Uma Nova Descoberta

1135 Words
**Isacar** A vista do meu castelo já não era a mesma; aquilo tinha perdido a graça desde que o meu filho e o meu neto deixaram de frequentar aquele lugar. A saudade matava-me, mas sabia que Lorcan não iria querer a minha presença na sua alcateia. Ele tinha colocado na cabeça que encontraria os responsáveis pela morte dos pais e não queria arriscar que as pessoas soubessem que ele tinha boas influências. Por mais que eu achasse a ideia dele horrível, não podia intervir. O meu neto era um homem adulto, um alfa, e sabia o que fazer, apesar de que para mim ele sempre seria o meu menino. Vou até a mesinha ao lado da minha cama, abro a primeira gaveta, pego um porta-retratos e olho com alegria para a foto que tinha ali. O meu filho e a sua companheira segurando Lorcan no colo; ao ver aquilo, podia entender o motivo pelo qual ele desejava vingança. A única coisa que eu poderia fazer era ajudá-lo. Com cuidado, guardo novamente a foto na gaveta, me arrumo e desço as escadas. Aquele lugar parecia imenso agora que só eu morava ali; queria muito que o tempo pudesse voltar para que eu tivesse a minha família novamente comigo. Esse era o outro lado de se ter centenas de anos. Na verdade, eu tinha acabado de completar duzentos e trinta e sete, mas o peso nos meus ombros fazia-me sentir mais velho. Não era imortal, mas o fato de possuir mais poder do que os outros lobos me fazia viver mais do que eles, bem mais do que o meu coração desejava, já que não tinha com quem partilhar a vida. A minha companheira tinha partido cedo devido a um conflito passado, e no meu peito restava apenas a saudade. — Bom dia, senhor. — diz o meu funcionário de confiança. — Olá, Victor. — digo, sentando-me à mesa para o café da manhã. — Não parece que teve uma noite agradável, senhor. — diz ele, servindo-me um pouco de café. — Não mesmo, mas tudo ficará bem. — Sempre fica, senhor. Lá estava o motivo de Victor estar comigo há tanto tempo; ele era discreto e respeitava o meu espaço, sem questionar além do que devia. Na verdade, todos ali sabiam que não deviam interferir nos meus assuntos; ninguém aguentaria as consequências. — Os outros conselheiros mandaram algo para o senhor. — diz ele, estendendo-me uma bandeja com um envelope. Pego-o e abro o envelope, já imaginando do que se tratava. — Nada de novo. — digo ao ler o conteúdo. — Prepare as minhas malas. — Como desejar, senhor. — diz ele, retirando-se. Odiava aquelas viagens, mas, infelizmente, não podia recusar aquela, pois envolvia muitas pessoas, e se havia algo que eu odiava era o abuso de certos alfas. Não via a hora de substituir aqueles inúteis, e sabia que esse dia estava chegando. O Conselho não era tão cego a ponto de não ver o que estava acontecendo no mundo dos lobisomens, e em breve todas as alcateias entenderiam isso. Estava-se tornando comum o mau-trato aos ómegas nas alcateias, e isso teria de acabar, ou teríamos sérios problemas no futuro. O meu café perdeu o gosto depois de saber daquilo, então levanto-me e vou para a sala. Sento-me e aguardo que Victor traga a minha mala. Quando ele desce, acompanho-o até ao carro, que já me esperava. — Faça uma boa viagem, senhor. — diz ele, fechando a porta para mim. Assim que o carro se afasta, pego a pasta que estava ao meu lado e começo a ler o seu conteúdo. Ao terminar, percebo o quanto o motorista tem dificuldades em lidar com a minha aura assassina, que se espalhava pelo carro. Não me surpreendia que o Alfa Fenrir tivesse matado o Alfa James; ele tinha tocado em algo sagrado para um lobo: a sua companheira. No arquivo, havia detalhes específicos sobre como a companheira do Alfa Fenrir era tratada pelo pai, e aquilo, para mim, era absurdo; um pai devia proteger os filhos, não ser causador das suas dores. Alfa James estava com sorte por ter morrido, ou eu mesmo trataria dele. “Eu teria o maior prazer em dilacerar-lhe a carne” — diz o meu lobo, furioso. “Sei disso, Fyer, mas, infelizmente, ele já está morto.” — digo, frustrado. “Mas a filha está viva; ela merece o mesmo que fez com a irmã.” — continua ele. Nos arquivos, havia fotos das costas da companheira do Alfa Fenrir, assim como fotos de quando ela foi encontrada, o que seria prova mais do que suficiente para declarar o Alfa James culpado, se estivesse vivo. “A hora dela vai chegar, Fyer, não se preocupe; mas é bom brincar com a presa antes de devorá-la.” — digo, sorrindo. Sinto o meu lobo agitar-se; ele gostava de jogos tanto quanto eu. O restante da viagem passou-se em silêncio. Por sorte, eu não estava muito longe da alcateia do Alfa Fenrir, então um dia de viagem seria suficiente para chegarmos lá. O meu motorista sabia que eu não gostava de demoras, então conduzia o mais rápido possível. Não me preocupava com um acidente, pois nada me afetaria. Assim que chego à alcateia do Alfa Fenrir, sinto uma energia diferente no ar; algo não estava certo. O nosso carro para na entrada da alcateia, e vejo um homem aproximar-se. — Seja bem-vindo à alcateia Presa Branca, conselheiro. — diz ele, de forma respeitosa. — Eu sou o Beta Ethan e irei acompanhá-lo até à casa da alcateia. — Obrigado, Beta. Mas diga-me, o que está acontecendo? Sinto uma energia estranha no ar. — vejo a surpresa nos seus olhos, que ele rapidamente disfarça. — A Luna está passando por uma transformação tardia, conselheiro, e isso tem deixado todos muito preocupados. — diz ele. — Entendo. — respondo. Aquilo era estranho; até onde sei, poucas pessoas sobreviveram a uma transformação tardia. Seguimos o Beta até à casa da alcateia, onde ele nos guia até à sala e pede licença para chamar o seu alfa. Quando vejo o Alfa Fenrir descer, espanto-me com o seu estado; ele estava visivelmente cansado, e podia sentir o quanto a sua energia estava baixa. Sentamos e observo o seu rosto com atenção. Quando o Alfa Fenrir me conta que a sua Luna já estava há três dias no processo de transformação, os meus olhos arregalam-se. Até onde sabia, apenas lobos especiais demoravam tanto tempo. Mas o Alfa Fenrir não sabia a descendência da sua companheira, e, antes que eu pudesse perguntar mais alguma coisa, um grito estridente ecoa no ar, e ele corre em direção às escadas. Eu tinha as minhas dúvidas sobre a sua Luna e precisava saná-las, então sigo-o de imediato; precisava desvendar aquele mistério.
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