O Poder Do Perdão

1051 Words
**Zara** Não imaginava que Fenrir fosse se comportar daquela forma; não tinha palavras para descrever o quanto eu estava magoada. E o pior era que eu ainda podia sentir suas emoções e sabia bem como ele havia sofrido ao pensar que eu o estivesse traindo. Isso apenas acrescentava mais um peso à conta: ele não confiava em mim. Estava deitada no nosso quarto provisório, já que o principal estava sendo arrumado depois da minha transformação. Eu só queria esquecer tudo o que tinha acontecido mais cedo, mas a minha mente não permitia. Ela ficava recriando as imagens da fúria de Fenrir: como os seus olhos estavam escuros e a forma como ele segurava a minha mão. Assim como eu havia sentido a sua fúria, eu também senti o seu desespero ao ver o que tinha feito comigo. Pude sentir a sua culpa e remorso quando a doutora Celina lhe disse que eu tinha fraturado um dos meus dedos. Não sabia dizer ao certo quem estava com a razão naquela história; só sabia que, apesar de sentir tudo o que ele sentia e saber que ele estava terrivelmente arrependido, eu ainda estava chateada com ele. Ouço passos se aproximando de mim. Eu reconheceria aqueles passos em qualquer lugar, e o dono deles sempre fazia o meu coração disparar. — Pequena, precisamos conversar — Fenrir estava abaixado ao lado da cama. Encontro os seus olhos e não apenas enxergo a sua culpa, mas a sinto emanar dele. Ignoro-o e apenas viro para o outro lado, tendo cuidado para não machucar ainda mais a minha mão. Ele não desiste; sinto quando o colchão ao meu lado se afunda com o seu peso. — Não faça isso, pequena, não me rejeite — diz ele, tocando o meu rosto. Pego a coberta que estava ao meu lado e cubro a cabeça. Aquilo parecia uma bobagem, e na verdade era, mas eu não sabia como lidar com o alfa enorme ao meu lado. Sinto quando os seus braços me envolvem, apertando-me contra ele com delicadeza. Eu relaxo; o cheiro de Fenrir me acalmava, e apenas descanso a minha cabeça no seu peito enquanto a suas mãos acariciam as minhas costas. — Pelo que vejo, você já me perdoou — diz ele, com um traço de um sorriso na voz. — Não perdoei — digo com a voz abafada pela coberta. Sinto quando a mão de Fenrir começa a puxar a coberta de leve, até destampar o meu rosto. Os seus olhos verdes estavam intensos sobre os meus, e apenas sustento o seu olhar. — Não importa quantas vezes eu te peça perdão, Zara; nunca vou me perdoar pelo que fiz. — Eu acreditava naquilo. Fenrir era um alfa de palavra, e eu podia sentir, através da sua energia, a verdade daquelas palavras. — Pensou que eu estava te traindo — digo, com a voz embargada. Ele suspira e acaricia o meu rosto, os seus olhos presos aos meus. — Não é de você que eu desconfio, pequena; é dele. O alfa Lorcan nunca foi alguém de confiança, e você sabe que, alguns dias atrás, o pessoal dele estava te ameaçando. Não posso confiar nele — diz Fenrir, balançando a cabeça. — Ele disse que jamais me colocaria no meio da briga de vocês — posso ver a expressão de Fenrir mudar. — Ele te disse isso? — Sim, disse que eu não tinha nada a ver com as disputas de vocês e que não me envolveria nisso. — Vejo a confusão nos seus olhos, que logo após é substituída por uma decisão. — Mesmo assim, não confio nele. — Eu confio, Fenrir, gosto dele. Lorcan é gentil e se preocupa comigo. — Era inevitável que um sorriso se abrisse no meu rosto ao falar de Lorcan; tínhamos uma afinidade que eu não sabia explicar. — Não gosto de te ouvir falar assim dele. — É apenas a verdade. Ele até mesmo me pediu para não ir à floresta sozinha. Fenrir não responde; apenas observa o meu rosto com atenção, e, quando não encontra nada, ele suspira e pragueja baixinho. — Vou resolver isso — diz, por fim, puxando-me para si. — Não quero que brigue com ele, está me ouvindo? — digo zangada, sentindo a sua mão massagear minha testa, desfazendo a ruga que tinha se formado. — Isso não vai acontecer. — Fenrir! — Somos inimigos há anos, querida; isso não vai mudar da noite para o dia — diz ele tranquilamente. Afasto-me dele, virando de costas e me encolhendo na beirada da cama. — Zara! — chama ele, tocando a minha cintura, mas dou um tapa na sua mão. — Ainda não te perdoei, Fenrir — digo, brava. — O que eu preciso fazer para que me perdoe? — pergunta ele. Viro-me rapidamente para Fenrir, olhando nos seus olhos. — O que estaria disposto a fazer? — pergunto com a pouca coragem que tinha. — Por você, meu amor, seria capaz de fazer qualquer coisa — diz ele, acariciando o meu rosto. — Eu te perdoo se prometer que não irá machucar Lorcan. — O rosto de Fenrir se fecha na mesma hora, e um rosnado sai do seu peito. — Fora de questão — diz ele, com dificuldade. — Então acho que vou dormir na casa da Diana de agora em diante — digo, sentando-me na cama. Mas, quando vou me levantar, os braços de Fenrir me envolvem e me puxam de volta para a cama. — A minha companheira não vai dormir em outro lugar. — Vejo a fúria emanar dos seus olhos, mas, conhecendo as suas emoções, sabia que ele não me faria m*l. — Você disse que faria qualquer coisa pelo meu perdão e já está voltando atrás nas tuas palavras. — Você é terrível, Luna — diz ele, deixando-se cair ao meu lado. — Se eu fizer isso, ficará? — Sim, apenas não desejo mais brigas entre vocês — digo. — Vou ser sincero, pequena, isso não me agrada, mas, por você, posso fazer um esforço. Apenas lembra-se de que, se ele aprontar, não terei outra alternativa a não ser atacar. Era um acordo justo. Ergo o meu dedo mínimo, e, com um sorriso, ele encaixa o seu dedo no meu. — Temos um acordo, senhor alfa — digo, sorrindo.
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