CAPÍTULO 4

1645 Words
CONRADO MALDINI Anota aí no caderno de vocês: Conrado Maldini não gosta de encontros. Mas, em terra de mulheres, o homem que tem um encontro e rei. Certo. Posso melhorar isso? Vamos melhorar. Encontro e para dar atenção às mulheres. Horrível essa. Eu não gostava de encontros, nada, nenhum. Nem em sonho. Nunca gostei e certamente nunca iria gostar disso. Geralmente são como escadas, me atrasam. Já era pra nós dois estarmos juntos, nessa noite linda e maravilhosa. Mas ao escolher alguma coisa você deve estar preparado pra tudo. Até um encontro. Sou um cara adaptando aos melhores vinhos, então seria eu, ela é uma garrafa de vinho tinto puro, número vinte, do melhor lote. Nós dois quem Conrado? Como se vocês não soubessem, vocês sabem de quem eu estou falando, vocês sabem, não sabem? Pelo amor de Deus, hoje é sexta-feira! Vocês esqueceram? Que vergonha. Lamentável. Quase nove da noite. Linda, minha bela e adorável Linda. Ah, eu sabia que eu poderia dar uma noite completamente agradável para ela é o melhor com ela, desci as escadas da entrada, rodando a chave nos dedos, olhando com orgulho para o Impala 67, eu dei um sorriso, eu tenho orgulho do meu pretinho. Homem são assim, tem orgulho dos filhos, mesmo que às vezes eles sejam diferentes. Tem orgulho masculino do carro e até mesmo do tamanho do pênis que carrega entre as pernas. Experiência própria. Vai por mim. Até meu carro brilhava de alegria e pura malandragem, dei uma volta ao redor dele e puxei o celular, enquanto entrava e olhava a mensagem que ela havia me mandado, para eu encontrar ela direto no restaurante. Se eu gostei? Não. Se eu aceitei? Sim. Tem que ceder às vezes, com o tempo se percebe que nos filmes de terror a assombração deixa a casa ser alugada, para só depois poder fazer alguma coisa. Ela poderia fazer antes, mas qual seria a graça? Foi o que eu fiz, deixei ela entrar. Agora não vou mentir em dizer que em um jantar ela vai se prender a mim, como devia ter sido antes. Se Linda quisesse paixão? Ela iria ter. Se quisesse prazer? Ela também iria ter. Nessa sociedade temos que ser solidários. Eu liguei o carro e liguei o motor, precisei ficar com meu pretinho por longos segundos aquecendo o motor, olhei para o retrovisor, olhando a barba e o cabelo preto com alguns fios grisalhos. Se descer mais um pouco vão ver minha camisa social preta com todos os botões fechados. Uma calça jeans e um belo par de sapatos. Não se engane com meu estilo. Sou o tipo de homem que poderia ir viajar, levar um aparelho de roupa que eu sobreviveria. Usaria de dia, lavava na hora do banho de noite e colocava para secar, dormia pelado e de manhã pronto. Já dormiram sem roupa? É ótimo. Mas as vezes você acorda assustado com o lençol passando pela sua coxa e logo pela cabeça. De cima? Não, a cabeça de baixo mesmo. Mas é uma sensação boa. Esse é um dos motivos por nós homens gostamos de dormir pelado. Ah, também tem quem gosta de facilidade. Sou o tipo de ser humano prático. Sustentável. Deviam tentar mulheres, e renovador ser prático ao decorrer de um dia. Não como a minha doutora. Ela não foi prática. Não foi sustentável a ponto de pensar em gastar menos combustível vindo comigo, no meu carro, do meu lado. Dividindo oxigênio comigo. O planeta fica triste com a falta de sustentabilidade dela. Paro o carro e desço, olhando ao redor e vendo no que o restaurante japonês havia se tornado, havia crescido. Foi ali que eu a toquei pela primeira vez. Foi ali que começou tudo. No fim a comida era ela é o chefe era eu. Entrei pelo restaurante japonês e fui direto pra mesa, mesa perto da janela, diante uma janela que dava para um jardim, iluminado e totalmente bonito. Eu suspirei. - Quer fazer o pedido senhor? - Não, estou esperando minha mulher - Falou e me encostei. Relaxando. Completamente. Fiquei parado por vários minutos, escutando a melodia do som ambiente e olhando o celular, para a mensagem dela. Ela havia sido clara que iria me encontrar aqui, mas depois de vinte seis minutos eu fiquei inquieto no meu lugar. Mandei uma mensagem falando que estou sentado na mesma mesa, no mesmo lugar, só esperando ela. Ela não responde. Ou há um atraso muito grande ou ela está me enrolando. Sou impaciente. Sou inquieto. Depois de quarenta minutos eu ligo. Tento fazer isso só que falho na primeira, na segunda, na terceira até chegar na quarta e na oitava. Suspiro fundo. Além de sozinho agora sou abandonado. Peço uma água e fico ali parado, isso por mais uma hora. Depois