CONRADO MALDINI
Eu vi Linda no balcão, ela preferiu fazer os pedidos, eu aceitei calado, enquanto me sentava e agora estava sentado na frente do garoto, que me olhava firme. Ele tinha os cabelos pretos, tinha um nariz bonitinho e olhos pretos.
Ele era o pequeno meliante de Linda, já podia ir simpatizando com o garoto.
- O que quer com a minha mãe? - A voz do garoto veio calma.
- E uma pergunta ampla meliante - Eu sorri. - E você, o que fazia no fliperama?
- Jogava - Eu olhei para a máquina de jogos no canto da lanchonete. Levei a mão no bolso e tirei a nota, deslizando até ele. - Minha mãe tem dinheiro.
- São dez dólares para você jogar naquela máquina, sem ter que entrar em fliperama de adulto, certo? - Ele ficou olhando a nota. - Olha para a nota Nicolau, olha como ela olha pra você é te chama.
Sorri.
- Eu não vou deixar você sozinho com ela - Ele olhou pra mim com aquele tom de desafio na voz e um olhar firme. - Ela vale mais que isso.
Me simpatizo com o meliante.
Só um pouco, bem pouco.
- Eu sei que ela vale meliante, quantos quer para me deixar conversar sozinho com ela?
- 50 - Eu olho para ele. - Pegar ou lagar velho.
Eu fiz aquilo.
Colocando as notas na mesa sem nem pensar duas vezes.
Nicolau pegou e se levantou, indo direto pra máquina nos fundos e deixando o lugar amplo. Vago.
Com espaço.
Minha doutora voltou trazendo os dois cafés e acenou para o garoto que era para ele pegar o pedido assim que pronto no balcão. Ela parecia uma ótima mãe.
Uma mãe perfeita e completamente boa para o meliante mirim.
Embora devesse ficar mais esperta com o meliante.
- Você é mãe solteira? - Pergunto.
Só depois de tirar os olhos do filho que ela olhou pra mim, com os olhos atentos.
Agora era a mulher que eu queria, ela buscou dentro do meu olhar algo que refletia ao Conrado de onze anos atrás e ela achou, bem no fundo.
- Eu sabia que viria atrás de mim Conrado, Pedro falou de você, soube que você voltaria pela necessidade de um Maldini.
- Necessidade? Não usaria esse termo.
- Por que me procurou?
- Para ter a mulher que me fez delirar a um tempo atrás - Eu me inclinei pra frente. - Linda, eu voltei por você.
Declarei verdadeiramente.
Sem medo.
Sem drama.
- Não sente raiva de mim? - Desafio, me queimando com os olhos azuis.
Ah, Linda, senti raiva de mim.
Não de você mulher.
Depois de um final de semana que ficou comigo ela se casou, sim.
Casou com o pior homem.
A escolha errada.
Eu fui o amante dela. Por um final de semana, até se casar com um pesadelo. O pesadelo em pessoa que está a sete palmos debaixo da terra.
Pensa em dois amigos.
Um deles iria se casar.
Rola sexo entre os amigos.
A que iria se casar some e eu aí surge a notícia do casamento.
Era quase como uma faca.
Quase.
- Não Linda, nenhum pouco.
- E o que pretende?
- O mesmo que a onze anos atrás, pretendo você - Fiz uma pausa para poder ver os lábios dela entreabertos.
- Eu não sou mais aquela mulher.
- Melhor ainda, se tornou uma mulher completa - Eu peguei a xícara e passei meu polegar pelas bordas. - Mãe, médica de renome e uma mulher perfeitamente bonita, vou usar esse termo para resumir gostosa e muito cheia de si.
Ela sorriu, me acompanhado com o café.
- Eu não posso me envolver com você. Tenho meus compromissos com o meu filho e com meu trabalho.
- Claro que pode! Eu amo crianças, sei respeitar uma mulher e o que ela é - Fiz uma pausa e dei um gole no café. - Sou o homem perfeito pra você, só basta dizer sim.
- Você volta depois de onze anos com essa história?
Ela parecia chocada.
- Sim, essas coisas acontecem.
- O que fez esses anos, Conrado?
