6. Capitulo – Puro Controle

2046 Words
O sol já despontava alto no céu, lançando raios luminosos pelas janelas da mansão. Isabela descia as escadas com um livro na mão, os passos ecoando suavemente pelos corredores silenciosos. A noite passada ainda estava fresca em sua mente, mas ela tentava afastar as lembranças com alguma leitura tranquila. Ao passar pelo corredor que levava ao escritório de seu pai, ouviu uma voz alterada que a fez parar imediatamente. — Isso é inadmissível! Bernardo estava exasperado, e o tom autoritário e controlado que ele sempre mantinha parecia ter desaparecido completamente. — Você não entende a gravidade da situação, Rafael! Não pode simplesmente aparecer aqui e exigir que tudo mude de uma hora para outra. Isabela franziu a testa, aproximando-se mais da porta entreaberta do escritório. A voz de seu pai carregava uma mistura de frustração e preocupação que ela raramente ouvia. Bernardo continuou, sua voz subindo ainda mais. — Eu não vou permitir que você interfira nos negócios da minha família dessa maneira! Bernardo quase gritou, a respiração pesada. — Isso não é um jogo para você manipular conforme sua vontade! Então, outra voz se fez ouvir, mais calma, porém com uma firmeza que fez o coração de Isabela acelerar: Rafael Navarro. Aquele timbre grave e quase casual não deixava dúvidas. Ela espiou pela fresta da porta, confirmando suas suspeitas. Lá estava Rafael, de pé com uma postura confiante, as mãos nos bolsos, encarando seu pai com um olhar frio e calculado. Bernardo continuou a falar, tentando manter algum controle da situação. — Não se esqueça de quem você está enfrentando, Rafael. Ele advertiu, o tom mais contido agora, mas ainda vibrante de raiva contida. — Você pode ter recursos, pode ter contatos, mas não pense que pode nos ameaçar sem consequências. Já vi homens como você antes... achando que podem tomar o mundo com um estalar de dedos. Isabela se encolheu levemente ao ouvir seu pai tão agitado, e se perguntou qual poderia ser o motivo da tensão. O que Rafael estava fazendo ali, confrontando Bernardo em sua própria casa? Ela se afastou, decidindo não interromper, mas o desejo de entender o que estava acontecendo apenas crescia. Rafael respondeu, mas sua voz estava baixa demais para ela ouvir com clareza. Havia algo de perigosamente calmo na forma como ele falava, um contraste afiado com a exasperação de Bernardo. A sensação de que Rafael estava se movendo como um jogador de xadrez, calculando cada movimento, fez com que Isabela sentisse um frio na espinha. Bernardo retomou, interrompendo o que Rafael dizia. — Isso acaba aqui, Rafael. Ouça bem o que estou dizendo: você não vai se aproveitar da minha família. A voz de Bernardo soou final, carregada de uma determinação feroz que Isabela reconhecia como a de um homem disposto a lutar até o fim. Ela decidiu sair dali antes que seu pai a visse, mas não conseguia afastar a inquietação que a conversa causara. “O que Rafael poderia querer que o levasse a enfrentar seu pai daquela maneira? ” A imagem dele na festa, com seu sorriso cínico e as palavras cortantes, voltava à mente de Isabela, agora carregada de uma nova e desconcertante conotação. ** Rafael saiu do escritório com a mesma calma imperturbável com que havia entrado. A porta fechou-se suavemente atrás dele, abafando os últimos ecos da discussão com Bernardo. Ele ajeitou o punho da camisa, ajustando a abotoadura com um gesto quase automático, como se o confronto que acabara de presenciar não tivesse tido qualquer impacto sobre ele. Isabela estava a alguns passos de distância, perto da porta de entrada, os braços cruzados e o olhar fixo em Rafael. Seu coração batia acelerado, ainda absorvendo as p************s de seu pai. Quando Rafael a avistou, não demonstrou surpresa; ao contrário, um leve sorriso curvou seus lábios, o tipo de sorriso que sugeria que ele já sabia que ela estava ali. — Então, o que você quer com o meu pai? Isabela perguntou, tentando manter a voz firme, mas não conseguindo esconder completamente o tom de desconfiança. — O que você está fazendo aqui, Rafael? Rafael parou à sua frente, examinando-a