O corredor do hospital ainda estava em silêncio quando Drew chegou. Eram exatamente sete e quarenta e dois da manhã. Vestia uma camisa social azul clara, a gravata frouxa no pescoço e os olhos marcados por noites maldormidas. O peso de ser pai recaía forte sobre os ombros, mas naquele dia ele não podia faltar. A doutora o havia convocado — não para contar a verdade ainda, mas para avaliá-la juntos.
A psicóloga aguardava próxima à recepção da ala materno-infantil. Sem jaleco, apenas com uma prancheta na mão e um olhar clínico, firme, porém acolhedor. Drew a cumprimentou com um aceno discreto.
— Ela dormiu bem — disse a profissional, enquanto caminhavam juntos em direção ao quarto da filha. — Alimentou-se melhor ontem, aceitou ajuda, conversou com as amigas e interagiu com os bebês sem sinal de dissociação ou fuga emocional. Está em processo de aceitação do puerpério. Mas... ainda é frágil.
— Você acha que ela já pode saber? — ele perguntou com a voz baixa.
— Ainda não. Eu preciso de mais uma conversa. Quero observar suas respostas em tempo real. Mas minha intenção hoje é fortalecer, e não informar.
Eles se aproximaram da porta do quarto. Drew parou por um instante, ajeitou a gola da camisa, como se tentasse organizar também o caos interior. A doutora deu um leve toque na madeira e abriu com cuidado.
— Bom dia! — disse com ternura.
Brittany ergueu os olhos do travesseiro. Estava sentada, os cabelos presos num coque desleixado, e um leve sorriso apareceu nos lábios ao ver o pai.
— Papai… o senhor veio mesmo!
Drew entrou e se aproximou com passos firmes.
— Claro, minha filha. Eu liguei para a doutora logo cedo, e ela achou que seria bom eu passar aqui rapidinho. Mas olha... eu já tenho que ir trabalhar, alguém precisa pagar as fraldas desses dois anjinhos, né?
Ela riu suavemente, e o som era como um bálsamo. A Lena, que estava sentada ao lado, se levantou.
— Pode ficar tranquilo, senhor Drew. Ela dormiu bem, comeu, está seguindo direitinho tudo o que a doutora mandou. Eu, a Nisse e a enfermeira Helena estamos com ela o tempo todo.
— Eu só tenho a agradecer — ele respondeu, olhando para cada uma delas com gratidão verdadeira.
A doutora permaneceu observando a interação sem interromper, anotando discretamente em sua prancheta.
Brittany virou-se para ela.
— Doutora, a sua visita ontem à tarde me fez muito bem. Obrigada por voltar.
— Eu volto quantas vezes forem necessárias, Brittany. Você está indo muito bem. Continue se alimentando direitinho, descansando, interagindo com os seus bebês... e com as suas amigas. Isso tudo faz parte da sua recuperação.
— Eu tenho sentido mais força, sabe? — ela disse, passando os dedos pelos cabelos. — Às vezes ainda sinto medo... mas o amor pelos meus filhos tá maior. Ele me puxa pra fora de mim.
A doutora sorriu, anotou mais algumas observações e assentiu com a cabeça.
— Isso é ótimo. Muito importante. Você está no caminho certo. Em breve, tanto você quanto os bebês vão ter alta. Mas lembre-se: cada dia é um passo. Um dia de cada vez.
Drew olhou para a filha com orgulho e emoção. Em seguida, virou-se para a doutora.
— A gente pode falar ali fora?
— Claro.
Ambos saíram discretamente do quarto e caminharam até uma sala vazia.
— Ela está bem melhor, não está? — ele perguntou, com esperança na voz.
— Sim, senhor Drew. Mas ainda não é o momento. Ela está se reconstruindo, formando os alicerces emocionais que perdeu. Se a notícia for dada agora, há risco de ruptura, de regressão. Ela poderia entrar em choque, se sentir traída por termos ocultado a verdade, ou pior: se culpar.
— E se a mãe dela acordar antes?
— Aí será o momento ideal. A revelação virá acompanhada da esperança. Ela verá a mãe viva, não em coma, e isso amortecerá o impacto.
Drew assentiu.
— Eu conversei com o neurologista. Disse que a Maris está reagindo bem. Ele acredita que não demora pra ela acordar.
— Ótimo. Então faremos assim: vamos aguardar. Enquanto isso, fortalecemos a Brittany. Eu quero continuar monitorando seus níveis de ansiedade e o vínculo com os filhos. Se eu notar qualquer retração, retrocedemos o plano. Mas se ela continuar firme assim, e se a Maris não acordar até lá, eu volto a reavaliar em dois dias.
