####PEDIDO DE PAZ

1442 Words
Assim que o detetive saiu, Drew ficou parado por um momento diante da porta, como se precisasse reorganizar os pensamentos antes de dar o próximo passo. Caminhou até a sala e chamou calmamente: — Pode servir o jantar, por favor. A governanta, atenta como sempre, assentiu com um leve sorriso e seguiu para a copa. Minutos depois, a refeição foi servida na sala de jantar — sopa leve, pão quentinho, chá de camomila... tudo preparado com cuidado. Drew sentou-se à mesa em silêncio. A cada colherada, a mente repassava os acontecimentos como um filme sem pausa: a traição de Brittany, o sofrimento de Patrick, o colapso de Maris, a dor da filha, o susto do atentado, o nascimento dos netos, o renascimento de laços... Ele não comentou nada. Apenas comeu em silêncio. Quando terminou, tirou do bolso o frasco de remédios, observou o rótulo por um segundo, e tomou o comprimido com um gole de água. Levantou-se com um suspiro cansado, mas firme, e falou à governanta com gentileza: — Podem ir repousar, todos vocês. Já está tarde. Eu não vou mais trabalhar hoje. — Fez uma pausa e suavizou a voz. — Obrigado por tudo. Boa noite. — Boa noite, senhor Drew — respondeu a mulher com respeito. — Descanse o senhor também. Ele subiu as escadas lentamente, sentindo o corpo pesar mais pelo cansaço emocional do que físico. Ao chegar ao quarto, tirou os sapatos, afrouxou a gravata e sentou-se à beira da cama. Os olhos passearam pelo cômodo escurecido, e sua mente voltou para Brittany ainda criança, correndo pela casa para o dia em que levou Maris ao altar para o nascimento da filha para as lágrimas silenciosas que recolheu de Patrick ao ver o casamento ruir. Drew suspirou, abaixando a cabeça. Fez sua toalete com calma, como se cada gesto o ajudasse a colocar a mente em ordem. Tirou o paletó, dobrou cuidadosamente a camisa e a calça, deixando-as sobre a cadeira ao lado da cama. Ligou o chuveiro e entrou no banho, deixando a água morna escorrer por seu corpo, aliviando os músculos tensos e lavando não apenas o cansaço do dia, mas as angústias acumuladas de tantas semanas. Terminando o banho, enxugou-se com vagar, vestiu o pijama de algodão azul-marinho, escovou os dentes e caminhou até a cama. Antes de se deitar, ajoelhou-se ao lado do leito, como fazia nos tempos em que ainda acreditava que tudo estava sob controle. E, mesmo com a voz embargada pela emoção contida, fez sua prece: — Obrigado, Senhor, por ter poupado minha filha. Pela vida da Maris. Pela chance de recomeçar. Me ajuda a ser forte por elas. Me dá sabedoria para o que virá. E, se for da Tua vontade, me concede um pouco de descanso. Só isso. Um pouco de paz... Levantou-se devagar, deitou-se, ajeitou o travesseiro, e antes que pudesse completar mais um pensamento... adormeceu. Juntou as mãos, fechou os olhos e murmurou, com o coração aberto: — Deus me mostra o caminho. Eu preciso de paz. Só um pouco de paz. Por mim, pela minha filha... pelos meus netos. Eu não aguento mais ver quem eu amo sofrer. Me guia, por favor. Boa noite, meu Deus. E, depois de tantas noites em claro, tantas madrugadas entre remédios e preocupações, Drew enfim dormiu. Um sono tranquilo, profundo, restaurador. Como quem entrega o peso do mundo nas mãos de Deus e, por um instante, repousa em paz. Deitou-se, puxou o lençol até a altura do peito e, com o coração pesado mas entregue à esperança, deixou que o sono o levasse — com a prece ainda vibrando no ar como um sussurro de fé. Segunda-feira, 7h da manhã A luz suave da manhã de segunda-feira filtrava-se pelas janelas amplas do apartamento de Patrick, anunciando discretamente que aquele não seria um dia comum. O clima trazia um sopro de recomeço, de promessas silenciosas e certezas firmadas em silêncio. Lena chegou pontualmente, animada e cheia de energia. Tocou a campainha com firmeza e, antes mesmo que alguém abrisse, já falava alto do corredor: — Vamos, minha irmã! Hoje é o grande dia! Cadê essa noiva? Patrick apareceu à porta vestindo uma camiseta branca e uma calça de moletom escura, com um sorriso ainda sonolento nos lábios. — Bom dia, cunhada! A noiva está se arrumando no quarto. Pode entrar, fique à