Connor POV
Eu caminho pela casa da matilha, com uma centena de pensamentos girando na minha cabeça. Sei que o que aconteceu estava fora do nosso controle, mas ver a Oli tão machucada está me deixando sem fôlego. Dói ouvir ela dizer que eu não sou mais irmão dela.
Sempre fomos muito próximos. Eu a amo, e meu coração se parte por receber tanto ódio dela. Sei que a raiva dela é porque acha que eu não me importo com o pai, mas me importo.
Amo ele tanto quanto ela. Ela também acha que eu não estou bravo com a mãe e com o Xavier, mas está errada. Só tive mais tempo para controlar minha raiva.
Oli não sabe dos segredos que mãe e pai esconderam da gente. Isso é parte do problema. Pai sabia quem mãe era antes deles casarem. Pelo que me contaram, ele a aceitou, mesmo sabendo que ela guardava um segredo enorme.
Depois que ela ficou grávida de mim, ele sempre soube que havia a possibilidade de eu e Oli termos o gene do lobo. Na verdade, ele ficou animado com a possibilidade de termos nossos próprios lobos, pelo que me disse.
Ele amava mãe e também a loba dela, Jenna. Eles estavam comigo quando tive minha primeira transformação. Mãe e pai me levaram para o bosque atrás de casa quando a dor começou. Ela me contou o que esperar alguns meses antes da primeira transformação, mas nada prepara para a dor.
Não me entenda m*l, valeu cada segundo, mas pensar que você é humano e descobrir que é lobo mexe com a sua cabeça. A melhor parte, além de conhecer o Cosmo, foi o orgulho que vi nos olhos do meu pai ao ver meu lobo pela primeira vez. É algo que nunca vou esquecer.
Queria contar pra Oli na hora, mas insistiram que eu esperasse. Ela tinha quatorze anos na época. Só soube aos dezessete, mas sempre soube que havia algo diferente na minha força e velocidade. Meus pais achavam que ela não estava pronta para ouvir sobre lobos, por ter crescido entre humanos. Olhando para trás, foi um grande erro.
Nós dois deveríamos ter sido informados quando viramos adolescentes. Deveríamos ter tido tempo para aceitar que éramos diferentes. Oli deveria ter estado comigo na transformação. Queria poder voltar no tempo e contar pra ela assim que descobri que éramos lobos, mas não posso.
Pai e eu tivemos uma longa conversa quando ele descobriu sobre Xavier e mãe. Hoje até acho engraçado, mas ele foi a voz da razão. Eu estava tão bravo, igual a Oli. Ele insistiu que me amava e que eu não precisava odiar a mãe por causa dele. Foi difícil ouvir, até conhecer a Rebecca.
Apesar de entender o poder do vínculo, odiava ver meu pai tão destruído. Apesar de tudo, ele ainda ama minha mãe desesperadamente. Minha mãe e eu tivemos uma discussão acalorada sobre companheiros e a dor que ela causava ao meu pai.
Flashback
— Connor, eu sei que você está bravo, mas nunca quis machucar seu pai.
— Então por que fez isso? Você sabia que podia encontrar seu companheiro e, em vez de esperar, se deixou apaixonar pelo meu pai.
— Não é tão simples, Connor. Minha matilha de nascimento era cheia de canalhas misóginos que tratavam suas companheiras como posses. Metade deles era abusiva porque o Alfa permitia — diz ela, com olhar distante, como se lembrasse do passado.
— Foi uma das razões pelas quais meu pai insistiu em nos mudar para longe, mesmo sendo Beta da matilha. A maioria dos lobos encontra seus companheiros na própria matilha ou em uma próxima. Quando nos mudamos para o outro lado do país, nunca pensei que encontraria meu companheiro — continua.
— Meu pai não era como esses lobos, e não queria que eu sofresse por causa do vínculo. Ele organizou para que nos mudássemos para cá e o pai do Xavier, que era Alfa na época, permitiu que carregássemos o cheiro da matilha mas vivêssemos entre humanos, pois não confiava nos de fora.
— Eu realmente acreditava que nunca encontraria meu companheiro. Você tem que acreditar em mim, Connor. Quando conheci seu pai, senti uma conexão instantânea, não era o vínculo, mas sabia que podia amá-lo. Prometo que, quando conheci Xavier, lutei contra o vínculo com todas as minhas forças, mas é impossível — diz ela.
— Sei que você sente isso com a Becca. Sente um vazio quando estão separados, sente que ela é parte de você. Foi assim que me senti ao encontrar Xavier. Eu não queria, Connor. Queria que o amor pelo seu pai fosse suficiente, mas não foi. Tudo que sentia por ele foi ofuscado pelo amor instantâneo por Xavier. Sempre amarei Charles, mas isso não se compara ao que sinto por Xavier. Espero que possa me perdoar — diz.
Fim do flashback
Ainda estou trabalhando nisso. Não estou tão bravo quanto a Oli porque entendo o vínculo, mas ainda estou bravo. Ela deveria ter esperado. Depois da nossa conversa, contei ao pai que encontrei meu companheiro. Ele ficou muito feliz. Aparentemente, minha mãe já havia explicado a ele há muito tempo o que são companheiros e insistido que, mesmo não sendo predestinados, eles eram feitos para ficar juntos. Meu peito dói ao pensar como ele deve ter se sentido quando minha mãe contou sobre Xavier pela primeira vez.