— Obrigado, doutora. Eu confio no seu julgamento. Faça o que for melhor pra minha filha.
— Eu farei. E qualquer mudança, eu ligo para o senhor.
Ambos se despediram com um aperto de mão respeitoso. Drew partiu, e a psicóloga retornou ao quarto de Brittany para mais alguns minutos de observação leve.
Ela se sentou, cruzou as pernas e falou como quem apenas quer conversar:
— E hoje, Brittany... qual o pensamento que passou pela sua cabeça ao acordar?
Brittany olhou para os filhos que dormiam no bercinho térmico, depois para a janela, onde a luz do sol começava a esquentar os azulejos.
— Que talvez eu esteja ganhando uma nova chance... e que não quero desperdiçar.
A psicóloga sorriu. Em silêncio, anotou:
"Estágio de aceitação e autorresponsabilidade iniciado. Recomendado: manter plano gradual. Não introduzi ainda a notícia sobre o estado da mãe."
Preparando Duas Almas para a Verdade
Drew aguardava na antessala da ala médica quando Audrey retornou de sua segunda visita ao quarto. Ela estava mais reflexiva do que de costume. Suas anotações haviam aumentado, e os olhos denunciavam que uma decisão sensível havia sido tomada.
— Doutora, eu preciso saber... — ele começou. — A senhora acha mesmo que não é hora ainda?
A psicóloga respirou fundo e assentiu.
— Senhor Drew, após a observação da manhã e a análise de todo o histórico da Brittany, tomei minha decisão final quanto ao momento de revelação da verdade sobre a Maris.
Ela se sentou ao lado dele e falou com firmeza serena:
— Sua filha passou por um parto prematuro, em estado de estresse elevado. Foi internada em um ambiente controlado sem o suporte materno, vivendo o medo constante de perder os filhos. Está em processo de recuperação psico emocional e estável, mas ainda em formação. Ela é uma mãe solo, recém-saída de um período de isolamento emocional. O senhor tem sido o único pilar sólido até agora.
Drew franziu o cenho, preocupado.
— Sim, eu entendo isso. Mas a Brittany está reagindo bem, não está?
— Sim. Mas entenda... a saúde mental é uma linha tênue, principalmente em casos de puerpério somado a trauma familiar. A ausência da Maris e a maneira como elas se afastaram antes do acidente ainda são questões m*l resolvidas. Se ela souber, agora, que a mãe esteve entre a vida e a morte e que isso foi ocultado dela... a culpa pode vir como uma avalanche. E o impacto pode quebrar toda a reconstrução emocional que estamos conseguindo.
— E... se esperarmos demais?
Audrey o olhou nos olhos.
— Por isso eu quero que nos façamos diferentes. Vamos esperar que a Maris acorde. Assim, poderemos preparar as duas ao mesmo tempo.
Drew pareceu confuso.
— A senhora acha mesmo que a Maris vai acordar nos próximos dias?
— O neurologista acredita que sim. E há um ponto importante: nós não sabemos como a Maris vai despertar. Ainda não sabemos se haverá sequelas físicas. Pode haver paralisia. E dependendo da personalidade dela, como o senhor mesmo já relatou... a reação pode ser dura.
Ela continuou, com mais intensidade:
— Estamos diante de um quadro delicado. A Brittany está emocionalmente vulnerável. A Maris está inconsciente e incerta quanto ao estado físico e psíquico em que irá despertar. Se formos apresentar a verdade agora para a Brittany e, dias depois, a Maris acordar com sequelas graves ou mesmo rejeitando-a, o impacto poderá ser dobrado.
Drew passou as mãos pelos cabelos.
— Então o que a senhora sugere?
— Quando a Maris acordar, eu conversarei com ela. Sentirei como está sua lucidez, disposição afetiva e mental. Só depois disso, prepararemos a Brittany para vê-la. Elas terão a chance de se reencontrar com consciência, verdade e o mínimo de interferência traumática possível. Mas se a Maris acordar e não estiver em condições emocionais para receber ou acolher a filha, teremos evitado uma nova ferida em uma jovem mãe que está se reconstruindo.
Ele assentiu, mais tranquilo.
— A senhora está certa, doutora. Vamos esperar. Faça o que achar melhor. Eu só quero proteger minha filha... e que ela seja forte o suficiente pra ser mãe dos meus netos.
A Psicóloga pousou a mão sobre o braço dele.
