POV Olivia
Connor tenta falar comigo enquanto o carro continua se movendo rumo a um lugar que vai ser meu inferno pelos próximos seis meses. Saber que isso não é permanente é a única coisa que me impede de perder completamente o controle. Se eu soubesse que meu pai não ia se meter em encrenca, eu voltaria correndo para casa na primeira chance que tivesse.
Uma mão no meu antebraço me tira dos pensamentos. Imediatamente, sacudo a mão dele para longe.
— Connor, deixa eu deixar isso claro. Não me toque. Não fale comigo. Eu posso não ter escolha sobre morar com vocês pelos próximos seis meses, mas é só isso que vão ter de mim. No minuto em que esses seis meses acabarem, eu vou voltar para minha casa de verdade, com meu único pai de verdade.
Olho para minha mãe, esperando que minhas palavras a machuquem tanto quanto ela está me machucando. Lágrimas escorrem pelo rosto dela.
— Chega — diz Xavier, tirando o carro da estrada. — Sai do carro agora, Olivia.
Estou tentada a mandar ele se f***, mas algo dentro de mim faz minha mão se mover sozinha para abrir a porta. Saio e fecho a porta atrás de mim. Cruzo os braços sobre o peito e me recuso a olhar para Xavier.
— Olha para mim, Olivia. Quero ter certeza que você está ouvindo e a única forma de saber é se você me der seus olhos.
Olho para ele e juro que os olhos dele mudam de cor, mas afasto esse pensamento.
— Eu sei que você está brava, e tem todo o direito de estar. Essa situação não é fácil pra nenhum de nós. Eu entendo que você ama seu pai e quer morar com ele, mas a mulher naquele carro é sua mãe — ele fala.
Vou abrir a boca, mas ele me silencia com a mão levantada.
— Ela é sua mãe e merece respeito. Você não é mais uma criança, Olivia. Em seis meses você será adulta e precisa começar a agir como tal. A vida raramente é justa, então é melhor você aprender a levar na esportiva porque algum dia pode ser você sentada no carro e sua filha agindo como se te odiasse.
— Isso nunca vai ser comigo porque eu não sou uma traidora. Eu nunca trairia meu marido. Por mais injusta que a vida seja, eu nunca vou ser ela. Quanto a respeito, ele é conquistado, não dado de graça. Eu perdi todo respeito por ela quando ela escolheu você em vez do meu pai. Se você não gosta da minha atitude, então me mande para casa. Eu vou ficar feliz de nunca mais ver vocês três na minha vida.
Xavier dá um passo em minha direção e juro que sinto que não consigo respirar.
— Xavier, por favor. Eu quero chegar logo na casa — minha mãe fala do lado do carro. Nem percebi quando ela saiu.
— Entra no carro e não quero ouvir mais uma palavra negativa sua durante o resto da viagem.
— Eu fico quieta se todo mundo me deixar em paz — digo, escorregando de volta para o carro.
— Oli — começa Connor, e eu faço questão de fechar a boca antes de voltar a olhar pela janela.
Não sei quanto tempo dirigimos, porque devo ter dormido.
— Oli, hora de acordar. Já chegamos — diz Connor.
Me sento rápido e quase suspiro ao ver o que só pode ser descrito como uma mansão. Felizmente, me contenho e mantenho o rosto impassível. Abro a porta e saio.
Um grito alto me faz olhar para a entrada. Uma garota bonita, loira e jovem corre em minha direção. Antes que eu possa recuar, ela me envolve num abraço apertado de quebrar ossos.
— Oh, minha deusa, você é tão linda. Você é a cara da sua mãe. Estou tão animada para te conhecer. Ouvi tanto sobre você — fala sem parar.
— Becca, amor, respira. Você está assustando ela — diz Connor. Ela ri e dá um passo para trás.
— Desculpa, só estou feliz que você finalmente chegou — ela fala.
— Oli, essa é minha namorada Becca — ele diz.
Olho feio para ele e o sorriso some do rosto dele.
— Desculpa, Olivia. Becca, essa é minha irmã, Olivia.
Por mais que eu queira ser uma b***h para punir o Connor, não consigo. Becca parece doce e muito diferente das garotas com quem ele normalmente sai. Não me entenda m*l, ela é bonita, mas não é magrela. Tem curvas, e deve medir só pouco mais de um metro e meio.
— Prazer em conhecer você, Becca. Se não se importar, eu só quero ir para meu quarto e ligar para meu pai.
— Claro, imagino que hoje tenha sido demais — ela diz.
— Vamos, Olivia. Vou te mostrar seu quarto — minha mãe fala.
Sem dizer uma palavra, eu a sigo. Quando entramos, fico impressionada com o tamanho do lugar. O que é ainda mais chocante é a quantidade de gente circulando por ali. Minha mãe começa a falar sobre a casa, mas eu paro de ouvir.
