MARHI
Eu solto o cabelo e puxo as coisas para tirar a maquiagem, o barulho a minha volta fica maior com a troca de todas depois da passarela dessa noite.
- Meus pés estão me matando! - Tris se senta ao meu lado, abaixa o zíper da bota de cano alto e parece relaxar. - Você foi ótima, mais alguns desses e eu vou me aposentar de vez.
- Tão cedo? - Dou risada, tirando os cílios. - Agna veio falar comigo, pedi pra me liberar agora é depois disse da reunião, sabe do que se trata?
- Reunião? Não estou sabendo de nada, sobre nenhuma reunião - Tris fica de pé e puxa o robe. - Quando é isso? - Ergo o olhar para ela. - Você aprontou alguma coisa? Convite pra trabalho novo?
Fico parada com o lenço umedecido na altura da bochecha, havia duas razões que Agna chamava alguma de nos para reunião, primeiro, novos trabalhos ou mudança de agenda, segundo, advertência ou correções. Eu não sabia de nada relacionado aos dois casos, na verdade eu não havia parado desde que papai e vovó foram embora na quarta a noite.
- Não sei, não sei, ficou pra amanhã de manhã - Término com o lenço e o descarto, puxando minhas coisas da bancada e encaro as horas no alto da parede.
- Você não vai ficar pro bufê agora, Marhi? Sabe, os patrocinadores estão e temos os bebês cheios das economias e muita comida e espumante caro.
- Fui convidada para uma peça, não posso desmarcar - Falo, uma luz se acende cheia de ideias na minha cabeça.
Era inusitado.
Inesperado.
- Vai trocar espumante por uma peça? Sério?
- Eu posso comprar - Ela gargalha.
- Assim você pode tomar com o fotógrafo? Só você mesmo.
- Eu quero ver Sebastian, quase não nos falamos, ele ocupado e eu também.
- Ainda está saindo como ele então? - Ela faz uma careta.
- Não faz essa cara, ele é um cara bom.
- As vezes acho que você que é boa demais. Modelo em início de carreira, mulher de verdade, bonita e gostosa, embora ele seja um gato, mesmo assim, você é demais pra ele.
- Estou conhecendo ele da mesma forma que ele está me conhecendo.
- Ele é meio falido, certo? Não digo pelo dinheiro ou profissão loira, mas da história, até hoje não acredito que ele possa ter sido traído 4 vezes, nunca vi alguém com esses número. Você é corajosa em pegar um cara que tem chances de entrar pro livro dos recordes.
- Tris?! Não se trata de coragem, se trata de conhecer ele e tentar ajudar de alguma forma, nem que seja escutando, mesmo que esse escutar envolva um bom s**o depois.
- Você não precisa ser um centro de reabilitação para aquele cara - Ergo o olhar pra ela.
- Dar o braço a torcer por uma pessoa não é bem ser um centro de reabilitação Tris, não me importaria de ser também - Faço uma pausa. - Lugares assim ajudam as pessoas Tris, então se eu de alguma forma ajudá-lo, tudo bem, a questão entra quando se confunde ajuda pra melhorar com o aceitar atitude, comportamento e personalidade que vai me prejudicar, e isso que quer dizer? - A ruiva continua me encarando. - Claro que ajudar uma pessoa nunca pode ser sobre se rebaixar por ela ou se anular, mas estar do lado dela, saber quando parar e continuar. Talvez a imagem de um cetro de reabilitação esteja bem anulado hoje, mas o objetivo dele é digno, então se eu for chamada de centro de reabilitação e faça um bom trabalho sem me anular, me minimizar ou simplesmente tirar minha dignidade, bem, tudo bem pra mim. O errado não é tentar ajudar Tris, é aceitar algumas coisas por estar ajudando, estou ciente disso.
