Thor Narrando
Fala tu, cria. Aqui quem desenrola é Thor, herdeiro do Salgueiro. n***o de dois metros, corpão fechado, mente blindada… ou quase. Coração? Esse aí já tem dona faz tempo. Muitos falam que no crime não tem essa de sentimento — quem tem dó, morre primeiro. Mas eu já amo desde os 16 caralhø. Sabe aquela parada de amor proibido? pois é, é esse o meu caso, a p***a do coração do cria aqui bate pela mulher de um aliado do meu coroa, a mãe do meu melhor amigo.
Meu primeiro homicídio foi com 16, no dia em que tentaram invadir o nosso. Meu coroa tomou um pipoco e ficou entre a vida e a morte, mas ali não dava pra chorar nem vacilar. Peguei o fuzil e meti marcha. Derrubei três na hora. Os outros correram, mas o estrago já tava feito. Naquele dia, muita gente tombou… mas eu fiquei de pé. Dizem que o que não mata fortalece, né? Tô aqui até hoje pra provar.
Hoje eu tenho 20. Já tô de frente tem um tempo, mas agora é oficial: o coroa tá quase pendurando o fuzil e jogando a responsa no meu colo. O Salgueiro é meu. Ele vai focar mais no comando geral, estratégia, articulação… Daqui a uns anos vai querer só a cadeira e curtir a patroa dele. Mandou real já: “as preocupações agora são tuas.”
E é isso mesmo, menor. Eu nunca arreguei. Nunca dei um passo pra trás. Se tem oportunidade, eu agarro. Se tem problema, eu resolvo. No crime, respeito se conquista na bala e na palavra. E eu sou bom nos dois.
Tô aqui na laje, olhando o movimento e dando aquele tapa no baseado já no final do plantão. Meu celular começa a vibrar no bolso. Dou a última tratada, olhei o visor e já seu até o que é. Sabendo que é o Pinscher, o meu irmão de criação. Mais chegado que muito parente de sangue. Respiro fundo antes de atender.
Ligação ON
— Fala, cria. Desembucha. — mandei assim que atendi.
— Qual foi, grandão? Vai dar pra colar na resenha ou vai dar pra trás? — ele perguntou, e eu franzi a testa.
— Que resenha? — perguntei, já com a dando um de João sem braço.
— Qual foi, negãø? Tu tá de sacanagëm, pørra? A gente tá armando essa parada aqui no morro, viadø, tem três meses! Já tá tudo certo, só falta tu confirmar.
Sorrir por dentro de nervoso. Foi aí que caiu a ficha. Aniversário da Paty. c*****o. Automaticamente a imagem da mãe deles vem na cabeça.
— Cês tão de palhaçada, né? O bagulho aqui tá frenético, pivete. Não dá pra largar tudo e meter o pé. — tentei passar a visão, tirando o corpo fora. Sabia que não ia dar bom ficar no mesmo lugar que a mãe dele. Aquela mulher me desestabiliza, pørra.
— Tu tá me tirando, grandão? Aí no Salgueiro tá tudo no eixo. O coroa ainda tá de pé, segura essa bronca por um dia. Tu merece respirar, parceiro.
Passei a mão no queixo, pensando. O moleque tinha um ponto. Desde que entrei de cabeça nos corres, não parei. Só pressão. E se tem uma parada que aprendi é que cabeça cansada faz merdä.
— Tá, menor. Mas é bate e volta. Amanhã à logo cedo tô de volta. — respondi, respirando fundo. Desde aquela reunião eu tô evitando contato com a Danny, porque essa filha da putä mexe comigo de um jeito cabuloso, pørra.
— Sabia que tu não ia me deixar na mão! — o Pinscher comemorou.
Dei uma risada curta, cansada.
— Vou avisar o Mestre que é ele que segura a onda aqui até eu voltar. — falei, olhando pro GT que só balançou a cabeça, ciente.
— Já é, grandão. Só vem! — o pivete mandou.
Desliguei. Já na sequência, mandei um salve no rádio.
Ligação OFF
Radio On
— Mestre, tu tá de responsa até amanhã. Qualquer BO, me chama. — Solto olhando para o GT que tá do meu lado dando um tapa no baseado.
— Tô ligado, cria. Vai na fé que aqui tá seguro. E juízo filha da putä, tu quando junto com Pinscher é resenha pra uma semana.
Dei um sorrisinho de canto. O Salgueiro tava no jeito. Agora era só meter o pé e curtir um pouco, que ninguém é de ferro.
