Uma Conversa Com o Inimigo

1005 Words
**Lorcan** Podia ser estupidez da minha parte, mas eu arriscaria. Caminhava lentamente pela floresta, movido apenas pela curiosidade de conhecer aquela que dominava a minha mente nos últimos dias. Nunca fui de me apegar a ninguém, mas havia algo sobre ela que me cativava, como se a minha vida não fosse a mesma enquanto eu não a conhecesse. Os meus passos eram rítmicos e constantes enquanto caminhava até à fronteira; ninguém me seguia, e eu não queria testemunhas para o que iria fazer. Quanto menos pessoas soubessem do meu fascínio pela Luna da alcateia Presa Branca, melhor. A tarde estava fresca e, à medida que eu adentrava a floresta, sentia aquele chamado que vinha dela. Ali na floresta era o meu lugar, onde eu poderia ser eu mesmo, sem máscaras. A floresta era o nosso elo entre o nosso lado animal e humano, era nela que eu tinha os meus momentos de maior tranquilidade, quando Hudor, o meu lobo, podia sair e ser ele mesmo. Eu sentia o vento fresco da tarde tocar o meu rosto e podia sentir as pequenas vidas à minha volta – algo que, para um simples humano, poderia ser insignificante, mas que para mim não passava despercebido. Quando estava a uma certa distância, sinto uma energia diferente na floresta; era ela, a Luna de Fenrir. A pequena Luna ainda não sabia que um lobo dourado podia atrair outro se não aprendesse a esconder a sua aura. Aquilo servia de defesa contra um possível inimigo, mas, é claro, Isacar não havia lhe dito nada. Concentro-me e libero a minha energia em direção a ela, como um íman a atraí-la para onde eu desejava. Como ela ainda não havia aprendido a me bloquear, seria facilmente atraída até mim. E agora eu entendia o outro motivo de Isacar querer que eu cuidasse dela; caso contrário, ela seria uma presa fácil para outros lobos dourados. Minutos depois, sinto-a aproximar-se da cachoeira. Observo de longe ela sentada numa pedra com os pés dentro da água; o vento tocava nos seus cabelos castanhos, deixando-a ainda mais bela do que já era. Realmente, a companheira de Fenrir era muito linda. Saio do meu lugar e caminho a passos lentos na sua direção. Percebo que ou ela não me viu, ou não me considera um perigo para ela. – Olá, pequena Luna – digo, caminhando na sua direção. Quando os olhos dela encontram os meus, vejo as lágrimas descendo pelo seu rosto; aquilo corta-me o coração, e a minha vontade era pegá-la nos meus braços e aconchegá-la, como uma criança precisando de colo. – Oi – diz ela, com um sorriso triste. Suspiro ao ver aquilo, sem entender o motivo de querer confortar aquela criatura doce. Aproximo-me e me sento na rocha, de frente para ela. Retiro os meus sapatos e coloco os pés no rio, vendo o olhar curioso dela sobre mim. Podia entender aquilo, afinal, eu era um completo estranho. – Posso saber o que a traz até às minhas terras? – pergunto e vejo o seu olhar confuso no meu rosto. – Eu é que devia perguntar isso, já que me chamou – fico surpreso ao ouvir aquilo e sorrio ao perceber que ela não era tão frágil quanto eu pensava. – Touché, me pegou, pequena Luna – digo, sorrindo. – Para dizer que aqui é o seu território, devo deduzir que seja um m****o dos Belmonte – diz ela, secando as lágrimas do rosto. – Perdoe a minha falta de educação. Eu sou Lorcan Belmonte, alfa da alcateia Lua Azul – digo e vejo a surpresa nos seus olhos. Ela levanta-se rapidamente para partir, mas seguro o seu braço, impedindo-a. – Fique, pequena Luna. Prometo que nada de mau lhe acontecerá. – Você é inimigo de Fenrir – diz ela, puxando o braço. – Sim, mas você não tem nada a ver com os nossos problemas – volto a sentar-me e espero que ela faça o mesmo. Zara senta-se, um tanto relutante. Podia ver os seus olhos mais intensos e imaginei que seria o seu lobo que estava pronto para defendê-la, se fosse preciso. – Por que me chamou? – pergunta ela novamente. – Queria saber quem era a companheira de Fenrir e fiquei curioso para conhecer outro lobo dourado – vejo a surpresa no seu rosto e sorrio. Zara era muito transparente, e isso só aflorava os meus instintos de protegê-la. – Como sabe disso? – diz, assustada. – Foi assim que a atraí para este lugar – digo, apontando para o rio. – Um lobo dourado pode sentir o outro e atraí-lo. Se quiser, posso ensinar-lhe a bloquear isso. – Então você é um lobo dourado também – diz ela, mais relaxada. – Sim, mas preciso que mantenha este segredo. Ninguém sabe sobre isso – suspiro profundamente; ser um lobo dourado às vezes era um grande fardo. – E confia que eu não contarei? – diz ela com a sobrancelha arqueada. – Eu confio. Pode parecer loucura, pequena Luna, mas sinto-me muito confortável perto de você, como se a conhecesse há anos – era a mais pura verdade. Podia sentir o meu lobo tranquilo ao estar próximo dela, algo que não acontecia nunca. – Foi por isso que vim; Nala garantiu-me que eu estaria segura – olho surpreso para ela; não esperava por aquilo, achava que apenas eu sentia aquilo. – E como ela sabe disso? – pergunto, arqueando a sobrancelha. – Não sei, mas ela disse que era seguro, então acreditei – precisava investigar aquilo e saber mais sobre a menina à minha frente. Zara tinha uma aura brilhante e forte e, provavelmente, um grande poder interno, mas ainda não sabia disso. Olho nos seus olhos dourados, vendo a serenidade que ela tinha. O dourado dos seus olhos estava claro, o que provava o que dizia. Eu estava diante de um pequeno enigma e pretendia resolvê-lo antes que alguém se aproximasse de Zara. Ainda não sabia o que Isacar queria com ela, mas garantiria que ninguém a tocasse enquanto eu vivesse.
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