— E será. Mas precisa de tempo e verdade bem administrada.
Quando a Esperança Move um Dedo
Enquanto a Psicóloga conversava com Drew no consultório da ala psiquiátrica e explicava sua decisão cuidadosa de aguardar o despertar de Maris para abordar Brittany, a rotina seguia firme na Unidade de Terapia Intensiva.
Na UTI silenciosa, o soro gotejar em um ritmo constante e a luz azulada das máquinas refletia nas paredes claras. A enfermeira Helena, experiente e atenta, executava mais um de seus procedimentos diários: a alimentação enteral da paciente Maris.
Ela ajustou a sonda com delicadeza, como quem cuida de um bebê adormecido. Falava em voz baixa, mesmo sabendo que a paciente ainda estava em coma leve.
— Prontinho, dona Maris, tudo certinho por aqui. Vamos continuar nossa rotina, tá bom? Tem gente aqui fora torcendo pela senhora.
Sue se virou para pegar uma compressa esterilizada. Quando retornou à beira do leito, notou algo estranho.
A mão esquerda da paciente, antes estática, apresentava pequenos espasmos nos dedos. Primeiro o indicador... depois o médio. Um tremor sutil, mas intencional. A enfermeira congelou por um instante, a respiração suspensa. Aproximou-se, com os olhos fixos.
— Dona Maris? — sussurrou.
O movimento se repetiu. E então, os olhos da paciente começaram a se mover sob as pálpebras cerradas.
Sue não pensou duas vezes. Apertou o botão de emergência na cabeceira e falou no interfone:
— Preciso de um neurologista na UTI 2. Movimento voluntário detectado em paciente em coma leve.
Minutos depois, o neurologista chegou com um estetoscópio pendurado no pescoço e um tablet com acesso ao prontuário eletrônico. Trazia o olhar atento de quem reconhece o milagre sutil da vida voltando a pulsar.
Aproximou-se da paciente, com voz firme, porém suave:
— Maris, aqui é o seu neurologista. Se você estiver me ouvindo, tente apertar meu dedo. Estou colocando a minha mão aqui...
Ele estendeu o indicador, tocando a palma da mão dela.
Por alguns segundos, nada. Mas então, um toque leve. Quase imperceptível, mas real. O suficiente para fazer o coração de qualquer profissional saltar no peito.
— Isso. Isso mesmo, Maris... você está voltando. Estamos aqui com você. Em breve, você vai acordar por completo.
O médico olhou para Sue.
— Anote: resposta voluntária ao estímulo verbal e tátil. Prescreva exames de reflexo pupilar, escala de coma de Glasgow atualizada, e solicite eletroencefalograma para hoje. Também peça ultrassonografia transcraniana. Vamos acompanhar esse despertar com atenção.
Sue anotou tudo e já começou a organizar os pedidos no sistema. O neurologista deu uma última olhada para Maris, com um leve sorriso de confiança.
— Seja bem-vinda de volta, mesmo que ainda esteja só batendo à porta.
Do lado de fora da UTI, Drew conversava com a Psicóloga no corredor. Eles finalizaram a conversa sobre a decisão de adiar a revelação para Brittany, quando a porta se abriu e o neurologista saiu, retirando as luvas.
Ao vê-lo, Drew se adiantou.
— Doutor! Alguma novidade?
O especialista assentiu, com o semblante moderadamente animado.
— Sim, senhor Drew. Sua esposa está demonstrando os primeiros sinais de retorno à consciência. Movimentou os dedos, respondeu a estímulos verbais e há reação ocular. Ainda é muito sutil, mas significa que o coma está regredindo naturalmente.
Drew levou a mão ao peito, emocionado.
— Ela vai acordar?
— Estamos acompanhando. Ainda é cedo para prever totalmente o quadro neurológico pós-despertar, mas a resposta motora é um bom sinal. Solicitarei todos os exames e, se tudo continuar evoluindo, talvez tenhamos Maris de volta em poucos dias.
Drew apertou os olhos, tentando conter a emoção.
— Obrigado. Muito obrigado mesmo. Eu precisava ouvir isso.
— Estamos fazendo tudo por ela. Agora, mais do que nunca, é preciso manter a calma e preparar o ambiente. O próximo passo será cuidar do emocional dela quando despertar — e, é claro, preparar quem vai recebê-la.
Ele lançou um olhar rápido para Audrey, que entendeu a indireta.
— Estaremos prontos — disse ela com firmeza.
