›◞ DEZ

2309 Words
— Se vocês se beijarem na minha frente eu vou vomitar, ok? O Kim cortou o silêncio, surpreendendo um pouco o Min, que ergueu o olhar do celular que segurava, antes de focar no primo por um momento, finalmente fechando a porta que dava para o lado de fora, local de onde vinha. Naquele momento se encontravam numa das pequenas hospedarias tradicionais que haviam na cidade. Já havia anoitecido há um certo tempo, e após passarem o dia inteiro andando, e explorando cada cantinho que aquele lugar tinha a oferecer, a última coisa que queriam era pegar um trem de volta à cidade, por mais que a viagem nem fosse ser tão longa assim. Entre outras palavras, estavam exaustos. E aquilo não se aplicava apenas a um ou dois deles, mas sim ao quatro. Então havia sido unânime terem decidido passar a noite por ali mesmo e só partirem no dia seguinte. Não era de todo m*l. — Eu não sei do que está falando, TaeTae. – por mais que seu tom de voz aparentasse desinteresse, o Min ostentava um sorriso divertido enquanto observava o que havia acabado de tomar banho e agora secava os cabelos com uma toalha menor, já devidamente vestido. O Kim estalou a língua no céu boca, um tanto contrariado, largando os braços ao lado do corpo. — Você sabe muito bem do que estou falando. – semi cerrou os olhos na direção do azulado, que apenas riu baixo, negando e seguindo até onde estavam os futon e cobertas bem dobrada, largando o próprio corpo sobre um deles. — Você tá… Estranho. Tão animado e sorridente. Então ou é isso… Ou então estão aprontando algo. — Você é muito desconfiado… Não me diga que está com ciúmes. Sabe que tem Yoongi suficiente pra todo mundo não é? – indagou, parecendo muito sério e estendendo os braços como quem oferecia um abraço. Mas riu quando o primo tentou lhe acertar com a toalha, tombando o corpo para trás – mesmo que ela tenha passado bem longe de si. Taehyung também riu, negando. — Eu to falando sério. — Eu também. – o azulado negou também, a postura mais relaxada após rir um pouco, mas o olhar afiado e cheio de significados também estava ali. — Olha… O Hoseok é doce e atencioso. Me faz rir… E eu nem sou religioso, mas Deus foi generoso ali, ele é um colírio pros olhos. – disse após uma pausa intencionalmente dramática, satisfeito ao ver uma careta do Kim. — Então está rolando mesmo? — Eu não disse isso. – continuou. — Apenas que… realmente não seria nenhum sacrifício beijar aquela boca… Mordeu o lábio de forma sutil, enquanto olhava o nada por um momento, mil e um pensamentos – nada castos – rodeando a sua mente. — Céus… Eu amo vocês, sério, e apoiaria em qualquer coisa. Mas… Ew. – Taehyung fez uma careta, sentindo até mesmo um arrepio lhe subir a espinha ao imaginar o que estava se passando na cabeça do Min naquele momento. E não era um arrepio do tipo bom. — Ei! – o Min novamente riu. — Está dizendo isso, mas aposto o que quiser que também quer beijar na boca. Se quiser apostar mesmo, eu digo até a boca de quem você quer beijar. — Quem quer beijar na boca? Taehyung, que havia aberto a boca em busca de responder à altura, embora não tivesse nenhuma resposta em mente de fato, travou um pouco quando a outra voz se fez presente. E automaticamente ambos pares de olhos estavam no rapaz que havia acabado de sair do banheiro e agora os olhava com certa curiosidade e interesse evidentes enquanto enxugava os fios ruivos. — N-nada. – respondeu rapidamente antes que Yoongi tomasse a fala. — Eu… Eu vou tomar um ar, okay? – indicou a saída, enquanto jogava a toalha que antes usava no primeiro apoio que encontrou e catava o casaco de moletom que estava ali perto, antes de seguir a mesma. — E vocês dois… Eu… Muito cuidado com o que vão fazer. Estão acompanhados. Apontou, meio desajeitado, enquanto olhava os dois por um momento, antes de sair pela porta de correr o mais rápido que conseguiu. E só então se permitiu respirar adequadamente. Ou ao menos tanto quanto podia. Consequentemente sua pulsação, que antes parecia tão travada quanto ele ficara, aumentou gradativamente, frenética, também sentindo que seu rosto parecia em brasas de tão quente, o que esperava verdadeiramente que os dois lá dentro não tivessem notado. Por Deus, estava tão ferrado. Suspirou, enquanto apoiava a testa na porta ainda fechada, tentando controlar tanto a inquietação externa quanto a interna. É, ele era um completo covarde. A quem estava querendo enganar? Sabia