- Você consegue fazer uma fala boa depois de 4 horas de trabalho, palmas - Ela se inclina para trás e solta o cabelo que cai em ondas. - O que eu quis dizer e que não é sobre não ajudar, mas o que aceitar. Esse cara pode ser maluco e fazer isso com você, sei que você tem cabeça, mas homem é maquiavélico a ponto de usar uma vitimização, se colocar no papel de vítima quando na verdade é culpado, as vezes que faz exatamente o que você disse: minimiza, anula e simplesmente tira a autonomia de uma garota, garotas sem autonomia podem perder autoestima, dignidade e simplesmente a própria liberdade.
- Sebastian tem sua persuasão e é um pretensioso, mas não vejo ele como alguém que faria isso com uma pessoa.
- Você disse que seu pai o conheceu, o Sr.Paulini deve ter ficado meio louco em ver a garota de ouro acompanhada as oito da matina - Me mexo e procuro o celular na bolsa.
- Foi um deslize, ele me encheu de perguntas e minha avó fez piada até não poder mais, foi como voltar a ser a garotinha do papai, foi divertido.
- Ainda irei me sentar com a sua avó e bebe algumas boas doses com ela.
- Você possivelmente seria arrasada por ela Tris, de verdade - Dou risada.
- Você já vai? - Coloco o sapato e me esquivo de algumas das meninas até o espelho, tirando uma sujeira invisível da calça e ajeitando a jaqueta. - Qual a peça?
- Estreia, não sei dos detalhes, ele disse que vai me pegar aqui hoje, passei o endereço é quando ele chegar vai me dar um toque, ainda não sei se ele já chegou. Depois ele disse que vai me levar pra um lugar que quer que eu conheça.
- Que tipo?
- Ele estava morando com um amigo, Rick o fotógrafo, lembra dele? Mas ele conseguiu um lugar pra ele agora.
- Que brega, ele devia te levar para um 5 estrela, um bom hotel daqueles de cinema, com um quarto digno da senhorita. Não aceite nada menos que o melhor.
Tris se senta na minha frente e eu puxo os brincos, os colocando, vendo o movimento aumentar com o resto das menina e da equipe.
- Não ligo pra isso. Espero? Espero, mas sou alguém fácil de agradar.
- Não deixa ele tirar fotos suas pelada, isso é algo que iria desvalorizar você. Ele é fotógrafo, ele pode pedir isso, certo?
- Ele não é esse tipo de fotógrafo...
- Verdade Tris, ele é o tipo de fotógrafo bobão, que envolve garotinhas como Marhi, um 0 esquerda.
Pelo reflexo do espelho eu vejo Jeny, os cabelos pretos presos e ela me encarando com um sorrisinho de deboche.
- Eu já disse pra deixar Marhi em paz Jeny, inveja é um dos sete pecados capitais - Eu seguro o riso. - Embora você todo os dias passe um bom protetor, porque sabe que pra onde você vai e bem quente.
- Ruiva o assunto não é com você - Me viro e fico de frente pra ela. - Ainda está saindo com aquele cara, Marhi? Que coisa f**a se rebaixar dessa forma, pensei que você tinha um pouco mais de cérebro loira, de verdade.
- Eu pensei que você não palpitava na vida das pessoas Jeny, não consegue me deixar em paz em nenhum trabalho que fazemos juntas? Devia parar - Ela para de rir. - Eu não ligo para seus dramas comigo aqui dentro ou nos trabalhos da agência - Eu dou um passo para frente. - Mas não vou aceitar você falar da minha vida ou de quem está nela.
- Gosta mesmo daquele fotógrafo, não é? Bobinha. Tão novinha ainda pra entender como as coisas funcionam.
- Não vale a pena - Tris me puxa pela mão.
- Exato Tris, aquele 0 esquerda não vale a pena, é um pobre coitado bonitinho, mas só s**o não vale a pena - Respiro fundo e conto até dez. - Devia procurar alguém, como vou dizer, mais grande que você é não mais pequenininho, alguém que seja suficiente.