por um breve instante antes de responder. Ele manteve a mesma expressão serena, os olhos cinza claros dela se cravando nos dele, que estavam sombreados por uma frieza calculada. — Apenas negócios, senhorita Isabela, nada com o que deva se preocupar. Respondeu Rafael, com um leve encolher de ombros. — Mas, se você quiser, posso te explicar um pouco mais sobre isso. Que tal um almoço? Isabela estreitou os olhos, desconfiada. — Negócios? Você parece estar tirando o meu pai do sério, isso não me parece apenas negócios. Rafael manteve o sorriso, um traço quase divertido surgindo em seu semblante. — Seu pai está apenas estressado com alguns assuntos que estamos discutindo. Nada que um bom almoço e uma conversa calma não possam esclarecer. — Por que eu deveria ir a algum lugar com você? Isabela retrucou, sem esconder o tom de desafio em sua voz. Ela tinha visto como Rafael havia lidado com as pessoas na festa, e agora no seu próprio lar, confrontando seu pai. Rafael parecia se mover com um propósito oculto, um plano que ela não conseguia desvendar. Rafael inclinou a cabeça ligeiramente, mantendo o olhar fixo no dela. — Você não deveria, na verdade. Ele admitiu, o tom de voz suave, quase persuasivo. — Mas, talvez você queira entender o que realmente está acontecendo, e essa é uma oportunidade. Além disso, prometo ser um perfeito cavalheiro. Isabela hesitou, mordendo o lábio inferior enquanto ponderava sobre a proposta. Tudo em Rafael a deixava em alerta, mas ao mesmo tempo, a curiosidade queimava dentro dela. Ela precisava de respostas, precisava saber o que ele queria com sua família. — Tudo bem. Ela finalmente respondeu, sua voz ainda carregando um resquício de relutância. — Mas isso não significa que eu confie em você. Rafael sorriu de forma mais aberta, um brilho de triunfo em seus olhos. — Claro, entendo perfeitamente. Um almoço neutro, apenas para esclarecer as coisas. Vou garantir que você não se arrependa. Ele fez um gesto cortês para que ela o seguisse. Isabela respirou fundo, assentindo. Ela se permitiu seguir Rafael, ainda sentindo o peso da tensão que pairava no ar. Mesmo enquanto desciam as escadas da mansão, ela não deixava de lançar olhares rápidos para Rafael, tentando ler algo por trás daquela fachada calma e impenetrável. Enquanto os dois saíam pela porta principal, Isabela não pôde deixar de se perguntar o que aquele homem, com seu jeito enigmático e controlado, estava realmente tramando. ** Os minutos se arrastaram lentamente enquanto Isabela e Rafael se acomodavam à mesa, cada um ocupando seu lugar de forma bem distinta. Rafael estava relaxado, as pernas cruzadas de um modo que exalava confiança e controle. A postura descontraída e o sorriso quase imperceptível em seu rosto eram irritantemente tranquilizadores, como se ele estivesse completamente no comando da situação. Isabela, por outro lado, estava inquieta. Seus dedos tamborilavam suavemente sobre a toalha de linho, os olhos varrendo o cardápio em uma tentativa de se distrair da tensão que sentia na presença dele. Ela estava ciente de cada movimento que fazia, da forma como Rafael a observava, como se estivesse avaliando cada reação sua. — Então, você vai me dizer o que está acontecendo ou vai continuar enrolando? Isabela quebrou o silêncio, sua voz mais firme do que ela realmente se sentia. Ela queria ir direto ao ponto, não tinha tempo a perder com joguinhos. Rafael ergueu uma sobrancelha, sua expressão permanecendo imperturbável. Ele fechou o cardápio devagar e o colocou de lado, inclinando-se levemente sobre a mesa enquanto seu olhar penetrante se fixava em Isabela. — Eu insisto que peça algo antes, Isabela. Ele disse calmamente, mas havia um tom subjacente de comando em sua voz. — Temos tempo para conversar. Afinal, você não veio aqui só para ouvir uma resposta rápida, não é? Isabela bufou, virando os olhos para o lado enquanto sentia o estômago embrulhar. Era típico dele tentar manter o controle, até mesmo sobre os pequenos detalhes. Ela pegou o cardápio de volta, os dedos apertando a borda com força enquanto folheava rapidamente, mais por obrigação do que por