Capítulo1

1717 Words
‌Cassandra A minha pele está fria, o meu corpo está dormente e a superfície parece cada vez mais distante. Não sei nadar, estou ficando sem ar, vou morrer sozinha enterrada no fundo do mar... Então ele aparece: o meu príncipe encantado. O seu rosto é tão bonito e os seus braços tão fortes que ele não parece real. Ele envolve o seu corpo em volta de mim e então nos leva para a superfície. Então respiro novamente, não mais sendo jogado pelas ondas, mas tremendo com a proximidade do meu salvador. Existe homem mais bonito? A resposta é clara: não. Tento agradecê-lo, mas sou interrompida por seu sorriso ardente. — Eu te encontrei. Ele diz antes de me beijar. O seu aroma inebriante se mistura com o meu enquanto os nossos lábios se devoram desesperadamente. Nossas peles se tocam e o simples contato emociona cada parte do meu corpo e******o. — Sim, minha querida. Seja minha esposa. Não tenho tempo para responder, pois ele retorna ao ataque com a boca. Estou prestes a perder a cabeça. Anseio pelo seu calor, pelas suas carícias. Eu quero tudo dele e... Sinto algo vibrando no meu estômago, não consigo descrever, mas as sensações vão desaparecendo aos poucos, assim como a figura do meu príncipe encantado. A minha pele vibra novamente e, ao sentir o local, descubro a verdade: o meu homem desapareceu, não passou de um sonho. Com os olhos ainda fechados, pego o telefone antes de levá-lo ao ouvido. — Sim? — Traga os pés para cá. Eles ordenam do outro lado da linha. — O seu chefe chegou e a rodada começará em cinco minutos. — Certo. Respondo com uma voz lenta e ainda sonolenta. — Estou com muito sono, vou ficar só mais um minuto. — O que você está fazendo, Cassandra Reid? O grito me faz pular, me acordando completamente. — Acorde agora ou você voltará para São Francisco antes da hora. — Estou acordada, estou acordada. Digo antes de encerrar a ligação. Calço o meus tênis, faço um alongamento rápido e lavo o rosto antes de correr pelo corredor. Termino de prender o meu cabelo em um ra*bo de cavalo quando chego à recepção. — Aqui estão os arquivos. Ela me entrega as inúmeras pastas junto com um copo de café. — O Dr. Rossi começará com o caso dos gêmeos. — Ok. Concordo. — Obrigada, Leah. Você é a melhor. — Eu sei. Ela sorri. — Agora se apresse. — Eu te amo! Exclamo enquanto começo a caminhar em direção à sala correspondente. — Senhorita. Reid. O meu chefe já está na porta me esperando. Não sei como ele faz isso, mas o homem sempre consegue chegar lá antes de mim. Não importa o quão cedo eu acorde ou quão rápida eu seja. Embora isso não aconteça somente comigo e com ele, costumo chegar atrasada em todos os lugares. — Bom dia, Dr. Rossi. — Espero que tenha estudado bem o caso, ou não entrará na minha sala de cirurgia. É proibido odiar o chefe? Porque eu odeio o meu. Ele pode ser o melhor cirurgião pediátrico de Florença, mas não consigo deixar de vê-lo como um egocêntrico amargo. Dois anos trabalhando em sua equipe, provando o meu valor, me destacando até mesmo dos próprios cirurgiões, e ele continua me explorando como no primeiro dia. É porque sou americana? Ouvi rumores da equipe sobre a sua ex-namorada americana. Dizem que desde o escandaloso rompimento entre Miranda Thompson e o Dr. Rossi, este último odeia as mulheres americanas. Até agora me recusei a acreditar, porque me parece ridíc*ulo. No entanto, estou começando a ter dúvidas. — Eu fiz isso, doutor. — Não quero promessas vazias, apenas demonstrações, Dra. Reid. Ele avisa antes de entrar na sala com os meus colegas que foram chegando aos poucos. — Relaxe. Romeo, um dos residentes, dá um tapinha no meu ombro. — Você se sairá bem. Você sempre faz isso. — Eu sei. Pisco para ele e dou um sorriso irônico enquanto entramos. — Dra. Reid, estamos esperando por você. Disse meu chefe, impassível. Agora sou o centro das atenções, mas não me importo. Agora já estou acostumada. ‌— Giogio e Luigi Bonura. Inicio a apresentação do caso. Estudei-o detalhadamente para ganhar um lugar no salão. Nove anos de idade. Gêmeos siameses toraco-onfalópagos*. Eles concluíram com sucesso o tratamento pré-operatório e estão prontos para a separação. O Dr. Rossi me ataca com as suas perguntas habituais sobre o assunto. Sou pediatra, não cirurgiã, e mesmo assim tenho que fazer provas feitas por especialistas toda semana. É bom aprender, mas a fixação desse homem por mim é demais para mim. Como esperado, ganhei o meu lugar na sala de cirurgia e ainda tive a chance de realizar alguns cortes e suturas. A cirurgia leva mais de quatorze horas, já que separar gêmeos siameses é um processo bastante complexo. Quando saímos, já é noite