Desafio e aposta

1114 Words
Patrick sentou-se à mesa com o cenho franzido. Louis já chegou rindo, como sempre, e Harry vinha logo atrás, mexendo no celular. — E aí, senhor coração inquieto — provocou Harry, puxando a cadeira. — Como está sendo a convivência com a nova assistente? Patrick pegou o copo de água, bebeu devagar e tentou disfarçar. — Tranquilo. Louis gargalhou. — Tranquilo? Você quase rosnou pra mim hoje de manhã só porque eu brinquei com ela! — Você passa dos limites, Louis — retrucou Patrick, sério. — Ela é nossa funcionária. Minha assistente. E é filha do Francisco. — Sim, sim… — disse Louis, erguendo as mãos como quem se rende — e tem pernas que desafiam a gravidade e um sorriso que parece pedir perdão antes mesmo de fazer alguma coisa. — Louis... — avisou Patrick, num tom grave. Harry não aguentou e caiu na risada. — Cara, você tá igual adolescente apaixonado. Hoje de manhã você quase tomou três chás em dez minutos. Pra quê? Pra ver ela entrando e saindo da sala? Patrick bufou, irritado. — Vocês dois são insuportáveis. — E você tá completamente fisgado — retrucou Louis, colocando o guardanapo no colo. — Desde que essa garota entrou naquela reunião e abriu os slides, você não tirou mais os olhos dela. Harry sorriu de lado, servindo-se do vinho. — A boa notícia é: ela é inteligente, sensata e tem uma postura impecável. A má notícia… é que você já tá perdido. E o pior: nem começou ainda. Patrick empurrou o prato, respirando fundo. — Eu preciso me controlar. Não posso me envolver com uma funcionária. Ainda mais com ela. É nova, é inexperiente. E tem toda uma vida pela frente. — E você tem um coração que tá querendo explodir — rebateu Harry. — Sabe quando a gente percebe? Quando você fica olhando pra porta do restaurante pra ver se ela vai entrar, mesmo sabendo que ela foi almoçar com a irmã. Patrick não respondeu. Mas sim... ele estava fazendo exatamente isso. — Patrick… — disse Louis, mais sério agora — ninguém tá dizendo pra você agarrar ela no meio da empresa. Mas talvez... você precise parar de fingir que não tá sentindo. Porque quando o desejo vira negação, o controle pode virar impulso. Harry ergueu a taça. — Brindemos, então. À quarta-feira. E ao nosso CEO, que está prestes a cair num abismo delicioso. Patrick soltou um sorriso irônico, mas o olhar… já estava distante de novo. Pensando nela. Naquela cintura. Naquela voz. Naquela mulher que, sem saber, já era o maior desafio da vida dele. — Tá decidido — disse Louis, inclinando-se sobre a mesa com aquele brilho maroto nos olhos. — Eu aposto um milhão de dólares que o Patrick não dura duas semanas. Patrick ergueu uma sobrancelha, encarando o primo. — Você tá brincando. — Tô nada — respondeu ele, pegando o celular e anotando. — Hoje é quarta-feira. No máximo até a sexta da semana que vem, você já vai estar arrastando a sua dignidade pelos corredores da empresa só pra ver o sorriso da Lana. Apostado. Harry soltou uma gargalhada e balançou a cabeça. — Vocês são dois idiotas. Mas já que é pra brincar… eu aposto que ele dura um mês. Um mês inteirinho de tortura. Se resistir até lá, eu mesmo pago o jantar no Montecarlo, com direito a vinho francês. Patrick cruzou os braços e recostou-se na cadeira, com um sorriso torto. — Vocês dois estão completamente desocupados. — E você tá completamente enfeitiçado — rebateu Louis. — Mas tudo bem. Vamos ver quem vence. — Ah, e tem regra — completou Harry, erguendo o dedo. — Ele não pode dar nenhum passo em falso. Nada de toques fora do necessário, nada de confissões, nada de convite pessoal. Se cair, perdeu. — E o prêmio? — perguntou Patrick, já entrando no jogo sem perceber. Louis piscou. — Um milhão. Em doações para a ONG de escolha do vencedor. E se você resistir, Patrick, você ganha dos dois. Dois milhões para qualquer causa que quiser. Patrick riu, incrédulo. — Então é isso? Agora meu autocontrole virou aposta filantrópica? — Não — disse Harry, levantando a taça — seu autocontrole virou entretenimento corporativo de luxo. Eles brindaram, entre risadas e olhares cúmplices. Mas Patrick… ele já sabia. O jogo era perigoso. A aposta era alta. E o prêmio… bem, o prêmio tinha olhos grandes, sorriso tímido e um corpo que ele não conseguia tirar da mente. — Cara… vamos ser sinceros aqui — começou Louis, girando o copo de água como se estivesse prestes a fazer uma grande revelação. — A Lana… não tem como. Aquilo ali é esculpido à mão. Aquilo ali não é funcionário, é arte sacra. Patrick bufou, desviando o olhar para o jardim do restaurante. — Louis, já deu. — Já deu? Eu não falei nada ontem, mas hoje… vestido marfim? Aquele tubinho? Aquilo ali grita "me respeita, mas me admira", e você tá como? Suando igual tampa de marmita! Harry segurou a risada e entrou na onda. — E a voz dela? Meu Deus, aquela voz de anjo que pede bom dia, senhor Patrick como se estivesse soprando bênçãos em latim... Eu não sei como você ainda tá vivo, cara. — E o coque — Louis fez um gesto teatral com as mãos. — Aquele coque bagunçado. Sabe o que aquilo diz? "Eu sou profissional, mas se você bagunçar isso aqui, eu deixo." Patrick cobriu o rosto com as mãos. — Vocês dois estão me torturando. — Tamo não — Harry rebateu, rindo. — Tamo descrevendo. Porque vamos falar a verdade… aquele quadril? Aquela cintura? Aquele rosto de boneca russa? Irretocável. E você aí, querendo manter a ética. — Ética que vai pro ralo até sexta que vem — debochou Louis, apontando pra ele. — Ou você aguenta mais quanto tempo, hein? Porque eu te conheço, Patrick. Você é frio nos negócios, mas quente na desgraça do desejo. Patrick fechou os olhos, respirando fundo. — Eu vou resistir. — Vai nada — disseram os dois em uníssono, gargalhando. Harry se inclinou. — Eu só queria te lembrar que se você cair, não precisa nem contar. A gente vai saber. Seu olhar entrega. Sua respiração entrega. E sua postura também. — Tá decidido — Louis disse, rindo. — Todo dia, uma provocação. Até o homem cair. Harry ergueu a mão, e os dois bateram um high five conspiratório. — E hoje, a provocação foi o vestido. Amanhã… quem sabe ela aparece de lápis no cabelo e salto vermelho? Aí acabou. Patrick suspirou. Era só quarta-feira. E o desafio já estava virando tortura. E o pior? Ele adorava cada segundo.
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