Quando contei ao meu pai sobre a Rebecca, ele não ficou bravo comigo por ter ido embora. Na verdade, ele insistiu que encontrá-la foi um presente. Ele insistiu que eu fosse até a matilha para conhecê-la. Ele está tão animado para conhecê-la, apesar da própria dor. Ele sempre nos coloca em primeiro lugar. Isso não alivia minha culpa por deixá-lo sozinho. Queria que a Oli pudesse ter ficado com ele.
Depois que a Oli tiver sua primeira transformação, planejo levá-la junto com a Rebecca para vê-lo. Xavier insiste que não é seguro ela estar entre os humanos até que tenha controlado seu lobo, com toda a raiva que ela tem sobre a “situação”, como ele chama. Já o vi ser carinhoso com minha mãe, mas normalmente ele é todo aquele Alfa lobisomem resmungão. Espero nunca me tornar assim. Ele insiste que eu serei o próximo Alfa por causa da Rebecca, mas não tenho tanta certeza se é isso que quero.
Nem percebi que bati até a porta se abrir, me tirando dos meus pensamentos. Minha mãe sorri ao ver que sou eu. Ela se afasta para me deixar entrar. Xavier está sentado atrás da grande mesa. Eu mostro o pescoço, como o Cosmo, meu lobo, me ensinou ser necessário para mostrar respeito ao nosso Alfa.
— Connor, isso não é necessário. Eu te considero meu filho e um dia você será o alfa da matilha — diz ele.
— Com todo respeito, Xavier, eu tenho um pai. Sei que agora você é meu padrasto, já que você e a mãe estão ligados, mas isso não muda o fato de que eu tenho um pai.
— Connor — minha mãe diz meu nome em tom de aviso.
— Não, Evelyn, ele está certo. Por mais que eu desejasse que você fosse meu sangue, Connor, sei que você é filho do Charles. Agora deve ser importante se você veio falar conosco sozinho. Não lembro de ter te visto sem a Rebecca do seu lado desde que se encontraram — ele diz.
Cosmo geme e meu peito dói.
— Ela está brava comigo. Na verdade, está passando o dia com a Oli.
— Por que ela está brava com você? — minha mãe pergunta, com a voz carregada de preocupação.
— Tem a ver com a Oli, mas como a Rebecca se recusa a falar comigo, a não ser para me chamar de i****a, não faço ideia do motivo exato — Xavier passa a mão no rosto, frustrado. — Você falou com a Oli?
— Não diria que conversamos. Foi mais ela dizendo que só porque eu substituí nosso pai não significa que ela tem que aceitar a situação. Também repetiu que não tem mãe nem irmão. Está presa aqui até fazer dezoito anos. Disse que vai sentar a b***a no quarto e não sair até o dia que puder ir embora.
Minha mãe chora e eu a puxo para os meus braços.
— Isso é ridículo. Ela está agindo feito criança mimada — diz Xavier.
Não consigo evitar o rosnado que escapa de mim. Seus olhos encontram os meus e eu baixo o olhar.
— Com todo respeito, ela não é criança mimada. A vida dela virou do avesso e a tiraram de alguém que ela ama mais do que tudo nesse mundo. Nosso pai está sozinho e, embora eu entenda o motivo, isso não torna o que está acontecendo mais fácil pra nenhum de nós.
— Você nunca deveria ter contado que nos casamos — minha mãe diz, com a cabeça enterrada no meu peito.
— Você é minha, Evelyn. Não vou esconder isso para preservar os sentimentos da Olivia — diz Xavier.
— Então deveria ter mantido em segredo para preservar os meus. Ela é minha filha e, por mais que eu te ame, ela é minha cria. Vem antes de qualquer um. Você diz que o Connor e ela são seus filhotes, mas não a trata como tal. Você mataria quem machucasse sua cria, e mesmo assim continua ferindo ela — minha mãe diz.
— Evelyn — ele começa a dizer, mas ela o interrompe. Ignora e levanta a mão para acariciar meu rosto.
— Me desculpa, Connor. Me desculpa por ter machucado você e a Oli. Sei que você entende o motivo de tudo isso, mas temo que ela nunca entenda. Temo ter perdido ela pra sempre — diz, enquanto o corpo treme e as lágrimas escorrem.
— Ela precisa de tempo e compreensão, mãe. Sei que está brava, mas ama a gente. Só sente falta do pai. Talvez você devesse deixar eu levar a Oli para ver o pai. Posso levar a Rebecca.
— Não, você sabe que não pode, Connor. Ela está muito instável agora. Não dá pra prever quando vai se transformar. Se os humanos virem, nossa existência corre risco — ele diz.
Eu assinto, mas não concordo totalmente. Eu me transformei e ninguém percebeu. Acho que há mais motivos na cabeça dele do que ele mostra. Sei que ele não quer minha mãe perto do meu pai, mas ela nem estaria lá.
— Fico feliz que a Rebecca tenha feito amizade com ela. Acho que isso vai ajudar a Oli a se adaptar — diz Xavier.
— Acho que vocês deveriam contar tudo pra ela. Eu tive um ano para me preparar para o que ia acontecer. Se ela se transformar antes por causa das emoções, vai ser pior.
— Concordo, Connor. Sua mãe e eu vamos sentar com ela assim que conseguirmos fazê-la ficar no mesmo ambiente que eu — diz Xavier.
— Talvez você não devesse estar lá. Ela pode ser mais receptiva só com a mãe. Agora ela te vê como inimigo — Xavier rosna, mas sei que estou certo.
— Connor, pode nos dar licença? Temos coisas para conversar — minha mãe pede.
Dou um beijo na testa dela, aceno para Xavier e saio do escritório. Deusa, oro para que a Oli nos deixe entrar de novo. Não posso perder minha irmã.