4 Confie em mim

1594 Words
Olivia POV Não sei quanto tempo fiquei deitada no chão do banheiro depois de chorar até dormir. Me esforço para levantar e esticar os músculos, tentando não pensar na dor no peito. Vou para o chuveiro e ligo a água o mais quente que consigo suportar. Tiro a roupa e fico debaixo do jato, mas não consigo parar de pensar nas palavras do Xavier. No fundo do meu coração, sabia que nada iria reunir minha família, mas nunca imaginei que minha mãe se casaria com ele três dias depois de se divorciar do meu pai. Afasto esses pensamentos por enquanto e me esfrego no banho. Deixo a água aliviar meus músculos doloridos e foco no que preciso fazer para sobreviver aos próximos seis meses. Saio do banho e me envolvo numa toalha azul bem macia. Vou até a porta e encosto o ouvido nela. O quarto está silencioso. Rezo para que ninguém esteja lá fora antes de abrir a porta. Meu passo vacila quando vejo Rebecca sentada na minha cama. — Por que você está no meu quarto? — falo seca. Vejo um olhar magoado passar pelos olhos dela. Essa garota não me fez nada e não é justo eu ser grossa com ela. — Desculpa, Rebecca. Você não merece minha raiva. Eu só quero mesmo ficar sozinha. Ela se levanta e dá dois passos em minha direção. — Desculpa também. Não devia ter entrado sem avisar, mesmo que só quisesse saber como você estava. Ouvi o Alfa e a Luna brigando e sabia que era por sua causa — ela diz. — Posso te fazer uma pergunta, Rebecca? — Claro — responde com um sorriso sincero. Em outra situação, acho que poderíamos ser boas amigas. — Ouvi o Xavier se chamar de Alfa e minha mãe de Luna. Agora você falou isso também. Por quê? Ela parece surpresa com a pergunta, vai abrir a boca para responder, mas uma batida na porta a interrompe antes. Eu não me movo para abrir, e fico grata por Rebecca também não se mexer. Segundos depois, outra batida e a voz do Connor quebra o silêncio. — Olivia, sei que você está aí. A gente precisa conversar. Sei que você está chateada com o casamento da sua mãe com o Xavier, mas quando souber tudo, vai entender — ele fala. A raiva sobe e eu vou até a porta. Abro sem me importar que ainda estou de toalha. — Vai se f***r, Connor. Rebecca se assusta atrás de mim. — Só porque você substituiu nosso pai, não significa que eu tenho que aceitar nada disso. — Essa é a última vez que vou dizer: não tenho mais irmão nem mãe. Sou prisioneira aqui até fazer dezoito. Vou ficar feliz sentada nesse quarto até o dia de poder sair. Não tente falar comigo de novo. Esquece que eu existo. Viro para Rebecca. — Rebecca, eu queria muito me vestir para dormir e passar a noite sozinha. Talvez a gente possa conversar outra hora, quando eu não estiver tão explosiva. — Claro — ela diz. Espero que ela vá até a porta, mas ela se aproxima e me abraça. Eu fico tensa no começo, mas depois relaxo. Não retribuo, mas também não a afasto. Quando me solta, se dirige à porta. Os olhos do Connor encontram os meus. — Por mais que você sinta o que for por mim, Olivia, eu ainda te amo — ele diz. Vou até a porta e a fecho sem responder. Tranco e me encosto, respirando fundo. Depois de alguns segundos, vou até a única porta do quarto que não tinha tentado — acho que é o armário. Quando abro, fico boquiaberta. Está cheio de roupas. Chego mais perto e vejo que todas ainda têm etiqueta. A raiva sobe imediatamente. Se ele acha que comprar coisas vai mudar como me sinto, está muito enganado. Saio do armário e vou até uma cômoda grande. As gavetas estão cheias de roupas íntimas, calcinhas e pijamas. Pego um conjunto de pijama e deixo a toalha cair no chão. Não tenho escolha a não ser usar essas roupas, mas se o Xavier acha que isso vai me amolecer, está muito enganado. Pego a toalha e jogo no cesto de roupas no canto do quarto. Quando vou para a cama, uma onda de cansaço me domina. Me enrolo nos lençóis frescos e pego o celular no criado-mudo. Ele toca duas vezes antes do meu pai atender. — Garota Oli — ele fala arrastando as palavras. — Pai, está tudo bem? — Estou bem, querida. Só exagerei um pouco na bebida. Eu te amo, Garota Oli. Meu peito dói enquanto luto contra um soluço que quer escapar. Meu pai não bebe. — Também te amo, pai. Só queria desejar boa noite. Ligo para