vontade. Aceita um café? Lena entrou com passos firmes, trazendo em mãos sua nécessaire recheada de maquiagem, escovas, fixadores e outros utensílios de beleza. Como uma fada madrinha moderna, estava ali para transformar sua irmã na noiva mais linda que já vira. — Patrick, meu querido, seja cavalheiro e nos dê privacidade. Assim que eu terminar de maquiar e arrumar a sua mulher, nós chamamos você. Meus pais já estão a caminho do cartório. — Tudo bem — respondeu ele, rindo com gentileza. — Mas antes, que tal tomarmos café da manhã? Não quero correr o risco de desmaiar diante do juiz. As irmãs tomaram um café reforçado na cozinha: pão fresco, frutas variadas, suco de laranja espremido na hora e o inseparável café preto. Patrick aproveitou o momento para revisar a documentação e verificar pela milésima vez o paletó azul-marinho que usaria. Após a refeição, ele saiu para dar espaço às duas. Lena começou a transformação com precisão de quem conhece cada traço do rosto da irmã. Prendeu o cabelo de Lana em um coque baixo delicado, aplicou uma maquiagem leve e elegante, e ajudou-a a vestir um conjunto branco, simples e refinado. Quando terminou, encarou a irmã com olhos marejados: — Você está deslumbrante. Mesmo sendo apenas uma cerimônia no cartório, o amor que você exala ilumina tudo ao redor. No Cartório O casal chegou ao cartório e foi recebido com abraços calorosos e olhares orgulhosos. Os pais de Lana, senhor Francisco e dona Teresa, estavam acompanhados dos pais de Patrick, assim como Harry, Louis, Patrícia e Nisse, todos acompanhados de seus familiares. Era uma reunião acolhedora, familiar e verdadeira. O juiz de paz, já posicionado, deu início à breve cerimônia. Patrick segurou firme a mão de Lana. Os olhares se encontraram, intensos, apaixonados, como se tudo ao redor desaparecesse. Quando disseram “sim”, não foi apenas uma formalidade — foi uma confirmação pública do que seus corações já sabiam há muito tempo. Ao final, Patrick beijou a testa da esposa e sussurrou com ternura: — Eu sei, meu amor, que não é o casamento dos sonhos, com igreja, véu e marcha nupcial. Mas é o que garante sua segurança e a dos nossos bebês. E eu quero fazer tudo certo. Senhor Francisco, dona Teresa — disse, voltando-se para os sogros —, por favor, fiquem tranquilos. Eu cuidarei muito bem da filha de vocês. Essa é a minha promessa. Lana sorriu com os olhos marejados, apertando a mão dele: — Amor, você já cuida de mim com tanto carinho... Mas, se quiser cuidar ainda mais, eu permito. Os pais de Patrick se aproximaram e abraçaram a nova nora: — Bem-vinda oficialmente à família, minha filha. Você já era parte de nós. Hoje apenas tornamos isso legal. E foi então que, quebrando o clima com bom humor, Louis declarou em alto e bom som: — Agora só faltamos eu e o Harry para subir ao altar! Alguém se candidata? Patrícia ergueu a sobrancelha, teatral: — E eu? Vão me deixar pra titia? As risadas ecoaram pelo salão do cartório, enchendo o ambiente de leveza. Lana, sorridente, olhou para o próprio buquê. Era simples, mas feito com amor. Dividiu-o em três partes e entregou delicadamente uma flor para cada uma das garotas: — Patty, Nice, Lena... Aqui está uma bênção para cada uma de vocês. Que encontrem o amor verdadeiro, no tempo certo. E se for com esses três aí — lançou um olhar bem-humorado para Louis, Harry e Patrick —, que eles venham com juízo! — Ei! — protestou Louis. — E nós, vamos ficar sem flor? Nice, sem paciência, arrancou uma das flores do seu buquê: — Aqui, Louis. Não diga que não sou generosa. Lena fez o mesmo com Harry: — Toma, Harry. Agora você está oficialmente comprometido com a sorte. Prepare-se! Mais uma rodada de risadas. Até o juiz de paz sorriu, encerrando a cerimônia com um comentário divertido: — Casamentos assim renovam minha fé no amor. Que venham os próximos! Ao final, todos saíram abraçados, fazendo planos para o almoço em família, comentando sobre o futuro casamento religioso — aquele que viria com direito a votos, festa e muita emoção. Mas, para Patrick e Lana, a promessa maior já havia sido feita naquele simples e inesquecível início de semana.
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