- Eu não preciso disso, vou chegar em algum lugar por mim mesma, vou ganhar as minhas coisas por mim mesma, não por estar com alguém "grande", isso é estupidez Jeny.
- Anote o discurso da sua amiga Tris, anote bem.
- Estúpida - É a única coisa que falo, dando as costas e puxando minha bolsa e colocando as coisas na arara perto de mim. - Já estou indo, tenha um bom fim de noite, divirta-se Tris, amanhã nos vemos de manhã.
- Boa noite também, me liga se precisar.
Saio da ala e sigo pelos fundos, cumprimento algumas pessoas da organização e puxando o celular, encarando a última mensagem de Sebastian a tarde, eu mando uma perguntando se está tudo de pé, ele fica online e depois some.
Fico parada no hall de saída, esperando resposta é abrindo uma bala pra esconder um pouco da agitação da noite. Certamente a noite seria mais longa.
Quando me aproximo do banco algo me puxa pela mão e quase caio, girando para ver o motivo do puxo, antes que eu consiga a risada me deixa atenta e eu encaro o rosto conhecido e três girassóis embrulhado na mão dele em minha direção, meu coração da um salto e volta a normalidade quando eu encaro os olhos escuros dele, abrindo um sorriso com a cena que meus olhos se deparam.
Sebastian fica parado, enquanto em uma mão está flores na outra segura um cupcake, com cobertura branca e granulado colorido, ele fica paradinho, sem se mexer.
Um surpresa toma conta de mim.
- Você me assustou.
- Eu... Eu - Vejo o nervosismo, ele vai para recolher as flores e eu as pego.
- São lindas, as que você havia me dado já estavam meio murchas, essas vou colar no lugar - Vejo ele suavizar o olhar. - Espero que não tenha pego de nenhum canteiro alheio.
- Dessa vez eu não precisei pegar de nenhum canteiro, na verdade, eu encontrei uma ótima floricultura perto de onde eu estou ficando, então foi perfeito, passei na frente e olhei para as flores, elas olharam pra mim, eu olhei para elas, juro que pude escutar - Ele se inclina um pouco pra frente. - Marhi gosta de flores.
- Só disseram isso sobre mim? - Entro na onda dele.
- Claro, mas depois que eu comprei elas ainda me avisaram - Ele se inclina mais um pouco. - Ela vai ficar satisfeita, mulheres satisfeitas são as melhores.
Entendo a pretensão mesclada com a conversinha dele de conquista barata.
- Realmente - Olho para o bolinho na mão dele. - Apenas as flores são minhas? - Ele da um passo a mais.
- Pelo seu aniversário, o mínimo pela minha falta de senso pelo seu dia - Eu pego o bolinho, sorrindo, enquanto mordo e sinto o gosto de framboesa misturado com chocolate. - Receita de família.
- Delicioso - Puxo-o pelo braço e coloco o meu por baixo do seu. - Eu precisava disso depois do trabalho.
- Está aqui desde que me mandou aquela mensagem mais cedo?
- Sim.
- Não imaginava que era tão demorado.
- Por trás de qualquer coisa que formos fazer temos bastidores, geralmente é uma bagunça demorada, as vezes problemático ou agitado, tudo para garantir o melhor resultado.
- Podemos deixar para outro dia. Te levo pra casa...
- Perder um convite para uma peça? Jamais, agora me fala, o que planejou pra hoje?
- Hoje vai ser uma noite importantíssima - Começamos a caminhar, mordo mais um pedaço do bolinho e suspiro satisfeita, o cheiro gostoso dele me alcança e eu sinto a pele do braço dele enquanto minha mão o toca, a camisa social branca está dobrada e tem dois botões abertos, a barba maior cobrindo a mandíbula, sinto empolgação em apenas olhar e ver que ele está aqui, está bem.
- Estou curiosa pra ver esse teatro, meu caro rapaz.