›◞ OITO

2514 Words
A primeira coisa que notara quando chegou a casa de Jeongguk, era o quanto ela era aconchegante, no sentido mais literal dessa palavra. Não era nada do que imaginara – e só então reparou que havia realmente passado um tempo considerável imaginando como seria o lugar onde o rapaz passava a maior parte do seu tempo –, porque tudo nela gritava lar. Desde o cheiro cálido até a decoração simples e o clima agradável que se instalou pela presença do casal que claramente ainda eram apaixonados e do garoto, que apesar de quieto, só completava o quadro bonito que pintava aquela família. Era o tipo de coisa que ao mesmo tempo que o Kim gostava de observar, também lhe despontava uma certa inveja, porque nunca teve isso em sua vida. Nunca teve pais apaixonados ou um pai presente, e uma família que visivelmente o amasse. — Então, Taehyung-ah… Onde disse mesmo que estudava? Naquele momento estavam na sala de jantar da residência dos Jeon, desfrutando do banquete que o pai ômega do mais novo havia preparado com tanto empenho, e que também havia sido quem havia feito a pergunta que despertara a atenção do Kim. E embora o tom fosse tranquilo ao perguntar, o ômega mais velho analisava cada detalhe e ação do Kim, como uma leão analisando sua presa antes de dar o bote, fazendo com que Taehyung engolisse em seco diante daquilo, um pouco tenso. Sem dúvidas Jeon JaeMin era mil vezes mais intimidante que o outro senhor Jeon, mesmo tendo um porte menor e feições mais delicadas. Havia notado isso desde o momento em que foram apresentados. Agora sabia a quem Jeongguk havia puxado. — A-ah, no Instituto Guan Ho, senhor Jeon. – sorriu fraco, sem jeito, aceitando de bom grado quanto mais um pouco de arroz lhe fora oferecido. — Obrigado… está tudo ótimo, aliás. O senhor cozinha muito bem. — Ele é parente do Yoongi-ssi, amor. – Eunwoo sorriu ao completar, percebendo bem as encaradas analíticas e nada discretas que o marido dirigia o rapaz, notando como ele estava nervoso. Riu baixo. E enquanto isso, o mais novo ali, que se encontrava sentado ao lado do convidado, apenas comia tranquilamente, observando a cena com seus olhos grandes e curiosos, como se ela fosse tão rotineira como o seu respirar. — Oh, sim… O Yoongi-ssi, eu gosto dele. – o moreno sorriu de forma sutil ao lembrar do amigo do filho. Porém logo o olhar novamente repousou no rapaz, revezando entre ele e o filhote. — Mas então… Como se conheceram? Há quanto tempo estão saindo? Não têm más intenções, não é? – sorriu de leve, embora o olhar predatório e ameaçador ainda continuasse ali. Automaticamente, em contrapartida, Taehyung engasgou com o que comia, apoiando o punho fechado à frente da boca, enquanto tossia. — S-saindo? — Appa. – o mais novo franziu o cenho quase que automaticamente, estranhando aquilo. Mas onde é que seu pai havia tirado aquilo? — O quê? E quero saber. – JaeMin respondeu, com um falso tom de inocência. — Você o ama de verdade? Por um acaso não tocou ele com suas mãozinhas arteiras, uh? E- — Amor, por que não me ajuda a pegar os mochis de sobremesa que deixei na cozinha? – o alfa mais velho rapidamente interrompeu antes que o rosto de Taehyung literalmente explodisse de tão vermelho que estava. — Nós já voltamos, uh? O alfa disse aos mais novos, já de pé, antes que o marido pudesse negar seu pedido, e logo lhe estendeu a mão, a qual foi prontamente segurada por um JaeMin um pouco bicudo e contrariado, antes que os dois seguissem até a cozinha. — Mas o que foi isso, ein? – foi a primeira coisa que Eunwoo indagou assim que adentraram a cozinha, o tom quase sussurrado para que só o marido ouvisse. — Ué, a gente não vinha pegar os mochis? — Jae, não é hora pra sarcasmo… – suspirou, vendo o mais baixo revirar os olhos, ainda contrariado, e em seguida cruzar os braços. — Ah, qual é, Woo. Eu só estava me certificando das intenções dele com o nosso filhote… Como você está tão tranquilo? — Amor, você está vendo coisas onde não tem… — Ah, claro. Que alfa nessa idade, com os hormônios à flor da pele, iria se interessar por um jovem ômega, lindo, rostinho inocente e de personalidade forte, não é? A pergunta retórica calou o alfa por um momento, e mesmo tendo aberto e fechado a boca algumas vezes, não conseguiu proferir uma palavra sequer. Talvez porque tenha ficado tão animado com a possibilidade do filho estar fazendo amizade, como alguém que parecia ser um bom rapaz , que nem parou para refletir sobre aquela possibilidade. Instintivamente se inclinou um pouco para o lado, ainda que sem sair do lugar, o suficiente para observar/espiar os dois pela porta da cozinha. O jovem alfa ainda parecia se recuperar do acesso de tosse, enquanto Jeongguk lhe oferecia um copo com água, dizendo algo a ele que Eunwoo não conseguiu identificar num primeiro momento. — Eu… É