— Ótimo — finalizou o médico. — Agora vou acompanhar os exames. Qualquer alteração relevante, entrarei em contato com vocês.
Drew e a Psicóloga se entreolharam em silêncio. O coração dele acelerado, mas mais esperançoso. Ela, consciente de que a batalha delicada entre o psicológico e o físico estava apenas começando — e agora com duas pacientes em estágio de transição.
— Senhor Drew — começou ela com delicadeza — com essa nova notícia da UTI, nós vamos precisar redirecionar nossa estratégia.
Ele assentiu, atento, mas exausto.
— Eu vou conversar pessoalmente com o neurologista da Maris — ela continuou. — Preciso entender os sinais clínicos, saber até onde ela já responde e qual o prognóstico provável. Isso vai nos ajudar a preparar tudo com mais precisão, especialmente a reação da sua filha.
— A senhora acha que está perto? — ele perguntou, com um fio de esperança na voz.
— É possível. Mas, como lhe disse, agora não é apenas Brittany que precisa de preparo. Sua ex-esposa também está prestes a despertar... e podemos não saber qual será a reação dela diante das mudanças. Eu preciso ouvir o neurologista e me posicionar com calma.
Ela fez uma breve pausa e observou-o com ternura profissional.
— O senhor tem dormido bem, senhor Drew? — a psicóloga perguntou com seriedade clínica. — Seu corpo está dando sinais de exaustão. O senhor também está em risco.
— Tenho descansado mal... — ele admitiu. — Mas estou bem. Eu preciso estar forte.
Ela o observou com cuidado.
— Justamente por isso — respondeu com doçura firme. — Se o senhor me permitir, vou conversar com o psiquiatra da equipe ou solicitar ao neurologista que o avalie e, se achar adequado, prescreva um ansiolítico leve. Só o suficiente para ajudá-lo a descansar sem comprometer sua rotina.
— A senhora acha mesmo necessário? — ele perguntou, surpreso com a preocupação.
— Sim. O senhor não é um super-humano. Está carregando o peso de duas vidas frágeis nas mãos. E essas vidas vão precisar de um Drew em pé, firme. Não quebrado.
Ele respirou fundo e assentiu.
— Tudo bem. Faça o que for melhor.
— Vá ver sua filha. Depois disso, o senhor pode aguardar que lhe encaminharei a receita com base na avaliação do médico.
A Psicóloga e o Neurologista
A psicóloga deixou o quarto de Brittany com os olhos discretamente preocupados, mas a postura firme de quem carrega decisões pesadas no silêncio da consciência profissional. Caminhou até o corredor da ala de cuidados intensivos, onde encontrou o neurologista da equipe saindo da UTI.
— Doutor, bom dia. A equipe me informou que a Maris deu sinais de retorno de consciência, é isso mesmo?
— Sim — respondeu ele com sobriedade. — Movimentou os olhos, respondeu a estímulos leves. Ainda é cedo para conclusões, mas o coma profundo já foi superado. Estamos em uma fase mais leve.
A psicóloga respirou fundo e assentiu.
— Isso é um bom sinal, mas também nos coloca em um ponto delicado. A filha dela ainda não sabe o que houve. Eu estou acompanhando a Brittany desde que ela chegou, e apesar do avanço nos últimos dois dias, não considero o estado emocional dela estável o suficiente para receber uma notícia desse impacto.
O médico concordou com um gesto de cabeça, respeitoso.
— Eu entendo. E a senhora quer preparar ambas, certo?
— Exatamente. A Maris pode acordar a qualquer momento, mas não sabemos como será sua reação — ela explicou. — Temos duas pacientes ligadas por um laço frágil, com um histórico de mágoas e distanciamento, e uma interdependência emocional implícita. Qualquer abordagem precipitada pode causar colapso em uma ou em ambas.
Ela respirou mais uma vez antes de completar:
— E há outro ponto, doutor. O senhor Dreew ele está em colapso emocional. Dorme m*l, não se alimenta direito. E carrega sozinho o peso da filha hospitalizada, os netos prematuros na incubadora e a ex-esposa em coma. Eu temo que ele não vá suportar por muito mais tempo.
O neurologista franziu o cenho.
— Ele tem demonstrado sintomas agudos?
— Sim. Irritabilidade, olhos fundos, desorientação em alguns momentos... esgotamento extremo. Eu gostaria de saber se o senhor pode prescrever um ansiolítico leve. Algo que o ajude a repousar sem afetar suas funções diurnas. Ele vai passar no meu consultório no fim do dia para que eu possa monitorando melhor.
