**Fenrir**
Me doía, mais do que eu poderia colocar em palavras, vê-la me temer como estava fazendo. Os seus pequenos olhos castanhos se arregalavam sempre que eu me aproximava. Podia sentir Koda choramingando no meu interior, algo que ele não costumava fazer. Quando a vejo inalar o meu cheiro, uma centelha de esperança se acende no meu peito. Ela se inclina mais na minha direção, então envolvo os meus braços ao seu redor. Isso parece tê-la alertado, pois ela luta nos meus braços, e eu a solto para que não se machucasse. Zara me encarava com pavor, seus olhos arregalados e sua respiração entrecortada. Ela estava à beira de outro ataque de pânico.
— Respire, Zara. Não vou me aproximar de você — digo a ela, levantando as mãos. Então, levanto-me da cama e me sento numa poltrona do outro lado do quarto. Não queria que a minha presença a deixasse ainda mais estressada. Ela precisava de cuidados e de se recuperar de tudo o que havia passado.
— Eu... eu sinto muito — diz ela, com lágrimas no rosto, os seus lábios rosados tremendo ao me olhar.
— Posso me aproximar, querida? — pergunto em voz baixa. Ela demora tanto para responder que achei que não tivesse me ouvido, mas então ela acena com a cabeça. A passos lentos, aproximo-me dela. Vejo o quanto estava sendo difícil para ela ficar parada enquanto eu me aproximava. Sento-me ao seu lado e, com cuidado, seco as lágrimas que caíam por seu rosto.
— Nunca se desculpe por algo que não é sua culpa, querida. Sei que está assustada e não consegui resistir a tê-la nos meus braços. É difícil para mim vê-la tão frágil e não poder confortá-la — digo com um pequeno sorriso, então me levanto.
— Vou pedir para a doutora te ajudar a tomar um banho enquanto preparo o nosso café da manhã — digo, sorrindo para ela. Calço os meus chinelos e saio do quarto, deixando-a sozinha.
— Está tudo bem, alfa? — pergunta Celina, com um olhar preocupado.
— Não, mas sei que vai ficar — digo a ela com um sorriso triste. — Poderia ajudá-la a tomar um banho, por favor?
— Claro, alfa — diz ela, abrindo a porta e entrando. Desço as escadas e encontro Ethan na cozinha. Num canto, a amiga da minha companheira estava sentada, encolhida.
— Já tomou café? — pergunto a ela, e vejo-a negar com a cabeça. — Não precisa abaixar a cabeça toda vez que for falar comigo. Aqui não é a alcateia Eclipse, respeitamos os nossos membros.
Vejo-a lentamente erguer os olhos do chão na minha direção. Puro medo estampava-se neles. Eu iria descobrir tudo o que o alfa James fazia na sua alcateia; aquelas pessoas mereciam justiça pelo que vinham passando nas suas mãos cruéis.
— Posso vê-la, alfa? — pergunta ela, com a voz trêmula, sem me olhar.
— Olhe para mim — digo de forma firme. Vejo-a tremer um pouco, mas obedecer. — Olhe para mim quando for falar comigo. Não vou castigá-la por isso, e sim, você pode vê-la.
— Obrigada — diz ela, aliviada, descendo do banquinho em que estava sentada.
— Sabe onde fica o meu quarto? — pergunto, e a vejo negar com a cabeça. — Espere um pouco, vou preparar o café da manhã para Zara, aí você sobe comigo.
— Você cozinha? — pergunta ela, surpresa. Então, vejo o choque percorrer o seu rosto. — Me perdoe, não quis ofendê-lo.
— Não me ofendeu. E sim, eu cozinho.
— Ele é um ótimo cozinheiro, por sinal — diz Ethan, sorrindo para ela.
— Só diz isso porque você é preguiçoso demais para fazer a sua própria comida — digo, encarando-o enquanto pegava alguns ovos na geladeira para fazer um omelete.
— Para que vou me desgastar se posso vir comer aqui com você? — diz Ethan, na maior cara de p*u. No canto, vejo a menina sorrir com a nossa conversa. Enquanto conversamos, faço o café de Zara. Espero que ela goste do meu tempero. Colocando tudo numa bandeja, sinalizo para que a amiga dela me acompanhe até o meu quarto.
— Pode abrir a porta, por favor? — peço, e ela abre a porta do quarto. — Tem alguém que quer te ver, Zara.
Digo a ela, chamando a sua atenção. Ela havia tomado banho, e Celina tinha colocado outra bolsa de soro com vitaminas no seu braço.
— Diana! — diz Zara, surpresa. Então vejo lágrimas descerem por seu rosto enquanto Diana corre para abraçá-la.
— Calma, Zara. Estou aqui — diz ela, acariciando os cabelos dela.
— Faça com que ela coma um pouco. Volto mais tarde — digo à amiga dela.
— Sim, alfa — diz ela. Então, saio, deixando-as um pouco a sós. Desço novamente e encontro Celina na cozinha. Pego um pouco de café e sento-me num banquinho, de frente para ela.
— Diga, Celina — peço, ao ver a expressão no rosto dela. — Como ela está?
— Marcá-la funcionou, os ferimentos dela fecharam-se totalmente — diz ela, mas eu podia ver que havia mais nas suas palavras.
— O que mais? — pergunto, segurando com força a xícara de café nas minhas mãos.
— Apesar de os ferimentos terem se fechado, as cicatrizes nunca desaparecerão, Fenrir. Ela sempre carregará as marcas das agressões no corpo — as palavras de Celina enchem-me de raiva. E antes que eu pudesse me conter, ouço o barulho da xícara se quebrando nas minhas mãos, uma pequena ardência me mostrando que eu tinha me cortado.
— Pela deusa, Fenrir — diz ela, levantando-se e limpando as minhas mãos com um guardanapo. — Precisa se controlar, não vai ajudar se ela te ver assim.
— Eu sei, mas não consigo evitar — a minha mandíbula estava tão apertada que eu sentia que podia quebrar os dentes com a pressão.
— Ela vai precisar muito de você. Está frágil e fraca, e o lobo dela ainda não acordou, o que me preocupa muito — diz ela, com a testa enrugada.
— O que quer dizer com isso? — pergunto, ainda não entendendo direito o que ela queria dizer.
— Ela tinha uma grande quantidade de acônito no organismo. Ainda não sei até que ponto isso pode ter afetado o lobo dela — vejo a preocupação estampada nos olhos de Celina, e o meu ódio por James apenas cresce mais.