Radio Off
Larguei o celular no bolso e subi na moto. A XT piscou no painel, pronta pro rajadão. Engatei a primeira, puxei a embreagem e cravei a mão no acelerador. A frente subiu bonito, rasgando a pista no grau. O vento cortava o rosto, a adrenalina batia forte. Cheguei em casa com aquele sorrisão, sabendo que a noite prometia.
Entrei direto pro banho, jogando a água gelada no corpo quente do rolê. Nem tentei mentir pra mim mesmo… já tava na mente as gatas que iam colar na resenha. A irmã do Pinscher nunca vacilava, sempre trazia umas amigas da faculdade, aquelas patricinhas de pele macia, cheirosa, que curte meter o pé pra favela pra sentir o gosto do perigo. Aquelas que chegam tímidas, mas na terceira dose já tão se jogando. Sei que vou ter que ocupar a mente pra não agarrar a Danny na casa dela.
Ah, menor… bora pensar nas novinhas. Pensamento já tá no giro, só de imaginar a cena, o paü já sabe na hora. Elas vêm de maquiagem intacta, toda princesinha. Mas é só pegar firme pelo cabelo, botar no colo e fazer ela quicar que a postura muda na hora. Fingem que são difíceis, mas no final tão tudo querendo sentar pro bandidö.
Saí do banho no pique. Passei a máquina na régua, deixei a barba na estica. Abri o armário e joguei uma muda de roupa na mochila. Uma Kenner, o ferro, uns quatro pentes carregados, porque ninguém brinca com a sorte. Dei aquela borrifada de desodorante, perfume amadeirado, e taquei o kit de higiene no bolso menor da mochila. Regata no peito, calção da Nike, chave do Mustang na mão.
Meti marcha. Saí do Salgueiro com o volante na ponta dos dedo, aquele jeitão, camisa aberta no peito e o Glock dormindo no banco do carona. O radinho avisando geral que o cria tava descendo pro Morro do Amor. Lugarzinho ingrato pra quem tem o coração bagunçado igual o meu.
Estacionei o carro de frente pra laje do Rocha, aquele cria antigo, visão, paizão do Pinscher, mano do meu coroa de infância. Nem deu tempo de eu desligar o motor, a visão da Paty já veio correndo na minha direção igual foguete.
— THORRRR! — ela gritou, pulando no meu pescoço.
Dei aquela risada abafada e bati a porta do carro com o cotovelo, enquanto abraçava a cintura dela firme, tipo quem não quer soltar nunca.
— Menina, sossega aí... — falei rindo.
— Sossega nada, Thor! Tô feliz de saber que tu tá aqui, achei que ia me dar perdido... justo no meu aniversário de dezoito?
Ela começou a chover beijo no meu pescoço, um atrás do outro, como se quisesse me marcar. A pele arrepiou, mas eu mantive a postura.
— Tu sabe que não podia faltar... mas se aquieta. Tá todo mundo aí.
Ela sorriu sapeca, com aquele olhar que bagunça até os cria mais frio.
— O único presente que eu queria era passar uma noite contigo. — Fala toda manhosa. — Quicar no teu paü a noite inteira.
Passei a mão no queixo, sacudi a cabeça negandø.
— Para com isso, Patrícia. Fica na tua, na moral...
— Na minha? Até onde eu sei tu não tem mulher, Thor. Tá evitando o quê? Medo de mim?
Respirei fundo, segurei o braço dela com respeito.
— Não é medo, é visão. Tu é irmã do Pinscher, filha de um aliado do meu coroa, uma menina de responsa. Eu te respeito pra caralhø, tá ligado?
Ela gargalhou alto, debochada.
— Então tu prefere marmita? Gosta de meter em bøceta arrombada, né?
Ela respirou fundo, me deu um beijo estalado na bochecha e foi se soltando dos meus braços devagar.
— Mas ó... tu não sai do Morro do Amor hoje sem me dar meu presente.
Ficou me encarando com aquele olhar de quem sabe exatamente o efeito que tem. Balancei a cabeça negandø de novo, mas com o peito já pesando.
Foi aí que olhei pra cima e vi... Dannyele, encostada na grade da varanda da laje, olhando tudo lá de cima. O coração deu aquela batida seca.
Antes que eu pudesse reagir, Pinscher veio chegando:
— Fala meu irmão, p***a… tu veio mesmo, hein? Chega mais, cria!
Continua....