A Flor que Ficou de Pé

806 Words
O dia já tinha virado tarde quando Lana se retirou da sala de auditoria. As planilhas estavam finalizadas, os relatórios salvos, e a adrenalina do escândalo de Britney ainda pulsava como um eco no ar. Ela caminhava pelo corredor principal quando Shirley apareceu com um buquê nas mãos. — Isso é pra você — disse, com um sorriso misterioso. — Pra mim? — Lana arqueou as sobrancelhas. — Direto do elevador privativo. E com perfume caro. Ou seja... é dele — cochichou Shirley, sumindo logo depois. Lana pegou o buquê: rosas brancas com um toque de lavanda e eucalipto fresco. Um arranjo elegante e sóbrio. No meio, um cartão escrito à mão: “Para a mulher que enfrentou tempestades de salto alto e saiu intacta. Se ainda tiver energia hoje, me encontre às 19h na sala 24.” – P.” Ela mordeu o lábio inferior com um sorriso bobo no rosto. E ali, mesmo com os pés doloridos e a mente exausta, ela soube: iria. A sala 24 ficava no andar executivo, mas era raramente usada — mais reservada, sem janelas, com iluminação baixa e sofás confortáveis. Quando Lana entrou, Patrick já estava lá. Sem terno. Só com a camisa branca de mangas dobradas e aquele olhar que desarmava o mundo. — Que bom que veio — disse ele, caminhando até ela. — Que bom que me chamou — respondeu ela, pousando a bolsa discretamente. Ele estendeu a mão, e quando ela colocou a dela sobre a dele, ele beijou sua palma, devagar, como se aquilo fosse sagrado. — Você foi incrível hoje, Lana. Eu não sei se já te disse o suficiente. — Você tem dito. Em gestos, em respeito, em proteção. — Ela sorriu. — Isso pra mim... é mais do que palavras. Patrick a puxou suavemente até o sofá. Sentaram-se lado a lado, próximos, mas ainda respeitando aquele espaço que existia entre o desejo e o cuidado. — Eu queria te fazer um convite — disse ele, olhando para frente, como quem pondera cada vírgula. — Estou ouvindo. — Quero que você vá à minha casa. Mas não como minha assistente. Não como a homenageada da semana. Quero que vá como... a mulher que eu escolhi. Lana virou o rosto para ele, o coração disparando no peito. — Patrick... — Não precisa responder agora. Eu só precisava dizer. Porque eu te vejo. Desde o início. Eu vi sua força, sua ética, sua beleza. Mas agora... agora eu vejo você inteira. E não quero mais viver pela metade. Ela respirou fundo. — Você tem certeza? Porque eu sou um pacote com passado, com família simples, com gente que nunca frequentou restaurante cinco estrelas... — E eu sou um homem cheio de vícios de trabalho, que achava que sabia o que era sucesso... até você mostrar o que é ter honra de verdade. O silêncio entre eles não foi incômodo. Foi denso. Carregado de significado. Então, Lana se inclinou e o beijou. Não foi um beijo urgente. Foi um beijo cheio de resposta. De entrega. De escolha. Quando se afastaram, Patrick encostou a testa na dela. — Ainda aceita o convite? — Se tiver sobremesa com sorvete... aceito — respondeu ela, rindo. — Eu sirvo sorvete... e coloco música. Daquelas que fazem a gente dançar devagar — murmurou ele, beijando sua testa. Mais tarde, ao sair da empresa, Lana olhou para o céu já escuro e sussurrou baixinho para si mesma: — Eu fiquei de pé. E dessa vez... não estava mais sozinha. Lana chegou em casa pouco depois das nove da noite. Não disse nada ao entrar. Apenas tirou os sapatos e caminhou até o quarto em silêncio. Lena e Elenice estavam lá, de pijama, esperando com aquele brilho curioso no olhar. Era claro que tinham feito uma aposta. — E aí? — perguntou Lena, segurando o riso. Lana jogou-se na cama e abraçou um travesseiro. — Eu beijei ele. — Ai, meu Deus! — Elenice pulou da cama. — Até que enfim! — Ele me chamou para jantar. Na casa dele. As duas ficaram boquiabertas. — Como assim? — Lena piscava rápido. — Com a mãe dele lá? — Não. Só nós dois. E não como assistente. Como mulher dele — disse Lana, encarando o teto com um sorriso leve. As duas se olharam e depois correram pra abraços, pulando em cima da cama. — A guerreira foi promovida a amor da vida! — Elenice gritou, rindo. — E eu quero detalhes! — Lena completou. Entre gargalhadas e travesseiros voando, Lana fechou os olhos por um segundo e pensou em Patrick. Na maneira como ele a olhava. No respeito. Na escolha. Na dança que ainda não havia dançado — mas que o coração já ensaiava em silêncio. E antes de adormecer, murmurou para si: — Acho que dessa vez... o destino acertou.
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