o Jeongguk, você sabe como ele é… – o mais alto disse lentamente, baixinho, talvez mais pra si mesmo. — E também, ele é só uma criança… — Uma criança que acabou de completar dezessete anos… Eu devo mesmo te lembrar com quantos anos você me engravidou, Jeon Eunwoo? – o mais baixo acabou indagando, também a espiar da mesma forma. — Além do mais, esse garoto parece um delinquente... O alfa não respondeu a pergunta, fazendo apenas uma careta diante da insinuação, voltando a observar também, ao menos até que o filho notasse que estavam sendo observados. Rapidamente voltou à posição inicial, trazendo o marido junto também fora do alcance da visão deles, respirando fundo. — Você está me deixando tenso com isso, Jae. – murmurou, enquanto se recostava no balcão, bagunçando os próprios fios. — Eu… Só fiquei surpreso e um pouco empolgado. O Goo é tão fechado, ele não tem amigos de verdade além do Yoongi, você sabe. E ver ele interagindo com outra pessoa, da idade dele, um alfa ainda por cima … O menor retorceu um pouco os lábios, encolhendo os ombros enquanto cruzava os braços. Afinal, sim, ele sabia. — Eu entendo… Mas eu também me preocupo, não consigo não pensar em possibilidades. – suspirou, prontamente sentindo as mãos grandes do marido tocarem seus ombros, antes de puxá-lo para um abraço. Não hesitou em corresponder, apoiando a cabeça no peito alheio enquanto passava os braços ao redor dele, também se deixando ser envolvido. — Eu sei disso… – o maior disse baixinho, fazendo carinho nas costas do parceiro. — Mas… A gente criou um garoto forte, não é? Ele é o primeiro a notar perigo, e ninguém pode com ele… — Isso é verdade. – fechou os olhos por um momento, soltando o ar por entre os lábios, num riso soprado, permanecendo uns instantes em silêncio. — Vou… Buscar não implicar… Mas e ainda estou de olho, uh? — Eu imaginei que fosse dizer isso. – o moreno acabou acabou sorrindo de leve, afundando o nariz no pescoço dele, deixando um beijinho ali. — Agora vamos pegar esses bolinhos e voltar? Suas insinuações realmente me deixaram preocupado… O murmúrio acabou arrancando um riso baixo de JaeMin que apenas afirmou, antes de se afastar, pegando a pequena bandeja que havia em cima do balcão , não demorando a retornarem à sala de jantar. O restante da refeição ocorreu de forma mais tranquila, com um pedido de desculpas por parte de JaeMin, que foi prontamente aceito, embora Taehyung ainda se encontrasse sem jeito. Por mais que tivesse toda aquela banca e aparentasse ser muito sério na maioria do tempo, a verdade era que ainda carregava certa timidez consigo, ainda mais se levasse em conta a situação. Ainda assim, o clima pareceu amenizar após aquilo, mesmo que Jeongguk vez ou outra olhasse os pais com certas estranheza, curioso para saber o que se passava na cabeça deles naquele momento e o que conversavam minutos antes na cozinha – embora tivesse uma ideia, afinal não era bobo – . — Novamente, senhor Jeon, o jantar estava ótimo… Agradeço por terem me recebido. – o Kim disse, sincero, assim que acabaram, se curvando um pouco ainda sentado. — Não precisa agradecer por isso, na verdade… É bem vindo sempre que quiser. – o ômega mais velho respondeu, a expressão suave, enquanto levantava junto com o marido marido para retirar a louça, vendo quando os dois mais novos repetiram o gesto. — Ah, ah, vocês dois quietinhos ai. — Podem deixar que cuidamos disso, relaxem. –o maior sorriu de forma sutil. E ainda que sem jeito, o Kim acabou concordando ao trocar um olhar com Jeongguk. — Bom, nesse caso… obrigado… e acho que está na minha hora de ir, não quero mais incomodar vocês. – respondeu, sorrindo de leve, sorrindo também. Acabou de curvando mais uma vez. — Foi um prazer conhecê-los. O cumprimento foi muito bem recebido pelos mais velhos, que após uma troca de olhares, sorriram e afirmaram, se despedindo do garoto antes que ele seguisse a saída, com o menor ao seu lado. — Aqui, olhe, pra não esquecer. – o moreno estendeu ao Kim a sacola com as compras alheias assim que teve a chance. — Obrigado. – sorriu de leve mais uma vez, ao pegar a sacola, acabando por também pegar seu casaco que estava pendurado no cabideiro próximo à porta. — … O que está fazendo? Franziu o cenho ao ver o mais baixo pegar o próprio moletom que ali também estava pendurado. — Vou te acompanhar até o ponto de ônibus. – deu ombros, como se a resposta fosse óbvia, enquanto ajeitava o moletom escuro sobre o corpo, só então olhando o mais alto, franzindo o cenho. — Não me olhe assim, e vem logo. Indicando a saída, abriu a porta e deu espaço para o maior, que levou alguns poucos segundos, mas acabou o acompanhando. A noite estava bonita, com o céu completamente limpo e a lua cheia brilhando lá no alto, e o tempo, apesar de um pouco mais frio do que os dias