fome. — Eu não estou com fome, Rafael. Ela respondeu, tentando manter a paciência. — Não precisa fingir que estamos em um almoço normal. Você disse que explicaria o que está acontecendo com meu pai e o que você quer. Então, vamos lá. Diga. Rafael inclinou a cabeça, um sorriso sutil se formando em seus lábios. — Entendo a sua impaciência. Ele falou, sem desviar o olhar. — Mas eu sou um homem de hábitos, Isabela. E um desses hábitos é conduzir minhas conversas de forma civilizada. Vamos pedir algo, e então eu te contarei o que achar necessário. Isabela suspirou, sentindo a frustração crescer. Estava claro que ele não cederia. Rafael parecia gostar de provocar, de prolongar a tensão só para ver até onde ela aguentaria. Mas naquele momento, ela sabia que a melhor maneira de lidar com ele era jogar o jogo dele, pelo menos por enquanto. Ela fechou o cardápio com um movimento decidido e acenou para o garçom, pedindo o primeiro prato que viu, sem realmente prestar atenção no que era. — Pronto, está feliz agora? — Ela disse, olhando diretamente para Rafael, que simplesmente deu um leve aceno de aprovação. — Sim, muito. Ele respondeu, relaxando ainda mais na cadeira. — Agora, podemos começar. Rafael estava prestes a iniciar sua explicação quando seu celular vibrou sobre a mesa, a tela se acendendo com o nome de quem o chamava. Ele deu uma olhada rápida, sem ao menos mostrar curiosidade sobre quem poderia ser, e imediatamente silenciou a chamada, empurrando o aparelho para o canto da mesa. Isabela o observou atentamente, captando o gesto despreocupado e confiante de Rafael, como se nada pudesse interferir na conversa que estava prestes a ter com ela. Ela não pôde deixar de se lembrar de uma situação parecida, mas que teve um desfecho bem diferente. Foi como um flash: o cais iluminado pela luz suave do sol da manhã, o som das ondas quebrando suavemente contra o barco, e Juliano, tão distinto de Rafael, mas de um jeito frustrante. Eles tinham marcado de sair para navegar, um passeio que ela esperava ansiosamente, imaginando que seria um momento especial. No entanto, ao receber uma ligação, Juliano havia atendido sem hesitar, seu rosto se tornando sombrio e distante em segundos. Isabela esperou pacientemente ao lado do barco, olhando para o horizonte e tentando ignorar a pontada de desapontamento que sentia. Juliano falava ao telefone com uma expressão tensa, e ao desligar, ele nem se deu ao trabalho de oferecer uma explicação decente. Apenas disse que precisaria cancelar, deixando-a sozinha ali, no cais, com seus pensamentos e um crescente sentimento de frustração. Comparando os dois, Isabela se deu conta de como Juliano parecia ser controlado por tudo ao seu redor, enquanto Rafael, com toda a sua arrogância, parecia ser o tipo de homem que controlava as circunstâncias, não o contrário. Era irritante, mas de certa forma, ela não podia negar que havia algo intrigante na maneira como ele lidava com as coisas. Ele não se deixava perturbar, e isso o diferenciava de Juliano, que sempre parecia hesitante, dividido entre suas prioridades e as expectativas dos outros. Rafael quebrou o silêncio, notando o olhar distante de Isabela. — Você parece perdida em pensamentos, Isabela. Ele comentou, com um meio sorriso. — Pensando em algo que eu deveria saber? Isabela piscou, afastando as lembranças e focando novamente no homem à sua frente. — Não, só estava pensando em como algumas pessoas lidam com interrupções. Ela respondeu, escolhendo as palavras com cuidado. — Alguns deixam tudo de lado por um telefonema. Outros... simplesmente continuam, como se nada pudesse atrapalhar. Rafael inclinou-se um pouco para frente, interessado. — É assim que deve ser, não é? Ele disse, sua voz baixa e controlada. — Algumas coisas merecem nossa total atenção, outras... nem tanto. Isabela concordou com a cabeça, ainda um pouco distraída. — Talvez. Ela murmurou, tentando entender o que exatamente a fazia se sentir tão deslocada na presença dele. Eles eram tão diferentes, e isso a fazia questionar o que exatamente ela esperava encontrar ali.
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