O médico assentiu e retirou o bloco de receitas.
— Com certeza. Ele precisa de apoio tanto quanto as duas. Aqui está — disse, entregando a receita assinada.
— Obrigada, doutor. Agora, com sua permissão, vou observar a Brittany mais de perto, enquanto o senhor segue com os exames na Maris. Qualquer alteração, por favor, me avise imediatamente. Assim poderemos planejar a abordagem correta, com cuidado e humanidade.
— Combinado. Estamos alinhados.
Nota da psicóloga
Nota da terapeuta responsável pelo caso de Brittany e Maris:
A decisão de adiar a revelação do estado de saúde da mãe à paciente Brittany foi tomada com base em três pilares fundamentais da psicologia clínica: estabilidade emocional, vínculo afetivo fragilizado e risco de colapso pós-traumático.
Brittany vivenciou um parto prematuro duplo, em circunstâncias de estresse elevado. Ela está em recuperação física e emocional, ainda assimilando o vínculo com os filhos e seu papel como mãe solo. Inserir, neste momento, a notícia de que sua mãe esteve entre a vida e a morte enquanto ela estava em isolamento, poderia provocar nela uma reação de culpa, revolta ou autossabotagem emocional — o que comprometeria seriamente a evolução do tratamento.
Ao mesmo tempo, a paciente Maris está despertando de um coma com possíveis sequelas neurológicas. Sua resposta à nova realidade ainda é desconhecida.
Por esse motivo, a conduta adotada foi: fortalecer Brittany emocionalmente primeiro, para que ela possa ouvir a notícia apenas após a mãe já estar consciente e estável. Assim, será possível conduzir o reencontro de forma segura, com mediação profissional e proteção a ambas.
Toda intervenção emocional m*l planejada é uma possível recaída. E todo silêncio estratégico, quando bem conduzido, pode ser uma ponte para a cura.
Nota Técnica da Terapeuta (Ficcional)
A decisão clínica de aguardar o despertar da mãe (Maris) antes de informar Brittany sobre seu estado se baseia em fatores psicossociais e psiquiátricos relevantes. A paciente Brittany apresenta histórico de distanciamento afetivo da mãe, quadro de puerpério precoce, responsabilidade materna dupla como mãe solo, e ainda encontra-se em processo de vinculação com os neonatos.
*Diante da soma de fatores traumáticos — incluindo o afastamento materno anterior ao parto, o nascimento prematuro dos gêmeos, e o temor da perda — entende-se que o acréscimo de uma revelação emocional intensa neste estágio poderá provocar regressão psíquica, crises de ansiedade, ou episódios depressivos agudos. *
Aguardaremos o despertar da paciente Maris, para avaliar seu estado neurológico, motor e emocional. Caso esteja em condição favorável, faremos a preparação psicológica mútua. A meta terapêutica é: preservar o vínculo futuro entre mãe e filha, sem romper o progresso emocional de nenhuma delas.
Nota da Autora
Por mais que eu esteja escrevendo um romance, eu trato cada personagem como alguém que poderia existir na vida real. A Brittany é uma jovem mãe que está se reerguendo. Por isso, eu, como autora, pesquisei e estudei sobre as consequências emocionais do puerpério, da ausência materna e do parto prematuro. Sei que muitos poderiam se perguntar: “por que não contar logo a verdade?”. Mas essa verdade, se m*l entregue, pode ser destruidora.
Além disso, a Maris — que talvez desperte com sequelas ou confusão — também precisa ser avaliada antes de qualquer reencontro. Não seria justo com nenhuma das duas soltar essa bomba sem preparo. Então, enquanto autora, eu escolhi respeitar o tempo do coração e da mente.
Nos meus livros, não se trata apenas de romance, mas de empatia, reconstrução, verdade com responsabilidade. E é por isso que a revelação será feita no tempo certo, com o mínimo de danos e o máximo de acolhimento.
Nota da Terapeuta (ficcional):
Após análise de conduta clínica, optou-se por adiar a revelação sobre o estado de saúde da mãe de Brittany, devido ao curto tempo de tratamento (menos de 48 horas), ao uso recente de medicação estabilizadora e aos primeiros sinais de vinculação emocional com os recém-nascidos. O risco de regressão ou quebra do processo de autorresponsabilização é elevado em caso de impacto emocional intenso.
Aguardaremos a evolução do caso por mais 48 a 72 horas ou até que a paciente demonstre estabilidade completa, conforme os protocolos de saúde mental materna em situações de puerpério sob trauma associado.