de uma hora e quarenta minutos eu não tenho muitas esperanças. Já estava na fase 43 do jogo e nada dela. A água já havia secado. Mesas já haviam sido desocupadas e ocupadas de novo. E só eu ali. Eu era um homem encalhado. Um senhor de meia idade encalhado. Puta que pariu! Me levantei e paguei a conta, na saída, na entrada da garagem eu vi um carro, dentro do carro havia uma luz, essa luz iluminava no rosto de uma pessoa. Essa pessoa era mulher, essa mulher eu conhecia. Essa mulher era Linda. Com quase duas horas de atraso. Ela estava parada dentro do carro, olhando pra frente. Parecia uma estátua. Então ela havia chegado. Era bom? Era. Fui caminhando até o carro branco, passos devagar e calmos, quase correndo, até que parei diante dela, seus olhos não se moveram. Continuaram parados, imóveis. Comecei a me preocupar. Fui indo até parar do lado da porta dela e dar duas batidas na janela, mas ela não deu resposta, eu abri a porta. Estava destrava e coloquei meus olhos nela, mais de perto vi seu corpo tenso e duro, imóvel diante mim. - Linda? - Chamei, vi as mãos segurar o volante. - Linda você está me deixando preocupado. Vi o movimento dela, ela tirou o cinto e começou a descer do carro, com maestria e uma grande postura, mas com uma expressão diferente. Estática. Eu estava preocupado, com receio daquilo. Vi o cabelo loiro solto, um rosto bonito, uma boca com um batom claro. E no corpo um vestido, um vestido preto, na altura do joelho, fechado e sem decote, com mangas. E no pé a marca dela, um salto doze. Preto. Ela estava divina. - Não vai dizer nada? - Incentivei, dando um passo para trás. Talvez ela precisasse desse espaço. - Eu não consegui entrar, faz quase uma hora que estou nesse carro sem conseguir entrar - Seus olhos foram para os meus, não foi legal ver o olhar perdido dela. Linda estava com algo, algo por minha singela culpa. - Cadê a mulher forte que eu sempre conheci e nunca teve medo? - Desafiei e sorri. O sorriso era só pra falar da positividade que eu queria entre mim e ela. - Talvez tenha ficado em casa. - Que ótimo, assim ela cuida de Nicolau e eu cuido de você Linda, cuido de você nesse momento. - Conrado você quer mesmo algo comigo, algo sério? Se passou tanto tempo depois daquilo e você mudou, eu mudei... - Eu a corto. - Pessoas não mudam por dentro, por fora mudam, olha pra mim, estou mais velho - Eu me aproximei e peguei a mão dela, colocando no meu peito, sentindo o gelado da mão dela se envolver ao quente da minha. - Mas por dentro não mudamos, evoluímos Linda, você entendeu? Entendeu ou quer que eu fale algo mais específico pra você? Ela deu um passo na minha direção, ficando pertinho de mim, levando sua mão até meu rosto, passando seus dedos em cada parte dele e descendo para o pescoço, até atrás do meu pescoço. - Você ainda é o mesmo de antes. - Sou, sou o mesmo de antes Linda, quis voltar muito antes, mas você sumiu por muitos anos da cidade - Eu engoli o nó que se formou. - Eu nunca quis que você se casasse, nunca, eu quase fiz uma besteira pelo ciúme, quase loira, quase fiz. Só não fiz porque eu tinha dois garotos para terminar de criar. Não tem como criar filhos da cadeia. - Foi um casamento de merda Conrado, completamente! - Eu sei - Eu beijei sua mão. - Quero uma primeira chance, tem como? Eu gosto de dizer que nunca tivemos a chance de nos conhecer melhor. Eu odeio comodidade. Se eu tiver que lutar por uma mulher eu luto. Fiz isso uma vez, ela me deu um filho. Se eu precisar fazer isso de novo com Linda, bem, eu vou fazer. - Conrado - Ela abriu e fechou a boca. - Você - Fez outra pausa. - Eu... ? - Incentivei. - Faz tanto tempo que eu não fico com ninguém, entende? - Eu fiquei parado. - Fiquei nesse carro com medo de encarar você, você sempre me fez isso, me deu medo, me deu ansiedade, me deu... empolgação... isso não mudou, isso é normal? - A médica aqui e você, mas eu pergunto pra você, você ainda quer eu pra você? - Tenho um filho, você... - Sim, eu estaria com todo o peito aberto - O meliante merecia um cara legal na vida dele. - Não sei o que você fez durante todo esse tempo Linda, mas temos uma noite longa pra conversar sobre isso, eu estou aqui, aqui com você. - Conrado vamos pra minha casa - Olha que gracinha, ela se entregando com um abraço, me apertando entre seus braços. Cara Linda, vamos começar de onde paramos. Onde foi mesmo? Ah, em uma cama, falando sobre a gente. Eu a aperto nos meus braços, não quero a soltar.
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