novamente. É assim que tenho passado nas últimas semanas, m*al tenho oportunidade de ver a luz do sol. — Bom trabalho, Dra. Reid. Acho que é a primeira vez que ouço meu chefe me elogiar. — No final, você não se mostrou tão incompetente quanto eu pensava. — Desculpe? Eu franzo a testa, perplexa. Mas que tipo de erva esse italiano fuma? — Acho que vou até sentir sua falta quando você se for. Ele continua, me deixando atordoada. — Restam apenas alguns dias, então aproveite ao máximo. Na recepção você encontrará os casos pendentes para amanhã. Como se eu precisasse me lembrar das horas que me restam em Florença. — Boa noite, Dr. Rossi. Decido ir embora antes de lhe dizer algumas verdades na cara. Encontrei a minha melhor amiga no refeitório do hospital e depois nos sentamos para comer hambúrgueres e batatas fritas no jantar. É a melhor coisa que você pode comer aqui. O mito de que a comida do hospital tem um gosto horrível é absolutamente verdadeiro. — O que está acontecendo? Ela pergunta quando vê minha cara feia. — Meu chefe é um ba*baca. Murmuro para que só ela possa me ouvir. — Me conte algo novo. Ela bufa. — Santino Rossi não é nenhum santo. É assim com todo mundo, embora seja pior com você. — Ele não está bravo com você. Romeo interrompe enquanto se senta à nossa mesa. — Talvez ele exija mais de você do que dos outros porque ele vê o seu potencial. Você já pensou em mudar de curso? — Não, obrigado. Respondo antes de dar uma grande mordida no meu hambúrguer. Estou com muita fome. A vida de um médico é muito difícil. — Sou muito boa com crianças. — Você deveria pensar nisso, talvez assim você consiga renovar o seu contrato. Insiste Romeo, conseguindo roubar uma batata de mim. Ele tem o péssimo hábito de comer a comida dos outros. — A fixação de Rossi em você é estranha. — Porque ele gosta dela. Leah interrompe. — Você está brincando, né? Eu pergunto. — O cara me odeia e até me disse isso, de uma forma nada sutil, que está ansioso pela minha partida para os Estados Unidos. Além disso, não acho que ele queira se envolver com uma americana depois do seu fracasso retumbante com a Dra. Thompson. — Talvez seja um fetiche dele. Comenta Romeo, ainda mastigando. — Apaixonar-se por uma americana, depois fingir odiá-la e finalmente conquistá-la. — Isso é ridíc*ulo. Eu disse, franzindo a testa. — Mas faz sentido. Acrescenta a minha amiga. — Sejamos honestos; nós mulheres gostamos de bad boys. O meu turno termina às dez. Vamos embora juntas? Balanço a cabeça automaticamente. — Tenho que fazer hora extra. — De novo?! Ela exclama consternada. Parece que é ela quem não dorme há dias e não eu. — Você não pode continuar assim, Cassandra. Você vai acabar ficando doente. — Preciso do dinheiro, Leah. Argumentei. — O meu contrato termina na sexta-feira e precisarei de um fundo de renda enquanto procuro trabalho. — Não entendo por que nenhum posto de saúde quer te contratar. Romeo expressa a sua insatisfação enquanto a minha amiga me encara. — O seu histórico é um dos melhores que já vi e, com a pós-graduação que você concluiu, você coroou a sua carreira. Eles deveriam estar lutando entre si para pegar você. Eu realmente não entendo isso. — Sim. Eu aludi. — Tudo isso por um motivo: minha família. Eles estão me atacando de todos os lados até que não têm mais opção para me fazer retornar a São Francisco. — Você pode me explicar? — Talvez um dia. Eu me levante para me despedir dos dois com um beijo na bochecha. — Eu tenho que ir. — Há um mistério em torno de você, Cassandra Reid, que realmente me ex\8cita. Acrescenta Romeo enquanto me afasto. Ainda bem que o lugar não está muito cheio a essa hora, senão as fofocas no corredor não demorariam a chegar. — Que mistério? Dou de ombros e dou a ele um sorriso travesso enquanto continuo a andar de costas em direção à saída. — Sou um livro aberto. — Quão aberto? Ele retribui o gesto. — Pare de tentar encontrar um duplo sentido em cada palavra que eu digo, Romeo Alfieri! Eu digo antes de desaparecer nos corredores. Ao chegar no Pronto Socorro, me deparo com um cenário nada animador. O lugar é sempre um caos. Gemidos, gritos e ameaças são ouvidos por todos os lados enquanto a equipe tenta controlar a situação. Entretanto, um som em particular chama a minha atenção. Um menino de no máximo sete anos chora inconsolavelmente, enquanto uma menina mais nova olha para ele com uma expressão alarmada. Nunca vi uma expressão tão desesperada em um ser tão pequeno. Não sei o que está acontecendo, mas sou atraída por eles por uma força estranha.‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌‌
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