você amanhã cedo. — Tá bom, Oli. Boa noite, querida — ele diz antes da ligação cair. Me encolho na cama e deixo as lágrimas que segurava caírem. *** Na manhã seguinte A luz que entra pela janela é quente no meu rosto. Me estico e pego o celular. Fico chocada ao ver que são nove horas. Isso significa que dormi doze horas. Queria dizer que foi um sono tranquilo, mas fui atormentada por pesadelos de perder meu pai. Uma batida na porta me tira dos pensamentos. — Olivia, trouxe seu café da manhã — diz Rebecca. Assim que ela fala café da manhã, meu estômago ronca. Jogo as cobertas para o lado e desço da cama. Chegando na porta, toco na maçaneta. — Você está sozinha, Rebecca? — Estou — ela responde. Abro a porta e saio do caminho para ela entrar. O cheiro de ovos e bacon me faz salivar. Tranco a porta e pego o prato das mãos dela. — Obrigada — digo, sentando na cama. Começo a comer imediatamente. Rebecca senta na cama e cruza as pernas à minha frente. Sentamos em um silêncio confortável enquanto continuo a comer. Finalmente ela quebra o silêncio. — Olivia, você pode me dizer por que está tão brava com seu irmão, sua mãe e o Alfa Xavier? — ela pergunta. — Fico surpresa que meu irmão não tenha te contado. — Ele disse que não estava pronto para falar sobre isso, mas eu tenho a sensação de que ele está com medo de me contar — ela responde. Coloco o prato vazio na mesa ao lado da minha cama e volto a focar na Rebecca. — Há um mês eu tinha a família perfeita. Não me entenda m*l, a gente brigava, mas se amava. Minha mãe e meu pai pareciam sempre tão apaixonados. Até que um dia cheguei da escola e encontrei minha mãe beijando o Xavier. Poucos dias depois me disseram que meus pais iam se divorciar. Minha mãe e o Connor praticamente substituíram meu pai. E se isso não fosse r**m o bastante, fui obrigada a deixar meu pai sozinho porque minha mãe e o Xavier levaram ele à justiça pela custódia. — Meu pai ficou arrasado. Primeiro perdeu a esposa e o filho. Agora perderam a mim também, deixando ele para enfrentar tudo isso sozinho. Quando falei com ele ontem à noite, deu para perceber que ele estava bebendo. Meu pai nunca bebe. Ele está afogando as mágoas. Como minha mãe e o Connor podem simplesmente jogá-lo fora como se ele não valesse nada? Lágrimas quentes escorrem pelo meu rosto. Acho que nunca chorei tanto na vida. Rebecca se aproxima e me abraça. — Sinto muito que as decisões deles tenham machucado você e seu pai. Nenhum dos dois merece essa dor. Eu sei que há coisas que eles não te contaram — porque perguntei ao seu irmão por que você não sabia o que são um Alfa e uma Luna — mas isso não desculpa o que aconteceu. Eu posso ser namorada do seu irmão, mas espero ser sua amiga, Olivia. Um dia espero que você me veja como uma irmã — ela diz. Me afasto e ela ri. — Você parece um daqueles peixinhos dourados com os olhos grandes — brinca. — Estou chocada de te ouvir falar sobre casamento. Há quanto tempo vocês dois estão namorando? — Eu sei que você não quer, mas realmente precisa conversar com sua mãe sobre este lugar e o Xavier. Você não precisa perdoá-la, mas merece respostas e, infelizmente, fui ordenada a não revelar nenhum segredo — ela diz. — Ordenada? Que diabos é este lugar, um culto? Ela joga a cabeça para trás e ri. — Prometo que não é um culto. Por favor, pense no que eu disse. O que pretende fazer hoje? — Provavelmente vou assistir TV ou ler livros no meu celular. Estou no meio de um romance de motoqueiros no app Dreame chamado The Biker’s True Love. É bem quente. — Parece o tipo de livro que eu gosto. Tem certeza que não quer sair do quarto um pouco? — Hoje não. Ainda não estou pronta para encarar ninguém. — Tudo bem. Estarei ao seu lado quando você estiver pronta. Que tal se eu trouxer seu almoço e a gente relaxar vendo filmes? — Tem certeza que não tem planos com o Connor? — Connor está na minha lista n***a no momento. Prefiro passar o tempo com você hoje. — Então, te vejo na hora do almoço. Ela aperta minha mão, se levanta da cama e sai do quarto. Eu me deito de novo e rezo para não estar cometendo um erro deixando a Rebecca entrar, mas agora ela é a única pessoa em quem sinto que posso confiar.
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