####BRITTNEY E LENA

1110 Words
Suíte reservada de recuperação pós-parto A luz do sol filtrava-se pelas cortinas finas do quarto hospitalar, lançando um brilho suave sobre o rosto pálido de Britney. Lena ajeitava os travesseiros atrás da amiga com delicadeza, enquanto a observava com atenção. Apesar do esforço, ainda havia sombras nos olhos de Britney, marcas silenciosas da batalha emocional que travava desde o parto. — Lena — a voz dela saiu baixa, arrastada — Papai veio aqui hoje. Mase a mamãe? Já faz dois dias que você tá vindo. Você ainda não viu a mamãe por aqui? Lena hesitou por um instante, os dedos parando no ajuste da coberta. — Não, Bri eu não a vi, não. Mas ela deve estar com algum problema que a impediu de vir. — tentou sorrir, suavizar a tensão — Pode ser, né? Você sabe como a sua mãe é... Britney suspirou e desviou o olhar para a janela. — Será mesmo? — murmurou — Ou será que ela só não quer ver o que eu me tornei? — Bri, não começa com isso — Lena se sentou ao lado da cama e segurou com firmeza a mão dela. — Você tá indo bem. Você tem que melhorar por causa das crianças. Não pode cair de novo, muito menos alimentar essa culpa toda. Você lembra do que a psicóloga disse sobre os pensamentos distorcidos, né? — Eu lembro— sussurrou ela, quase como uma criança repreendida. — Pois então. Depressão pós-parto não é brincadeira. Se você se deixar afundar, quem vai cuidar de você? E das crianças? O silêncio foi pesado por um instante. Britney piscou lentamente, tentando conter a emoção. — É que eu passei toda a gravidez sem o apoio dela. Eu sei que o papai me apoiou... mesmo com aquela confusão se o bebê era do Patrick ou do Richard. Ele não me julgou. Ficou do meu lado, mesmo com a vergonha pública. — Exatamente. — Lena apertou levemente sua mão — Ele fez tudo o que podia e mais um pouco. E é isso que importa agora. A tua mãe vai ter que lidar com a consciência dela, não é com você. Quando for a hora certa, ela vai vir. — Mas... será que vai mesmo? — Bri, a verdade é que às vezes a gente precisa entender que os nossos pais também são produtos da criação deles. Vai ver... a sua mãe também nunca recebeu amor. Então ela não sabe dar. E você sabe disso melhor do que ninguém. Britney pensou por um momento, em silêncio. Depois, com um nó na garganta, confessou: — Eu não me lembro dos meus avós sendo carinhosos com a mamãe. Eu me lembro deles frios, impessoais. Acho que era o jeito deles. Talvez... talvez ela só tenha aprendido a amar desse jeito. — É isso, Bri. Você estava copiando a sua mãe. Ela, por sua vez, estava copiando os pais dela. Mas agora você é mãe. Agora é a sua vez de quebrar esse ciclo. Você tem a chance de ensinar a ela o que é amor de verdade, se ela estiver disposta a aprender. Britney fechou os olhos e respirou fundo. Quando abriu novamente, havia uma nova firmeza em sua expressão. — Vou seguir seu conselho. Quando ela aparecer — se ela aparecer — eu vou tentar. E se ela não vier, eu mesma vou dar um jeito de levar os netos até ela. Ela vai conhecer. Vai ver que o amor existe sim. — Isso mesmo, Bri. — Lena sorriu com os olhos marejados — Você já deu o primeiro passo. Agora continue sua terapia, não pare quando sair daqui. Não desista de você. Britney assentiu com os olhos cheios d’água. — Obrigada por estar aqui... obrigada por não ter desistido de mim. Lena sorriu, apertando a mão dela com carinho. — Eu sou sua amiga e irmã do coração, Bri. E irmãs são feitas pra isso... pra segurar a mão quando o mundo parece desabar. Pouco tempo depois Um leve toque na porta interrompeu o silêncio suave que pairava no quarto. Lena e Britney se se olharam. — Deve ser a enfermeira — disse Lena, levantando-se e caminhando até a porta. Ao abrir, encontrou a psicóloga do hospital, Dra. Rafaella, com seu sorriso calmo e o olhar atento de sempre. — Bom dia, Lena. Bom dia, Britney. Posso entrar um pouquinho? — Claro — respondeu Britney, tentando ajeitar os cabelos com as mãos. — Fica à vontade, doutora. A Psicóloga entrou com passos suaves, seu jaleco limpo e o bloquinho de anotações nas mãos. Sentou-se na poltrona ao lado da cama e olhou para Britney com genuína ternura. — Como você está hoje? — Melhor — respondeu com sinceridade. — Ainda assustada com tudo, mas consegui dormir melhor. Lena sorriu, orgulhosa. — Conversamos bastante hoje de manhã. Ela está refletindo sobre muitas coisas. A Psicóloga assentiu. — Fico feliz em ouvir isso. Britney, sei que esse processo de cura é feito de muitos pequenos passos. E hoje eu vim te propor algo novo. — O quê? — Que tal escrever uma carta para você mesma? Não precisa ser longa. Só algumas linhas onde você diga para você, Britney, o que você gostaria de ouvir todos os dias. Como se estivesse escrevendo para a sua versão adolescente... ou para a menina que ainda existe aí dentro. Britney ficou em silêncio por alguns segundos. — Nunca pensei nisso. — Pode te ajudar mais do que imagina. E se quiser, pode ler para mim numa próxima sessão. Ela respirou fundo, sentindo as lágrimas ameaçarem vir. Mas dessa vez, não de tristeza. — Eu vou tentar. A psicóloga sorriu. — Isso é tudo o que você precisa agora: tentar. E sabe quem vai se beneficiar disso? Seus filhos. Eles terão uma mãe que sabe acolher, mesmo tendo crescido sem ser acolhida. Lena observava a cena com os olhos marejados. — Eu disse pra ela exatamente isso hoje. a Psicóloga levantou-se. — Então ela está em ótimas mãos. Antes de sair, virou-se novamente para Britney: — E quando você estiver pronta, podemos convidar sua mãe para uma sessão conjunta. Com mediação, com respeito. Apenas se você quiser. Britney assentiu lentamente. — Talvez... um dia. A psicóloga sorriu uma última vez e saiu. Assim que a porta se fechou, Britney voltou o olhar para Lena. — Você acha que um dia a mamãe pode mudar? Lena se sentou de novo ao lado da cama. — Eu não sei, Bri. Mas eu sei que você já está mudando. E isso já é um começo lindo. Britney sorriu. Pela primeira vez em muito tempo, sentia que poderia ser, sim, uma boa mãe.
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