- Cuidei dos meus garotos e da minha vida sozinho - Eu falei mais baixo. - Lembra o que disse para você antes de cair no sono? - Perguntei, sabendo que ela lembraria. Sabendo que eu nunca falei aquilo brincando. - Que você Linda, era a única mulher a qual eu daria uma chance na minha vida, e eu deixo essas palavras pra você, novamente, querendo reforçar que eu sentir prazer ao estar com você, paixão e eu não sou um garoto que deixa essas coisas passar. Adormecer e a palavra.
Ela deu uma gargalhada.
- Você me fala isso depois de onze anos? Francamente!
- Linda...
- Esperei você naquela igreja, esperei você me tirar daquilo e você não apareceu. Você devia ter aparecido onze anos atrás - Ela deixou a xícara na mesa. - Não onze anos depois.
Eu vi seus olhos avaliarem a minha postura.
Tensa.
Dura.
Completamente r**m.
- Eu não leio mente e não sabia que você esperava isso de mim - Eu voltei a me encostar no encosto da cadeira. - Se eu soubesse teria ido com meu cavalo branco, querida!
- Não seja irônico - Foi a vez dela se inclinar para frente. - Eu passei seis anos com um homem que eu nunca suportei, vendo ele maltratar Nicolau e me maltratar.
Eu fiquei rígido na cadeira.
- Linda - Ela me corta.
- Nicolau é um garoto diferente por culpa de um maldito homem.
- Até isso você poderia ter evitado.
- Não, me casei com ele chorando, não de alegria, mas de medo, medo puro - Vi uma nuvem n***a se estender pelo seu rosto. - Conrado, eu consegui apagar ele da minha vida, consegui mesmo. Consegui fazer com que meu garoto esquecesse parte de tudo aquilo.
- Linda - Ela me corta.
- Eu aceitei vir para falar que não tem eu e você, eu posso estar cuidado da sua nora - Ela fez uma pausa. - Mas é uma relação profissional.
Eu pisquei surpreso.
- Não quer continuar de onde paramos? - Perguntei, quase implorando.
- O problema Conrado, e que aquilo nunca parou, só que fui só eu que continuei - Ela se levantou. - Lamento por você, mas aquilo é o meu passando. E eu não vivo de passado.
- c*****o eu também não vivo e é por isso que estou aqui - Eu me levantei. - Eu não quero abrir mão de você, entende? Vamos tentar.
Saí de trás da mesa e segurei seus braços.
- Conrado...
Fui na fé do senhor Jesus.
Eu a beijei.
Ali, diante todos.
A beijei com prazer e saudade.
Colando meus lábios nos dela, senti o gosto dela, o gosto quente e intenso da boca dela, senti ela segurando meus braços. Eu não tinha medo. Não mesmo.
Eu a beijei.
Como antes.
E eu só parei quando senti algo me afastando, me empurrando, mesmo eu não saindo do lugar.
Sendo um baque sobre mim.
- Fica longe da minha mãe velhote! - O grito veio grave da voz do garoto. Que me olhava enquanto se colocava na frente da loira. - Ela não vai ficar com você - Ele olhou para Linda, com um olhar firme. - Não vai ficar com ele, vai mamãe?
Eu arregalei meus olhos.
- Eu quero algo sério com sua mãe.
- Conrado, acabou - Ela pegou a mão do garoto e nem fez questão de olhar pra mim. - Vamos Nicolau, vamos embora.
Vi a beira do poço.
- Linda! Não faz isso, lembra do que você me disse a onze anos atrás?
- Eu sou péssima de memória! - Ela ficou firme e começou a caminhar.
Enquanto eu.
Eu fui atrás.
- Não pode falar isso.
Ela parou, no meio da calçada, o garoto ficou parado também, olhando para mim, com aqueles olhos arregalados e olhos de meliante mirim.
- Chega, por favor, eu estou com uma criança.
- Uma criança bem levada pelo visto!
- Não fale dele, você não o conhece. Não sabe nem quem ele é Conrado.
- Deixa mamãe, eu sei me defender dele...
- Nicolau! - Ela repreendeu, e deu mais um passo até chamar o táxi, que parou segundos depois. - Passar bem Conrado, muito bem.
- Isso não terminou.
- E nunca vai terminar - Ela entrou no carro e logo foi o garoto.
- Vai me deixar aqui? - Não houve resposta.
Dei um passo para trás e eu o vi.
O garoto. Nicolau.
E sabe o que ele fazia?
Ria de mim enquanto mandava um tchau.
Filho da mãe!