**Roderick**
Ódio era a palavra que me definia naquele momento. Pensei que Lorcan fosse melhor do que aquilo, mas estava enganado. O alfa temido havia se transformado num cordeiro, e eu não achava que ele fosse a pessoa ideal para liderar a alcateia. O alfa tinha que ser alguém forte e que soubesse tomar as decisões certas.
Lembro-me da raiva que senti ao saber que ele não usaria a Luna de Fenrir como uma forma de vencer aquela guerra; eu o faria se arrepender desse erro. Também desejava vingança; afinal, não foram apenas os antigos alfas que morreram no ataque à alcateia, mas também os meus pais, que tentaram protegê-los. Ver Lorcan recusar-se a ajudar-me era como derramar sal nas minhas feridas.
Ele estava ficando fraco, e, ao meu ver, era hora de surgir um novo líder, alguém que fizesse a coisa certa sem se preocupar com as consequências, e não alguém movido pelas emoções, como Lorcan. Eu o admirava por muitos anos; estive ao seu lado fazendo tudo o que ele ordenava porque queria a minha vingança e acreditava que ele seria o meio para consegui-la. Mas tudo estava indo por água abaixo agora que ele tinha interesse na companheira de Fenrir.
Lorcan poderia não querer usar a Luna da alcateia Presa Branca, mas eu não tinha esse problema, e, por sorte, havia encontrado alguém que desejava o fim dela tanto quanto eu. Entro num bar em território humano, pois ali era o melhor lugar para encontrar alguém sem levantar suspeitas.
Vou aos fundos do bar, sento-me numa mesa afastada dos outros, peço uma bebida e espero que o meu possível aliado se aproxime. Não foi fácil encontrar alguém que aceitasse trabalhar comigo, ainda mais quando isso envolvia trair a matilha de alfa Lorcan; ninguém queria problemas com ele.
Lorcan era um verdadeiro demônio quando se voltava contra os seus inimigos, e era lindo vê-lo trazer a morte à porta de alguém. Tanto poder desperdiçado por um alfa que deixava a suas emoções controlarem as suas ações! Tomo um gole da minha vodka e sinto-a descer queimando na garganta. Podia beber à vontade que não ficaria bêbado, e agradecia à deusa pela resistência dos lobisomens.
Vejo o meu convidado aproximar-se à distância; ele caminha na minha direção com passos firmes e senta-se à minha frente. Quando retira o capuz, sorrio ao ver de quem se tratava.
— Você. — Digo com um sorriso de canto.
— Sim, eu. — Paola olha com desdém para o assento à sua frente. Ela pega um lenço do bolso e passa sobre o assento antes de se sentar, um comportamento típico de uma patricinha.
— Como vai a vida, Paola? — pergunto, e ela me lança um olhar de ódio.
— Como acha que está, seu i****a! — Apenas dou risada do comportamento dela.
Paola não era minha melhor opção para uma aliança; era muito explosiva e não sabia se controlar, mas conhecia bem a Luna de Fenrir e seria essencial para que o meu plano desse certo.
— Quanto mau humor, Paola. — Digo rindo, tomando mais um gole da minha bebida.
— Diga logo o que quer, Roderick. Tenho mais o que fazer do que perder o meu tempo com um ninguém como você — diz ela enquanto olha para suas unhas bem feitas.
Observo Paola com curiosidade. Para alguém que perdeu o pai, ela estava bem, sem nenhum traço de dor pela perda. Mas, sendo Paola, não era de se esperar outra coisa.
— Você sabe o que eu quero, Paola.
— Claro que sei — diz ela, inclinando-se na minha direção com um sorriso no rosto. — Você quer a minha querida irmãzinha. — Podia ver nos olhos de Paola a inveja e o rancor pela vida que a sua irmã levava naquele momento. Para mim, aquilo era ótimo; poderia manipulá-la usando a sua vaidade a meu favor.
— Você é esperta, e gosto disso. — Paola era muito superficial e gostava de ser mimada. Eu odiava isso, mas não havia outra forma de conseguir a sua ajuda.
— Que pena que você não é importante, Roderick. Poderíamos nos dar bem, mas, infelizmente, você é apenas mais um inútil descartável. — Trinco os dentes ao ver o sorriso dela. Aquela c****a pensava que eu era igual aos idiotas ao seu redor.
— Olha só quem fala em ser descartável, justamente quem foi jogada fora como lixo pelo alfa Fenrir — digo rindo, e vejo o seu rosto se fechar.
— Você é desprezível, Roderick — diz ela, fulminando-me com o olhar.
— Obrigado, Paola, mas não precisa me bajular. — Vejo que as minhas palavras não eram o que ela queria ouvir, mas não esconderia quem eu era realmente por causa dela.
— Pelo que vejo, um canalha sabe reconhecer outro — diz ela rindo, com o humor mudando radicalmente. — Eu vou te ajudar, Roderick, porque desejo vingar-me da minha irmã; ela tem que pagar por roubar o que é meu.
Não digo nada. Paola não estava no seu juízo perfeito para discutir comigo. O melhor seria usá-la para o que eu precisava, e depois, quem sabe, ela não sofresse um “acidente” fatal. Paola era uma testemunha que eu planejava remover do meu caminho assim que conseguisse o que queria.
— Então temos um acordo, Paola — digo, estendendo a mão para ela. Um tanto relutante, ela aperta minha mão.
— Temos, Roderick. A partir de hoje somos aliados — diz ela com um sorriso sinistro no rosto. — Não vejo a hora de ver os nossos inimigos queimarem.
A risada de Paola enche o bar, chamando a atenção das pessoas ao redor. Ela pega o meu copo e vira o restante da minha bebida num único gole.
— Está muito confiante, não acha? — pergunto.
— Isso é porque sei de algo que pode mudar tudo, e não vejo a hora de usar isso — responde ela rindo. O meu rosto se fecha, e percebo que terei que ter cuidado com Paola. Até descobrir qual era sua “carta na manga”, eu precisava ser cuidadoso.