Conversa

988 Words
**Fenrir** Quando entro no meu quarto à noite, encontro Zara dormindo. O seu rosto estava tão sereno que não consegui evitar que os meus pés me levassem para perto dela. Era uma necessidade que eu não conseguia conter; só queria tê-la nos meus braços, poder sentir o calor do seu corpo contra o meu. Sento-me ao seu lado na cama e seguro as suas mãos nas minhas. Sei que era o máximo que ela me permitiria naquele momento, e, mesmo assim, ainda estava a arriscar que ela me rejeitasse. As feridas de Zara não estavam apenas no seu corpo; a sua alma estava profundamente machucada, e eu sinceramente esperava que ela me permitisse ajudá-la a curar-se. Para mim, era inconcebível que uma criatura tão doce quanto ela já tivesse passado por tanto na vida. Isso provava que o nosso mundo precisava de leis mais rígidas, que punissem de forma adequada as pessoas que faziam esse tipo de coisa. O rosto de Zara estava sereno, e, quando ia retirar a minha mão, sinto-a a segurar-me. O meu coração alegra-se ao pensar que, no fundo da sua consciência, ela me reconhecia. Sem poder conter-me, retiro os meus sapatos e deito-me ao seu lado, puxando-a para o meu peito. Ouso um gemido de prazer deixar os seus lábios e sorrio ao pensar que, se ela estivesse acordada, estaria a fugir de mim naquele momento. "Ela é linda", diz Koda com um suspiro. Podia ouvir a satisfação na sua voz. Eu também a achava linda. Zara era perfeita. Enquanto Zara estava de manhã com a sua amiga, eu tinha conversado com um dos conselheiros. Eles não estavam satisfeitos com o que eu tinha feito, mas, ao que parecia, havia várias denúncias contra o alfa James que contribuiriam para me ajudar, além de, é claro, ele ter tentado matar a companheira de um alfa, o que era imperdoável. Não tinha investigado o que James tinha aprontado ao longo dos anos, mas sabia que, se procurasse bem, encontraria muita coisa, e estava disposto a cavar. Ele podia estar morto, mas eu recusava-me a deixar que fosse lembrado como uma boa pessoa. Exporia tudo o que ele fez ao longo dos anos e exigiria que o Conselho dos Lobisomens informasse as outras alcateias. Algumas horas depois, vejo a doutora Celina entrar no quarto. Como sempre, ela era muito discreta, não fazendo barulho. — Está tudo bem? — pergunto quando ela se aproxima da cama. — Sim, alfa, vou apenas retirar o soro. Ela está a recuperar-se bem e não vai precisar mais da medicação, mas ainda é importante que ela coma de forma adequada. Ela está abaixo do peso, e isso não é bom — diz ela, fazendo uma careta. — Vou cuidar pessoalmente disso, Celina. — Sei que vai, mas tenha paciência com ela. A luna é como um bichinho assustado e vai levar tempo até perceber que não queremos o seu m*l — podia ver nos olhos de Celina que ela lamentava profundamente a situação da minha companheira, pois, assim como eu, ela tinha visto as lacerações que Zara tinha nas costas. — Eu vou ser paciente, Celina. Não quero forçá-la a fazer coisas que não deseja. Acho que ela já teve mais do que o suficiente disso — digo, acariciando-lhe os cabelos. — Enquanto cuidava dela, fiz um exame íntimo — diz ela, e vejo os seus olhos desviarem-se dos meus. — O que descobriu? — pergunto, com o maxilar cerrado. Se James tivesse tocado a minha companheira, eu daria um jeito de trazê-lo dos mortos apenas para mandá-lo de volta com as minhas próprias mãos. — Ela está bem, alfa. Ninguém a tocou de forma íntima — diz Celina, fazendo com que eu soltasse o ar que estava preso nos meus pulmões. — É um alívio saber disso. Não sei se ela conseguiria lidar com mais uma agressão — digo-lhe. — Ela vai ficar bem. O nosso povo está ansioso por conhecê-la e feliz por ela estar bem — diz Celina, com um pequeno sorriso. Eu sabia que algumas coisas já deveriam ter vazado para a alcateia, ainda mais da forma como voltámos, e alegrava-me saber que estavam ansiosos por conhecer a sua nova luna. — Fico feliz em saber disso. Assim que ela estiver melhor, pretendo levá-la para dar uma volta. — Faça isso. É bom que ela conheça o nosso povo. — Obrigado por tudo, Celina — digo-lhe com sinceridade. — É o meu trabalho, alfa. Se precisar de mim, sabe onde me encontrar — diz ela, antes de recolher as suas coisas e sair do quarto. Nada me daria mais satisfação do que ver a minha futura luna bem e feliz. Sentir ela colada a mim dava-me uma sensação de paz e tranquilidade, como se tudo estivesse no seu devido lugar, como deveria ser desde o princípio. "Gosto do cheiro dela" — diz Koda, ronronando. "Eu também gosto, é diferente" — digo-lhe. "Ela é nossa companheira, tudo com ela será diferente" — diz ele, bufando. Eu tinha que concordar com aquilo. Tudo nela me atraía, até mesmo quando tremia nos meus braços. "Fico a pensar que poderíamos ter pegado mais leve com o alfa James" — digo, e ouço Koda na minha cabeça. "Está louco se pensas que pouparia aquele canalha!" — ralha ele, fazendo a minha cabeça doer com o seu rugido. "Nem ao menos me deixaste terminar" — digo, enquanto praguejava. Koda não era conhecido pela sua paciência, e na maioria das vezes agia de forma impulsiva. "O que querias que eu pensasse quando disseste aquilo?" — reviro os meus olhos. Aquilo era típico de Koda. "Devias fazer controlo de raiva, Koda. Estás a precisar" — digo, começando a rir enquanto ele disparava uma série de palavrões na minha mente. "Só estou a dizer que, se tivéssemos pegado leve, poderíamos ter-nos divertido com ele mais tempo" — digo, e sinto quando ele entende. "Isso é verdade."
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