###O Alimento do Espírito

1020 Words
Maris segurava o livro como quem sustentava um tesouro sagrado. Seus olhos percorriam as linhas da segunda pergunta, e ela a leu em voz alta, com a entonação de quem estava se dirigindo à própria alma. — “O infinito existiu desde toda a eternidade, como Deus, ou é obra sua?” Ela fechou o livro suavemente e olhou para a mãe, com humildade nos olhos. — Mamãe... a senhora pode me explicar essa também? Eu acredito que a senhora vai ter que me explicar tudo... até que eu consiga entender. Estou percebendo que não sei nada. Eu só... vivi. Só existi. Mas agora eu quero aprender a viver com sentido. A mãe sorriu, serena, e segurou a mão da filha com firmeza e ternura. — Esse, minha filha, é o verdadeiro alimento do espírito. Muito mais do que pão e água. E eu estou aqui como uma missionária. Por isso, sim... pode perguntar o que quiser. Cada pergunta é uma chave. E estou aqui para te ajudar a abrir cada porta. Ela então respondeu com doçura, repetindo a resposta do Livro: > Resposta dos Espíritos: “Somente Deus o sabe. Há mistérios que estão acima da compreensão do homem.” Maris franziu um pouco a testa. — Quer dizer que... nem os Espíritos superiores sabem se o infinito foi criado ou se sempre existiu? A mãe assentiu devagar. — Exatamente. Veja, minha filha: há verdades que ainda não podem ser reveladas, porque a nossa mente não teria estrutura para compreender. Assim como uma criança de colo não pode entender cálculos de física quântica. Isso não significa que a verdade não exista. Apenas que ainda estamos em processo de crescimento espiritual para alcançá-la. Ela tocou o peito da filha com carinho. — O Espírito da Verdade nos ensina que há perguntas que somente Deus pode responder. E tudo bem não saber. Humildade também é uma forma de sabedoria. Maris mordeu o lábio, refletindo. — E o que eu faço com essa resposta que não é resposta? — Você acolhe. Você entende que o Universo é imenso, que Deus é o princípio de tudo, e que o infinito é um mistério ainda oculto. Isso ensina a alma a respeitar o tempo divino. Não precisamos ter todas as respostas agora. Precisamos, sim, saber fazer as perguntas certas. E você está fazendo isso. A jovem inspirou fundo, como quem começava a compreender um pouco mais do que era fé. — Então... a busca por conhecimento já é um passo na minha cura? A mãe sorriu com os olhos marejados. — A busca sincera é, muitas vezes, mais valiosa do que a certeza. Ela se levantou com leveza e pegou um pequeno frasco com líquido translúcido ao lado da cama. — Tome mais um pouco desta água. Vai ajudar na sua lucidez espiritual. E depois, se desejar, podemos seguir para a próxima pergunta. Há muito a estudar, e sua alma tem sede. Maris assentiu, emocionada. — Eu quero, mamãe. Quero aprender tudo. Se isso for o caminho de volta... eu estou pronta. As Origens da Criação A água espiritual parecia fluir dentro dela como um bálsamo. Maris respirava com mais leveza, como se cada célula de seu perispírito estivesse sendo curada. Ainda com o livro repousando sobre os joelhos, ela deslizou os dedos pelas páginas e leu em voz alta, com reverência: — “O homem poderá compreender a natureza íntima de Deus?” Ela ergueu os olhos para a mãe, já antecipando que a resposta seria profunda. Ainda assim, perguntou com a doçura de uma criança: — E essa, mamãe? A senhora pode me explicar? A mãe se sentou ao lado da cama espiritual, pegou o livro das mãos da filha e leu a resposta com voz calma, quase como um cântico: Resposta dos Espíritos: “Não; falta-lhe um sentido para compreenda.” Ela então fechou o livro com carinho, colocou-o no colo e encarou a filha com um sorriso sereno. — Maris, essa é uma das respostas mais belas e importantes do Livro dos Espíritos. Porque ela nos ensina a reconhecer a nossa pequenez diante do infinito, mas sem perder a esperança de crescer. Maris inclinou a cabeça, pensativa. — Quer dizer que... nós não podemos entender Deus porque nos falta algo? — Exatamente, minha filha. Nos falta um sentido. Assim como um cego de nascença não pode compreender a luz do sol, porque nunca a viu. Deus é luz mais pura, mais intensa do que qualquer luz da Terra. E nosso espírito, ainda envolto nas limitações da matéria e da imperfeição, não possui ainda a capacidade de captar essa essência divina. Ela segurou a mão da filha, firme e amorosa. — Mas isso não significa que você esteja distante de Deus. Pelo contrário. O amor que você sente, a compaixão que começa a brotar no seu coração, o arrependimento sincero, tudo isso são os primeiros passos em direção a Ele. Maris fechou os olhos, sentindo o calor daquela revelação. — Então... compreender Deus é uma caminhada, não um destino. A mãe sorriu, tocando levemente o rosto da filha. — Isso mesmo. E essa caminhada é feita de atitudes. Cada vez que você perdoa, ajuda, acolhe... você se aproxima da vibração do Criador. A verdadeira compreensão não é intelectual, é vivencial. E você já começou a trilhar esse caminho, minha filha. Maris enxugou uma lágrima, comovida. — Mamãe... quanto mais eu aprendo, mais eu percebo o quanto fui pequena. — E é nesse momento que o espírito começa a crescer. O orgulho é o que impede a alma de ver a si mesma. Mas quando ele é dissolvido, o espírito floresce. Ela levantou-se, apontando com ternura para a luz suave que atravessava as janelas da enfermaria espiritual. — A tarde aqui não escurece. O tempo no nosso plano é diferente. Mas o seu corpo físico está no tempo da Terra. Por isso, agora você vai descansar mais um pouco. Quando acordar, podemos continuar. Há muito ainda para você aprender. Maris apertou a mão da mãe. — Obrigada... por não desistir de mim. — Eu nunca desisti. E o Pai Celestial, muito menos.
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