anteriores, estava agradável para uma caminhada tranquila como a que faziam. Taehyung mantinha uma das mãos no bolso do jeans surrado enquanto a outra segurava a sacola com suas compras que felizmente ainda estavam conservadas. O de fios coloridos estava um tanto pensativo, em especial com o desfecho daquele dia tão fora do comum e surpreendentemente agradável, e vez ou outra discretamente olhava o moreno ao seu lado, que parecia um tanto distraído também. — Desculpe pelo meu pai. – disse subitamente, findando o silêncio confortável que havia se instalado entre os dois, ganhando agora a total atenção do Kim. — Sabe, pelas perguntas estranhas, eu não imaginei que ele fosse fazer aquilo… Ainda que soasse sério naquele pedido, estava realmente acanhado; ficava sempre que acabava lembrando da cena. Encolheu um pouco os ombros, o rostinho sério um pouco corado, e agora visivelmente, porque sequer notara que havia esquecido de colocar máscara antes de sair. — Está tudo bem, não tem que se desculpar. – o Kim acabou negando, sorrindo um pouco ao olhar os próprios pés, embora no fundo também estivesse sem jeito. — Tenho certeza de que ele só queria saber que tipo de pessoa estava perto do filho dele, é compreensível… Vocês se parecem em personalidade. — O Eunwoo appa vive dizendo isso também. O Kim acabou rindo baixo, se permitindo fazer aquilo com uma naturalidade que o surpreendeu, enquanto balançava a cabeça. — Eu gostei de conhecer eles. – disse sincero, antes de olhar o mais novo. — Obrigado… Sabe, foi legal você ter me convidado. O moreno acabou afirmando calmamente. — Não precisa agradecer… Só não vai ficar todo emotivo. – fez uma careta. — Até parece. – sorriu de leve, enfim parando quando finalmente haviam chegado no ponto, que não era muito distante da casa dos Jeon. — Então… Chegamos. — É… Ambos acabaram trocando um olhar silencioso, incertos do que fazer a seguir sem saber como se despedirem. Talvez no fundo nenhum dos dois realmente quisesse aquilo. Mas no fim o silêncio foi quebrado pelo som característico de notificação de mensagem vindo direto do bolso do mais alto, onde o celular estava. Ambos piscaram algumas vezes diante daquilo, prontamente desviando o olhar, enquanto Taehyung rapidamente pegava o aparelho, resmungando baixo para conferir o quê de tão urgente havia os tirado daquele transe. Era uma mensagem de Hoseok. Porém antes que pudesse conferir o conteúdo da mesma, novamente sua atenção foi despertada. — Então, eu já vou indo. – o moreno anunciou, mordendo de leve o lábio, antes de dar um passo pra trás. — Boa noite? — Oh… Sim, claro. Boa noite. – o Kim sorriu fraco, afirmando e logo observou o Jeongguk girar nos calcanhares antes de seguir de volta a própria casa. Suspirou largando o corpo sobre o banco que havia ali, bagunçando os próprios fios claros, antes de novamente focar na mensagem e na pergunta que ela continha, na tentativa de desanuviar a mente e aquele turbilhão de sensações que naquele momento o inundavam. Não muito diferente Jeongguk, que durante todo o percurso de volta não conseguiu um segundo sequer se livrar da imagem do Kim o observando daquela forma, o da sensação quentinha que enchia seu peito sempre ele fazia isso. Era tão estranho. Ainda mais porque não conseguia achar r**m, e aquilo só conseguia confundir o pequeno Jeon, que não estava acostumado a lidar com tudo aquilo. Acabou sacudindo a cabeça de um lado a outro, dando umas batidinhas nas próprias bochechas ainda quentes, antes de adentrar sua residência. Conseguia ouvir as vozes e risadas dos pais vindas da cozinha enquanto retirava os sapatos e os deixava de lado, bem como moletom. Sorriu de forma sutil, consigo mesmo, diante daquilo, lembrando das palavras Kim sobre eles. Mais uma vez negou, tratando de afastar o nome do outro dos seus pensamentos, decidido a seguir ao seu quarto e tomar um banho quente antes de se jogar em sua cama e esperar seu JaeMin após vir cheio de perguntas, como previa que iria acontecer. Mas parou no meio do caminho, ao ver a tela do seu celular, no momento largado sobre a mesinha de centro, brilhar. O moreno tombou a cabeça para o lado, porém logo tratou de recolher o aparelho antes de seguir seu percurso na intenção concluir seus planos da noite em tempo. Ainda assim, seria uma mentira das grandes dizer que a mensagem que havia acabado de receber não havia desviado toda a sua atenção para a mesma. Yoongi hyung Ei, Goo Tava pensando... Vai estar ocupado esse fim de semana? O que acha de viajarmos? Jeongguk, mais uma vez parou , agora em frente a porta do seu quarto enquanto analisava aquelas mensagens, muito pensativo. Porém acabou dando de ombros consigo mesmo. Talvez viajar, não importa pra onde, fosse realmente o que estava precisando.
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