**Zara**
Não imaginava que Fenrir fosse se comportar daquela forma; não tinha palavras para descrever o quanto eu estava magoada.
E o pior era que eu ainda podia sentir suas emoções e sabia bem como ele havia sofrido ao pensar que eu o estivesse traindo. Isso apenas acrescentava mais um peso à conta: ele não confiava em mim.
Estava deitada no nosso quarto provisório, já que o principal estava sendo arrumado depois da minha transformação. Eu só queria esquecer tudo o que tinha acontecido mais cedo, mas a minha mente não permitia. Ela ficava recriando as imagens da fúria de Fenrir: como os seus olhos estavam escuros e a forma como ele segurava a minha mão.
Assim como eu havia sentido a sua fúria, eu também senti o seu desespero ao ver o que tinha feito comigo. Pude sentir a sua culpa e remorso quando a doutora Celina lhe disse que eu tinha fraturado um dos meus dedos.
Não sabia dizer ao certo quem estava com a razão naquela história; só sabia que, apesar de sentir tudo o que ele sentia e saber que ele estava terrivelmente arrependido, eu ainda estava chateada com ele.
Ouço passos se aproximando de mim. Eu reconheceria aqueles passos em qualquer lugar, e o dono deles sempre fazia o meu coração disparar.
— Pequena, precisamos conversar — Fenrir estava abaixado ao lado da cama. Encontro os seus olhos e não apenas enxergo a sua culpa, mas a sinto emanar dele.
Ignoro-o e apenas viro para o outro lado, tendo cuidado para não machucar ainda mais a minha mão. Ele não desiste; sinto quando o colchão ao meu lado se afunda com o seu peso.
— Não faça isso, pequena, não me rejeite — diz ele, tocando o meu rosto.
Pego a coberta que estava ao meu lado e cubro a cabeça. Aquilo parecia uma bobagem, e na verdade era, mas eu não sabia como lidar com o alfa enorme ao meu lado.
Sinto quando os seus braços me envolvem, apertando-me contra ele com delicadeza. Eu relaxo; o cheiro de Fenrir me acalmava, e apenas descanso a minha cabeça no seu peito enquanto a suas mãos acariciam as minhas costas.
— Pelo que vejo, você já me perdoou — diz ele, com um traço de um sorriso na voz.
— Não perdoei — digo com a voz abafada pela coberta.
Sinto quando a mão de Fenrir começa a puxar a coberta de leve, até destampar o meu rosto. Os seus olhos verdes estavam intensos sobre os meus, e apenas sustento o seu olhar.
— Não importa quantas vezes eu te peça perdão, Zara; nunca vou me perdoar pelo que fiz. — Eu acreditava naquilo. Fenrir era um alfa de palavra, e eu podia sentir, através da sua energia, a verdade daquelas palavras.
— Pensou que eu estava te traindo — digo, com a voz embargada.
Ele suspira e acaricia o meu rosto, os seus olhos presos aos meus.
— Não é de você que eu desconfio, pequena; é dele. O alfa Lorcan nunca foi alguém de confiança, e você sabe que, alguns dias atrás, o pessoal dele estava te ameaçando. Não posso confiar nele — diz Fenrir, balançando a cabeça.
— Ele disse que jamais me colocaria no meio da briga de vocês — posso ver a expressão de Fenrir mudar.
— Ele te disse isso?
— Sim, disse que eu não tinha nada a ver com as disputas de vocês e que não me envolveria nisso. — Vejo a confusão nos seus olhos, que logo após é substituída por uma decisão.
— Mesmo assim, não confio nele.
— Eu confio, Fenrir, gosto dele. Lorcan é gentil e se preocupa comigo. — Era inevitável que um sorriso se abrisse no meu rosto ao falar de Lorcan; tínhamos uma afinidade que eu não sabia explicar.
— Não gosto de te ouvir falar assim dele.
— É apenas a verdade. Ele até mesmo me pediu para não ir à floresta sozinha.
Fenrir não responde; apenas observa o meu rosto com atenção, e, quando não encontra nada, ele suspira e pragueja baixinho.
— Vou resolver isso — diz, por fim, puxando-me para si.
— Não quero que brigue com ele, está me ouvindo? — digo zangada, sentindo a sua mão massagear minha testa, desfazendo a ruga que tinha se formado.
— Isso não vai acontecer.
— Fenrir!
— Somos inimigos há anos, querida; isso não vai mudar da noite para o dia — diz ele tranquilamente.
Afasto-me dele, virando de costas e me encolhendo na beirada da cama.
— Zara! — chama ele, tocando a minha cintura, mas dou um tapa na sua mão.
— Ainda não te perdoei, Fenrir — digo, brava.
— O que eu preciso fazer para que me perdoe? — pergunta ele. Viro-me rapidamente para Fenrir, olhando nos seus olhos.
— O que estaria disposto a fazer? — pergunto com a pouca coragem que tinha.
— Por você, meu amor, seria capaz de fazer qualquer coisa — diz ele, acariciando o meu rosto.
— Eu te perdoo se prometer que não irá machucar Lorcan. — O rosto de Fenrir se fecha na mesma hora, e um rosnado sai do seu peito.
— Fora de questão — diz ele, com dificuldade.
— Então acho que vou dormir na casa da Diana de agora em diante — digo, sentando-me na cama. Mas, quando vou me levantar, os braços de Fenrir me envolvem e me puxam de volta para a cama.
— A minha companheira não vai dormir em outro lugar. — Vejo a fúria emanar dos seus olhos, mas, conhecendo as suas emoções, sabia que ele não me faria m*l.
— Você disse que faria qualquer coisa pelo meu perdão e já está voltando atrás nas tuas palavras.
— Você é terrível, Luna — diz ele, deixando-se cair ao meu lado. — Se eu fizer isso, ficará?
— Sim, apenas não desejo mais brigas entre vocês — digo.
— Vou ser sincero, pequena, isso não me agrada, mas, por você, posso fazer um esforço. Apenas lembra-se de que, se ele aprontar, não terei outra alternativa a não ser atacar.
Era um acordo justo. Ergo o meu dedo mínimo, e, com um sorriso, ele encaixa o seu dedo no meu.
— Temos um acordo, senhor alfa — digo, sorrindo.