O dia já tinha virado tarde quando Lana se retirou da sala de auditoria. As planilhas estavam finalizadas, os relatórios salvos, e a adrenalina do escândalo de Britney ainda pulsava como um eco no ar.
Ela caminhava pelo corredor principal quando Shirley apareceu com um buquê nas mãos.
— Isso é pra você — disse, com um sorriso misterioso.
— Pra mim? — Lana arqueou as sobrancelhas.
— Direto do elevador privativo. E com perfume caro. Ou seja... é dele — cochichou Shirley, sumindo logo depois.
Lana pegou o buquê: rosas brancas com um toque de lavanda e eucalipto fresco. Um arranjo elegante e sóbrio. No meio, um cartão escrito à mão:
“Para a mulher que enfrentou tempestades de salto alto e saiu intacta.
Se ainda tiver energia hoje, me encontre às 19h na sala 24.”
– P.”
Ela mordeu o lábio inferior com um sorriso bobo no rosto. E ali, mesmo com os pés doloridos e a mente exausta, ela soube: iria.
A sala 24 ficava no andar executivo, mas era raramente usada — mais reservada, sem janelas, com iluminação baixa e sofás confortáveis. Quando Lana entrou, Patrick já estava lá.
Sem terno. Só com a camisa branca de mangas dobradas e aquele olhar que desarmava o mundo.
— Que bom que veio — disse ele, caminhando até ela.
— Que bom que me chamou — respondeu ela, pousando a bolsa discretamente.
Ele estendeu a mão, e quando ela colocou a dela sobre a dele, ele beijou sua palma, devagar, como se aquilo fosse sagrado.
— Você foi incrível hoje, Lana. Eu não sei se já te disse o suficiente.
— Você tem dito. Em gestos, em respeito, em proteção. — Ela sorriu. — Isso pra mim... é mais do que palavras.
Patrick a puxou suavemente até o sofá. Sentaram-se lado a lado, próximos, mas ainda respeitando aquele espaço que existia entre o desejo e o cuidado.
— Eu queria te fazer um convite — disse ele, olhando para frente, como quem pondera cada vírgula.
— Estou ouvindo.
— Quero que você vá à minha casa. Mas não como minha assistente. Não como a homenageada da semana. Quero que vá como... a mulher que eu escolhi.
Lana virou o rosto para ele, o coração disparando no peito.
— Patrick...
— Não precisa responder agora. Eu só precisava dizer. Porque eu te vejo. Desde o início. Eu vi sua força, sua ética, sua beleza. Mas agora... agora eu vejo você inteira. E não quero mais viver pela metade.
Ela respirou fundo.
— Você tem certeza? Porque eu sou um pacote com passado, com família simples, com gente que nunca frequentou restaurante cinco estrelas...
— E eu sou um homem cheio de vícios de trabalho, que achava que sabia o que era sucesso... até você mostrar o que é ter honra de verdade.
O silêncio entre eles não foi incômodo. Foi denso. Carregado de significado.
Então, Lana se inclinou e o beijou.
Não foi um beijo urgente. Foi um beijo cheio de resposta. De entrega. De escolha.
Quando se afastaram, Patrick encostou a testa na dela.
— Ainda aceita o convite?
— Se tiver sobremesa com sorvete... aceito — respondeu ela, rindo.
— Eu sirvo sorvete... e coloco música. Daquelas que fazem a gente dançar devagar — murmurou ele, beijando sua testa.
Mais tarde, ao sair da empresa, Lana olhou para o céu já escuro e sussurrou baixinho para si mesma:
— Eu fiquei de pé.
E dessa vez... não estava mais sozinha.
Lana chegou em casa pouco depois das nove da noite. Não disse nada ao entrar. Apenas tirou os sapatos e caminhou até o quarto em silêncio.
Lena e Elenice estavam lá, de pijama, esperando com aquele brilho curioso no olhar. Era claro que tinham feito uma aposta.
— E aí? — perguntou Lena, segurando o riso.
Lana jogou-se na cama e abraçou um travesseiro.
— Eu beijei ele.
— Ai, meu Deus! — Elenice pulou da cama. — Até que enfim!
— Ele me chamou para jantar. Na casa dele.
As duas ficaram boquiabertas.
— Como assim? — Lena piscava rápido. — Com a mãe dele lá?
— Não. Só nós dois. E não como assistente. Como mulher dele — disse Lana, encarando o teto com um sorriso leve.
As duas se olharam e depois correram pra abraços, pulando em cima da cama.
— A guerreira foi promovida a amor da vida! — Elenice gritou, rindo.
— E eu quero detalhes! — Lena completou.
Entre gargalhadas e travesseiros voando, Lana fechou os olhos por um segundo e pensou em Patrick.
Na maneira como ele a olhava.
No respeito.
Na escolha.
Na dança que ainda não havia dançado — mas que o coração já ensaiava em silêncio.
E antes de adormecer, murmurou para si:
— Acho que dessa vez... o destino acertou.