que Yoongi não estava enganado. Ele poderia ter apenas falado para provocá-lo e deixá-lo com vergonha, mas havia acertado em cheio. Sim, ele queria aquilo e sim, com o Jeon Jeongguk. Queria beijá-lo até seus lábios ficarem dormentes e enfim saciar a curiosidade quase insuportável que havia lhe surgido sobre qual seria o sabor dos lábios dele. Queria tanto, que perdeu a conta quantas vezes naquele dia havia pensado em o fazer sempre que ele estava perto, mas tinha certeza de que não foram poucas. Talvez estivesse louco, porque parecia loucura pensar que realmente queria aquilo, porém a verdade era que estava pouco se fodendo. Nesse caso era um louco covarde, e aparentemente p********o também, era um completo desastre. — Eu tô bem mesmo, appa. Amanhã cedo estamos saindo, uh? Vou chegar em casa antes que percebam. Não têm de se preocupar. A voz baixa e suave soou no local, e por um momento o Kim imaginou que estivesse tendo um delírio. Lentamente desencostou a testa da porta, olhando a mesma por um momento antes de sem pressa voltar-se para trás, não tardando a avistar o centro da sua própria confusão interior bem sentadinho na ponta do batente de madeira da varanda, enquanto falava ao celular. Parecia tão imerso na própria ligação que nem sequer demonstrou notar a presença de Taehyung, distraidamente brincando com uma pequena florzinha que provavelmente havia retirado do pequeno canteiro ali perto. O rapaz nem sequer se lembrou daquele detalhe quando saiu apressado do cômodo, e automaticamente sentiu-se nervoso. Droga. Qual era o seu maldito problema? Não tinha motivos para ficar nervoso. Estava tudo bem, tudo certo. Haviam passado o dia tranquilamente, e conversado mais do que nunca, desde que se conheceram. E isso porque Jeongguk nem era do tipo falante demais. Ainda assim, eles estavam evoluindo. Era bom, e confortável, e Taehyung queria mais daquilo. Então não podia começar a estragar as coisas. Não queria ser um i****a, nem assustá-lo, nem que achasse que ele só pensava com o p*u. Porra. — Taehyung? — Hm? O de fios cinza rapidamente piscou, despertando de seus devaneios acelerados bem a tempo de encontrar o olhar curioso do Jeon em si. E por um momento o receio de ter dito algo em voz alta lhe invadiu. Engoliu em seco. — O-oi. – enfim quebrando o silêncio curto que se instalou, o Kim acenou sutil com um meneio de cabeça. — Desculpe… Eu não quis atrapalhar sua ligação. — Não atrapalhou… – balançou a cabeça, suavizando a expressão. — Eu já tinha acabado quando te vi ai… Tá tudo certo? — A-ah, sim, sim. – afirmou calmamente, logo fazendo uma pausa breve, antes de respirar fundo e enfim soltar o ar. — Então… – limpou a garganta. — Seus pais… estão mais tranquilos? — Oh… Acho que podemos dizer que sim. – Jeongguk, que ainda estranhava um pouco o comportamento alheio, não deixou de afirmar, desviando o olhar para o celular por um momento antes de focar nele novamente, o vendo se aproximar. — Eles sempre se preocupam, mesmo que até o Yoon tenha vindo falar com eles. O JaeMin appa bem mais, ele é assim mesmo, mas o appa Eunwoo vai cuidar disso… — Entendo… Espero que ele consiga. Mas eu acho que entendo eles, de toda forma. – sorriu de leve, sem mostrar os dentes vendo o moreno afirmar enquanto relaxava os ombros. Sentou-se o seu lado. E então ambos voltaram-se a paisagem noturna e bonita que tinham diante de si naquele momento, em completo silêncio, apenas apreciando, quietos, a calmaria e a pequena sensação de aconchego. A noite estava quieta e um pouco fria – o que era normal, dado que estavam perto das montanhas –. Discretamente o Kim olhou o mais baixo pelo canto do olho, conferindo se ele demonstrava estar desconfortável de alguma forma. Por mais durão que fosse, ainda era um garoto ômega, o que significava que seu corpo era mais sensível, devido ao frio principalmente. Mas ele parecia bastante confortável mesmo que mantivesse apenas uma dos cobertores – que provavelmente havia pego antes de sair – sobre os ombros esguios. E aquilo fez Taehyung relaxar um pouco mais, além de conter a vontade insistente que lhe surgiu de apenas se aproximar mais e mantê-lo aquecido. Era instinto, afinal. Apertou um pouco os joelhos, focando na grama verdinha e bem cuidado que rodeava o local e qual seus pés descalços tocavam, gostando da sensação. Havia fugido do primo com tanta pressa que esquecera completamente que precisava de sapatos, mas