Eu não me importo com esse lugar, não é meu lar.
Subimos duas escadas e caminhamos por um corredor longo.
— Esse é nosso andar. Meu quarto é no fim do corredor. O quarto do outro lado do seu é o do Connor e esse aqui é o seu — ela diz.
Abre a porta e, em qualquer outra situação, eu amaria o quarto. A decoração é parecida com o meu quarto verdadeiro. Uma grande diferença é o tamanho da cama. A minha em casa é queen e essa deve ser king.
— Você tem banheiro só seu por aquela porta.
Assinto e vou até uma grande janela panorâmica.
— O jantar é às quatro. O Connor vai te mostrar onde fica a sala de jantar — ela diz.
— Não, não vou jantar com vocês. Vou comer aqui. Não vamos ser uma família feliz, não importa o quanto você queira substituir o pai.
— Olivia, eu amo seu pai — ela começa a dizer, mas eu a interrompo.
— Nem pense em dizer que ama meu pai. Você é uma mentirosa e uma traidora. Posso até ter que ficar aqui porque o juiz mandou, mas não quero estar aqui. Não quero estar perto de você. Vou cumprir minha sentença nessa prisão, e no momento em que eu fizer dezoito anos, você nunca mais vai me ver. Agora, se não se importa, eu quero ligar para meu pai. O único pai que me resta.
— Me desculpe, Olivia — ela diz.
— Essas são as duas palavras mais inúteis do mundo. Elas não consertam nada. Não mudam o fato de que você destruiu nossa família — digo antes de voltar a olhar pela janela.
O som da porta se fechando faz meus ombros caírem.
Seis meses, Olivia, eu me repito.
Tiro o celular do bolso e disco o número do meu pai. Ele atende no segundo toque.
— Oi, Garota Oli. Já estou com saudades — ele diz.
— Também sinto saudades, pai.
— Como é a casa nova?
— É só um prédio, pai. Mesmo que fosse um palácio, eu odiaria estar aqui porque não estou com você.
— Ah, Oli, eu sei que você está brava, mas não quero que você sofra nesses próximos seis meses. Um dia tudo isso vai ser só uma má lembrança. Por mais bravo que eu esteja com sua mãe, ela te ama. Não espero que você a odeie por minha causa, Oli.
— Eu não a odeio por você, odeio por mim mesma. Ela destruiu tudo. É egoísta. Nunca vou perdoá-la.
— Tá bom, vamos falar de outra coisa por enquanto — ele diz.
Conversamos por uma hora sobre tudo, de filmes a escola. Estou com medo de ir para a nova escola, mas meu pai quer que eu encare isso.
Quando desligo, me deito na cama e fecho os olhos. Uma batida me faz sentar.
Olho o celular e vejo que já passou das quatro. Desço da cama e vou até a porta. Quando abro, espero ver o Connor, mas é o Xavier.
— Já é hora do jantar — ele diz.
— Não estou com fome, e já disse para minha mãe que não vou jantar com sua famíliazinha.
— Olivia, estou tentando ter paciência com você, mas toda vez que você faz sua mãe chorar, fica cada vez mais difícil.
— As emoções dela não são problema meu. Ela criou essa situação. Se vocês me deixarem em paz, não vou magoar ninguém.
— Chega, você não vai continuar machucando minha esposa — ele diz.
As palavras dele me fazem recuar.
— Xavier — a voz da minha mãe faz ele virar a cabeça para ela.
— Esposa? Vocês nem estão divorciados ainda.
— O divórcio foi finalizado há cinco dias, e nos casamos há dois. Então cresça, Olivia. Essa é a realidade. Você não vai continuar machucando sua mãe sem consequências — ele diz.
Olho entre ele e minha mãe, depois viro e corro para o banheiro. Tranco a porta e deslizo até ficar encolhida no chão.
— Que p***a, Xavier? Como ousa falar isso com ela sem falar comigo antes? Essa é minha filha, e você não tinha direito.
— Tenho todo o direito. Sou o chefe desta família e o Alfa — ele responde.
— Você até pode ser o Alfa, mas eu sou a Luna. Vai embora e pega um cobertor e um travesseiro porque você não vai dormir na minha cama hoje — ela diz.
— Evelyn — ele fala, a voz mais suave.
— Vai embora agora, Xavier — ela ordena.
Alguns segundos depois, uma batida suave na porta me faz segurar o choro. Recuso-me a deixar ela ouvir meu pranto.
— Olivia, me desculpa pelo que aconteceu. Xavier não deveria ter dito isso. Por favor, abre a porta para a gente conversar, Oli — ela implora.
Por que meu pai não me contou que o divórcio estava finalizado?
Minha mãe continua batendo, mas eu nem tenho coragem de dizer para ela ir embora.