney perguntar: — A minha mãe... ela já veio aqui? Helena hesitou. — Meu anjo, eu não sei. Acredito que sim... vi uma senhora entrando, mas não posso dizer se era sua mãe. Eu estava com os bebês na UTI na hora. Pode ser que sim, pode ser que não. — Tá bom... — murmurou Britney, acariciando as testinhas dos bebês. — Eu só queria saber… — Agora vamos fazer como combinamos. Eles vão ficar com você mais um tempinho, e depois eu os coloco na redinha. Assim, mesmo quando não estiverem no seu colo, eles ainda vão se sentir abraçados por você. Com emoção contida, Britney assentiu. — Sim, eu vou fazer isso. Durante quase uma hora, Britney permaneceu ali, os filhos aninhados em seu colo, absorvendo cada segundo daquele calor de mãe. Chorou baixinho, sorriu em silêncio, acariciou cada pedacinho daquelas vidas que ela prometeu proteger. — Não chore muito — disse Helena com voz suave. — Eles sentem. Vão pensar que você está triste. E isso os inquieta. Eles sentem tudo. Mas agora... agora está tudo bem. Às seis horas em ponto, Helena pegou os bebês com todo cuidado e os colocou na redinha térmica de transição dentro da incubadora. — Agora vá tomar seu banho, escove os dentes, vista algo leve e bonito. Sua irmã do coração está chegando às sete com seu café. E o seu dia vai começar do jeito que você merece. Britney assentiu com lágrimas nos olhos, mas com uma paz nova no peito. Alegria no Café da Manhã Sete horas da manhã. Lena entrou no quarto irradiando energia, carregando uma sacola com o cheirinho irresistível de café fresco, pão na chapa e suco natural. — Bom diaaaaa! — cantarolou com voz brincalhona. E assim que viu Britney sentada na poltrona, de cabelos presos, rosto lavado e olhos serenos, soltou: — Meu Deus, o que uma boa noite de sono não faz?! Aquela bruxa que eu vi ontem aqui de manhã, com a olheira batendo no queixo, descabelada, fedendo a leite azedo... hoje virou uma fada! — e colocou a mão no peito, dramatizando. — Eu estou emocionada! Britney caiu na risada, sentindo o coração mais leve que nos dias anteriores. Helena, que preparava a troca dos bebês, completou com um sorriso nos lábios: — Pois é… a bruxa dormiu, e a magia aconteceu! Aqui temos agora uma mamãe-fada, descansada e pronta para conquistar o mundo — brincou. — Tudo graças ao amor, à ajuda e a um bom travesseiro. Britney assentiu e disse, com os olhos brilhando: — Obrigada, dona Helena… eu espero a senhora à noite, viu? Porque os nossos diálogos são terapêuticos. Helena fingiu uma careta cômica. — Ah! Quer dizer que comigo o diálogo não é bom? Lena arqueou a sobrancelha e entrou na provocação: — Ihhh, caiu a ficha, hein? Vai ter treta de mãe contra irmã do coração! Rindo, Britney apaziguou: — Claro que é bom, mulher! Você ainda não é mãe, então não sabe os conselhos que ela me deu… Você sabia que ela colocou os meus bebês no meu peito e eles ficaram uma hora comigo, como num ninho de canguru? — Mentira! — Lena exclamou, sentando-se ao lado. — Você vai me contar isso tudinho, direitinho, detalhe por detalhe. Britney estendeu os braços e puxou Helena para um abraço. — Pode ir descansar, dona Helena. A senhora merece. A senhora está sendo minha mãe por empréstimo… e eu agradeço a Deus por isso. Helena sorriu emocionada, acariciando o cabelo de Britney como uma avó faria. — Eu volto à noite, minha filha. Sempre estarei aqui pra você e para essas duas bênçãos. Fiquem bem. Ela deu um beijo carinhoso na testa de Britney, outro nos cabelos de Lena e, antes de sair, deixou as instruções: — Ah, Lena… se a Britney quiser fazer novamente o método canguru e você não souber exatamente como fazer, vá até a UTI ao lado e peça para a enfermeira de plantão vir ajudar. E, depois de uma hora, se ela ainda não tiver vindo retirar os bebês, volte lá e peça que os coloque na redinha, combinado? Lena fez continência brincando: — Pode deixar! Se é para a felicidade geral da Britney e dos meus sobrinhos honorários, eu estarei aqui, em posição de combate e cumprimento de ordens! Vá com Deus, fada da madrugada! Helena soltou uma gargalhada leve e saiu, deixando no ar a suavidade de sua presença e o perfume do cuidado. E ali, entre risadas e pão na chapa, começava um novo dia para Britney — com menos peso no peito e mais amor no coração.
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