CAPÍTULO 1

1753 Words
CONRADO MALDINI Eu era uma espécie de grandão na porta de uma clínica com um celular na mão, enquanto fazia meus dedos desligarem e resolver as últimas pendências para hoje ser um dia incrível pra minha pessoa. Olhem pra mim, sou uma figura importante pra minha própria vida. Sem mim não teria vida. Repitam comigo. Sem mim não teria vida. Um homem gostoso pra caramba e bem no estilo que ela gostava. Ou gostou, mas se gostou fazeria gostar de novo. Esse era o nosso papel, fazer as mulheres gostarem da gente. Pra não falar que sou putão eu digo: pra fazer UMA mulher gostar de mim. Melhor fechar a boca agora por que deixa eu falar de um homem de 49 anos talvez, mas com espírito de 40 anos, lindo e maravilhoso. Eu sou o coroa que muitas fantasiam, sabe aqueles desejos de pegar um homem mais velho? Então. Podia fazer o estilo confortável, usando a camisa Florida. O jeito marra, usando a camisa preta. Ou o jeito executivo com o terno 3 peças preto e de gravata azul, calça alinhada e sapatos brilhantes. Temos que impressionar a mulher. Havia um bom tempo que não dava uma de homem de preto. Minha garganta estava sendo apertada. Eu estava sorrindo, sorrindo até que vi dois policiais se aproximarem, um deles segurava o braço de um garoto, com muita falta de jeito, pelo que identifiquei. Oh, droga! - Está me machucando! - O garoto devia ter dez anos, me fez lembrar de Lorenzo com aqueles olhos pretos e brilhantes. Me coloquei na frente e olhei para os dois guardas. Policiais sempre seriam rudes, eu sabia disso. Ainda mais com meliantes mirins. - João o que fez dessa vez?! - Eu comecei. Os policiais se olharam entre eles. - O que está fazendo dessa vez? - O que? - O garoto me olhou sem entender, com a boca entreaberta. - Polícias vocês me ajudaram muito! - Eu balancei a cabeça. - Você está de castigo, de castigo rapaz. Devia seguir o exemplo desses policiais. Ah, não devia não. O garoto pareceu entender e baixou a cabeça, sendo solto pelos policiais e se colocando ao meu lado, ainda de cabeça baixa. Infeliz. Ele estava segurando o riso. Garoto esperto. - Senhor, e a segunda vez que o pegamos no fliperama, da próxima vamos o levar. Reincidente. Perigoso. - Certo policiais, certo - Vi os armários ir embora e ele ergue o olhar devagar. Coloquei minha mão em seu ombro e dei duas batidinhas. - Eu não gostei deles. Vai para casa. - Por que me ajudou? - Policiais babacas existem - Eu falei e olhei para ele, que me olhava, foi nesse instante que simpatizei por ele, pelo modo ao me olhar e gargalhar. - Eu não vou agradecer o senhor por isso, não pedi sua ajuda velhote - Eu abri e fechei a boca. Pirralho! - Mau educado. - Intrometido! - Falei e o vi me dar as costas e ir, como se fosse o último dia dele, foi sorridente. Só ajudei pois me lembrava Lorenzo, m*l agradecido do caramba. Tomara que peguem você e levem. Desgosto para seus pais. Foi nesse instante que ignorei o garoto e entrei na clínica, direto para o pavilhão da obstetrícia e vi o nome na porta. Linda, doutora Linda Smith. O peito chegou a estufar, vi a luz vermelha na porta que indicava consulta e me sentei ali e fiquei olhando para a porta. A qualquer momento ela sairia, iria a convidar para um café, ela gostava do meio amargo com biscoitos de cacau. Eu já tinha tudo planejado. Com o tempo você tem que ter tudo planejado, para fazer com que tudo corra rápido. Muito rápido. Eu poderia te dizer que conhecia ela quando precisei de uma médica de emergência para socorrer Pedro, foi ela que apareceu e foi ela que ficou. Me encantou. Autêntica a ponto de se envolveu comigo tempos e tempos depois se entregar pra mim em uma cama. Ah, como era bom as lembranças. Chegava a dar aquele arrepio. Fiquei na sala de espera por dois tempos, um tempo eu pensava na loira e no outro tempo eu pensava no que eu iria fazer com a mulher. Já no terceiro momento eu vi a luz vermelha se apagar. Foi nesse momento que eu me levantei e fechei os dois botões do terno, marquem aí. 11:37 da manhã. Vejo a porta ser aberta e a mulher sair, junto de um casal, que se despediu sorrindo e a deixando, quando ela ergueu o olhar ela me viu, foi aí que as coisas ficaram boas e tudo foi jogada na mesa. Sabe aquelas musiquinhas apaixonantes de casal? Foi quase isso. Só faltava os passarinhos cantados e o sol iluminando ela. Perfeitamente. - Olá doutora, lembra de mim? - Minha voz foi grave, enquanto meus olhos passavam pela mulher loira toda de branco. Ela parecia surpresa. Assustada. Paralisada. Completamente... em choque. Como se tivesse vendo o papai Noel. Linda abriu e fechou a boca, retirando os óculos e olhando pra mim, nos meus olhos. Havia uma mulher na minha frente de um