no fim não estava arrependido. Fechou um dos olhos de forma sutil quando uma brisa leve passou por eles, sacudindo as folhas das árvores espalhadas por ali perto, antes de novamente olhar o moreno, agora mais diretamente. E embora ele tenha parecido se encolher um pouco, não demonstrava estar de fato incomodado, pelo contrário o olhar contemplativo ainda se encontrava na paisagem, em especial no céu limpo e parecendo ainda mais estrelado que o habitual. — A noite está bonita… – comentou, novamente quebrando o silêncio confortável, ante o suspiro que soltou. Se ajeitou confortavelmente, abraçando a si mesmo, antes de voltar-se ao mais alto ao notar seu silêncio. — … O quê? — Hm? A-ah… Não, não é nada. – respondeu rápido, surpreso por ter sido pego no flagra o olhando tão descaradamente, enquanto desviava o olhar no mesmo instante. Mas logo em seguida mordeu o lábio de forma sutil, por que mentir afinal? — Na verdade… É que ainda não estou muito acostumado a te ver sem máscara… — Oh… — N-não que seja algo r**m, claro. – consertou rápido, receoso de ser m*l interpretado. — Eu… Gosto. Eu gosto de te ver sem ela… É bonito. – disse mais baixo a última parte, engolindo em seco. Não pensara bem nas palavras, apenas foi sincero. E mesmo que soubesse que não havia falado nada demais, ainda assim repassava cada parte em sua mente impulsiva, não querendo ter soado “ousado” demais. Jeongguk por outro lado continuava o olhando, o rosto agora um tanto corado e ainda carregando certa surpresa, só sendo possível observar por conta da luz da lua que banhava isso dois. Ele ainda abriu e fechou a boca umas vezes, literalmente travado. — V-você… Às vezes fala muito. – foi o que disse por fim, num murmúrio, antes de desviar o olhar pro colo. Mas era visível que estava sem jeito, por mais que não quisesse demonstrar. Estava tão sem jeito e sem saber como reagir que sequer conseguiu sustentar o olhar. Não estava acostumado a ouvir aquele tipo de coisa. Já ouvira muitos comentários nojentos de caras que só estavam interessados nos seu corpo e o viam como um objeto para satisfazer seus desejos, pra esse tipo de situação ele tinha respostas ácidas na ponta da língua e energia o suficiente para fazer qualquer um se arrepender de ter aberto a boca apenas para despejar porcarias. Mas aquilo… Era diferente. E justamente por ser diferente que não sabia como reagir. Era assustador, novo, dava aquele frio na barriga, e mesmo assim… Não era r**m. — Eu falo muito mesmo… Quando fico nervoso. Mas também sempre sou sincero… – ergueu um pouco o canto dos lábios, porque era sempre fascinante observar cada reação dele. E aproveitando aquele embalo, apenas continuou uns segundos depois antes que perdesse a coragem: — Eu… Posso perguntar? — … Depende. O quê? — O porquê de você sempre usar máscara. Qual a história? – disse, sem rodeios, antes mesmo que notasse. Mas sem resposta imediata, completou: — Já… nos encontramos muitas vezes. E mesmo assim, acho que essa é a segunda vez que te vejo sem ela. E você não parecia doente antes. Tenho pensado nisso há algum tempo, me deixou curioso… Soltou o ar por entre os lábios assim que acabou, tendo deixado a frase no ar, os ainda grudados no menor, que diferente da outra vez permaneceu com o olhar fixo no colo parecendo tenso, tão tenso quanto o silêncio que dessa vez havia se instalado. Foi o suficiente para fazer Taehyung ter se arrependido quase que automaticamente por ter feito a pergunta. Não entendia, mas aquele silêncio era a confirmação de que era algo bem pessoal e havia passado dos limites. Suspirou, pronto para pedir várias desculpas por ter sido invasivo e pedir que ele esquecesse aquilo, mas se surpreendeu quando a voz dele novamente cortou o ambiente até então quieto: — Eu… Acho que uso porque de alguma forma me faz sentir seguro. – por mais distante que ele parecesse estar, a resposta havia soado sincera. — Acho que provavelmente é meio clichê, mas já me machucaram bastante a esse ponto. As palavras foram como um soco no estômago do Kim, e lhe provocou mais dúvidas que lhe trouxe respostas, porém era o suficiente. Não iria pressioná-lo. — Jeongguk, você não precisa se não quiser… — Eu sei… – balançou a cabeça, flexionando os joelhos calmamente, os trazendo para perto do corpo e em seguida apoiando o queixo sobre os mesmos. — Eu vou… te contar a minha história.
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