metro e setenta e nove, salto alto, calça branca e um jaleco que ficava perfeitamente sobre o corpo dela, ela não havia mudado, havia ficado mais velha, mas a um ponto gostoso demais. Madura e completamente chamativa, com os lábios finos e um nariz fino, acompanhados por dois olhos azuis, sobrancelhas finas, que dava origem a um olhar que atravessa tudo. Até minhas calças. Eu dei um passo até ela, foi quando eu fiz o mesmo gesto que eu havia feito pra ela a onze anos atrás. Peguei sua mão e beijei. Um beijo casto e cheio de palavras. Já viram filmes de época? Já se perguntaram o motivo daquele gesto? Além de um cumprimento formal poderia dizer várias coisas, ainda mais quando se olhava nos olhos da dama, no fundo dos olhos. - Conrado? - Ela ainda estava surpresa, com se não acreditasse que era eu mesmo diante dela. - Até a última vez que olhei no registro, bem, esse era o meu nome. Eu sorri. Os homens deviam sorrir mais, eu sempre ensinei isso, sorria e evite cantadas ruins. Um sorriso conquista, mas gesto e atitude também. - O que está fazendo aqui? - Ah, sabe como é loira - Fiz uma pausa. - Estou grávido, preciso de uma médica que cuida de mim. Claro, que tome um café também. Me aproximei e toquei o seu rosto. - Estou assimilando - Sussurrou. Eu sabia o quanto ela era ativa, com gestos e palavras. Principalmente, palavras. - Voltei por você Linda, por você. Houve um silêncio. Enquanto encaravam um ao outro. Atentamente. Ela tocou meu rosto. - Mamãe? - Uma voz conhecida adentrou minha audição, fazendo a mão dela se afastando rápida do meu rosto. Me toquei e sai do transe e me virei, tendo uma vasta e louca surpresa. O garoto da entrada. - Meliante?! - Tiozinho?! Eu abri e fechei a boca, voltando a olhar para Linda e depois para o garoto, de uma forma a me perguntar: - Ele é seu filho? - Perguntei com um tom de voz que não planejei. O garoto passou por mim e ficou na frente dela, me encarando com aqueles olhos, como se fosse um pequeno assassino. Isso não estava nos meus planos. Dessa eu não sabia. Na verdade fazia anos que eu não sabia dela, voltei a saber por causa de Pedro que está sendo acompanhando com Camila durante a gestação. Devia ter feito minha lição de casa. - Sim, esse é Nicolau. - O nome faz jus a criança - Eu sorri, olhando para o garoto. - Nos conhecemos a pouco, não é garoto? Ele olhou pra mim com um pequeno ódio nos olhos, que bela surpresa. - Mamãe, podemos ir embora, te esperei a manhã inteira - A voz do garoto veio carregada de coisas melosa e falsas. - Eu e sua mãe vamos no café aqui perto, que tal vir com a gente? Eu olhei para a loira. Ela estava sem palavras e... pálida. - Conrado, eu preciso ir, não esperava você aqui - Ela olhou pra mim. - Filho, eu vou pegar a bolsa, fica aqui. Ela saiu, me ignorando e deixando o meliante na minha frente. - Fica longe da minha mãe - Eu olhei pra ele, sorrindo. - Nanico ela é bem gradinha pra saber o que quer - Eu me abaixei até ficar da altura dele. - Eu sei seu segredinho sujo, então, acho melhor falar que quer ir tomar um café comigo. - Tá me ameaçando? - Perguntou. - Não, estaria se falasse que contaria pra ela se não a converse de tomar um café comigo. - Ela não gosta de velhos como você, babaca - Eu suspirei. - Não foi o que ela me disse. A vi sair da sala, sem jaleco e com uma bolsa no braço. Por baixo do jaleco tinha uma blusa branca com alças finas, eu fiquei olhando aquilo perplexo, no entanto senti uma pisada no meu pé e eu gemi. - Filho da mãe - Olhei para o garoto com raiva. - O que está fazendo?! - Mamãe podemos ir tomar café com esse moço? Ele disse que vai levar a gente na lanchonete do Jim e pagar uma X-Jet completo pra mim. A loira olhou pra mim, eu sorri, sentindo o meu pé pulsar de incômodo. Eu vou jogar esse menino da janela do carro. - Claro, precisamos conversar Linda, eu e você - Puxei o garoto e fiz ele ficar do meu lado. -Não sei onde é o Jim, mas vamos pra lá. Eu sorri forçado. Linda olhou pra mim e para o garoto endiabrado e suspirou, como se sentisse um alívio interno ou se libertasse de uma prisão. Alguém devia dizer que ela não precisava da aprovação do garoto. - Certo, vou no meu carro e você vai no meu, certo? - Eu balancei a cabeça. - Não, vamos todos no meu. - Conrado. - Como nos velhos tempos. - Não estamos nos velhos tempos Conrado, agora eu tenho uma criança ao meu lado. - Linda, eu amo crianças. Ela piscou sem parar, assimilado tudo. O plano era poder levar ela, mas se tivesse uma criança ao seu lado, vamos. Não me importo. Esperei muito por isso é hoje, hoje nada mais me importa, só vêm. - Só venha comigo Linda, por favor. Eu quase implorei. Quase.
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