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Eu descia as escadas quando ouvi a voz do meu pai vinda da sala de jantar. Minha mãe estava com ele.
-... Não, Lisa. Ela precisa saber que daqui uns meses vai começar a correr perigo! O conselho já está fazendo reuniões sem a nossa presença, será que você não enxerga?!
Sua voz ia ficando cada vez mais fraca, como se estivesse chorando. Eu me abaixei um pouco e sentei na escada para tentar ver o que acontecia, mas tive medo que eles me vissem e parassem de conversar. Subi dois degraus e fiquei lá, apenas ouvindo.
- Trent... Sempre soubemos o que aconteceria com ela aos 17. Mesmo assim decidimos mantê-la viva.
Minha respiração travou na garganta e meus olhos se arregalaram. Eles falavam de mim. Será que eu tinha algum virus? Alguma doença que poderia m***r todo mundo? O que eu tinha que todos temiam? Por que eu sempre fui tão sozinha? Aos 17 eu tenho que morrer? O que está acontecendo?
- Aos 17 anos aquilo fica mais forte, Lisa. Precisamos protegê-la! Ela é nossa filha!
- Não! Ela não é. Ela foi um erro.
Pude ouvir os passos fortes dela para longe da sala indo em direção à cozinha e a porta da geladeira bater. Me levantei, enxugando minhas lágrimas e corri para meu quarto, batendo forte minha porta e me jogando na cama, querendo nunca mais acordar naquele pesadelo.
- Ei. - ouvi alguém dizer. - Zahra. - alguém me cutucou as costelas. - Acorda, sua chata. Você está assim a manhã inteira. Fala comigo.
Levantei meu rosto do meu caderno úmido pelas lágrimas e coloquei meus longos cabelos negros atrás da orelha. Olhei diretamente nos olhos de Richard e ele arregalou os olhos.
- Santo Deus! Sua cara! - ele se virou pra trás pra falar com alguém invisível e cochichou: - Alguém sentou na cara dela! - e deu risada. Eu sorri pra ele, enxugando as últimas lágrimas.
- Eu tenho alguma doença que aos 17 anos fica mais forte e o Conselho planeja me m***r junto com minha mãe.
Seus olhos pareciam em choque. Seus lábios vibraram na tentativa falha de parecer compreensivo. Ele desviou seu rosto da minha direção e escreveu algo num pedaço de papel. Se levantou, pegando suas coisas para ir embora e jogou o papel discretamente na minha mesa.
" Me encontre nas Masmorras de Grandfield após a aula."
O lugar mais amaldiçoado para a pessoa mais amaldiçoada - pensei.
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É verdade... As coisas parecem mais estranhas quando você sente que tem algo de errado na situação. Ou melhor, quando sabe... Há 16 anos havia um imenso centro comercial na estrada abandonada do norte da cidade. Thomas Grandfield era seu dono e muitas pessoas trabalhavam lá, porém num dia não muito diferente dos outros, o centro começou a pegar fogo do nada... Ninguém nunca soube de onde veio ou o por que, mas tudo o que se sabe é que muitas pessoas morreram lá aquele dia. Todo o lugar foi engolido por chamas e no lugar só restaram cinzas e partes da construção que conseguiram "salvar". Intothis denominaram que o território agora era solo maldito e que quem pisasse lá sofreria uma terrível maldição. Segundo eles, as almas das pessoas ainda vagam atormentadas por lá e sugam a felicidade daqueles que encontram. Quase ninguém mais se lembra da história, mas todos sabemos que é proibido chegar perto das Masmorras de Grandfield, a não ser que queira encarar a morte de um jeito diferente.
Richard era diferente dos outros, nunca neguei isso. Sempre acreditei que ele fosse o cara que mudaria tudo ali. Nunca foi de acreditar em superstições e sempre foi um cara que gostava de encarar perigos de verdade. Me sentir ameaçada? Nunca. Eu me sentia protegida. Meu melhor amigo. Meu único amigo.
O sinal tocou e acabei por me libertar de devaneios. Olhei ao redor e não o encontrei. Imaginei que não iria querer que fossemos vistos saindo juntos para um mesmo caminho. Peguei a rua de trás da escola e a segui até o final, virando à esquerda e subindo a colina. As casas foram sumindo durante o percurso e minhas pernas já bambeavam de medo. O lugar me dava arrepio e podia sentir uma energia forte... Eu nunca tinha ido tão longe... Mas agora não dava mais pra voltar atrás. Apertei forte as mãos contra a alça da mochila e respirei fundo antes de entrar por um caminho no meio da mata semi-fechada. Pude sentir o perfume de Rick e isso me tranquilizou, mas então... Eu encontrei olhos assustados. Corri até e ele e segurei seu braço, sua respiração era ofegante.
- Rick? O que foi? - ele me olhou e arregalou mais seus olhos. Eu me afastei. - Rick?
Um sorriso assassino brotou em seus lábios e seus cabelos flutuavam por sobre a cabeça. Um vento? Energia? O que poderia ser?
- Zah...? Ra? - disse ele, mas não era sua voz. Eu gritei e corri pelo caminho de onde vim. Corri o mais rápido que pude e então... Dei de cara com Rick e cai no chão.
- Não me toque! Não me toque!
- Zahra! Zahra?! - ele agarrou meus braços que se debatiam, relutantes. - Se acalme! - sua mão veio de encontro ao meu rosto e meus olhos se arregalaram em sua direção.
- É... Você mesmo? - perguntei ainda com medo.
- Mas que diabos? É claro que sou eu!
- Achei que já tivesse chegado... eu... eu...
Ele me ajudou a levantar e me abraçou.
- Me desculpe pelo tapa... Eu fiquei sem saber o que fazer. Desculpe a demora. Tive que passar em casa primeiro, minha mãe me ligou. O que aconteceu com você?
Balancei minha cabeça tentando me livrar das lembranças e sorri.
- Não foi nada. Eu acho que comecei a imaginar coisas por causa da adrenalina de estar num lugar proibido. - ele coçou a cabeça e sorriu.
- Desculpe por isso... Vamos?
Ele me levou até um lugar que podíamos sentar e ficou me encarando longos minutos.
- Me explique... Seus pais querem te m***r? - desviei meus olhos e fiquei mexendo minhas mão, inquieta.
- Ouvi uma conversa deles ontem... Minha mãe disse que eu não era filha deles. E que eu fui um erro. O conselho planeja me m***r quando fizer 17 anos pois acreditam que eu seja uma ameaça. Mas... Por que? - ele tocou meu joelho e me fez olhar para ele novamente.
- Zahra... Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci na minha vida... Eu te trouxe aqui para justamente te explicar o que você nunca soube, pois nunca ninguém tentou te dizer. É proibido tocar nesse assunto. Pessoas morrem só de pensar nisso. - e ao se levantar disse: - Vamos dar uma caminhada aos redores.
- O que quer dizer?
- Você é especial. Seus pais, há muitos anos, trabalharam aqui neste centro comercial vendendo artesanato. Sua mãe estava grávida de você e era a mulher mais feliz de toda a cidade, ela acreditava que seu filho havia sido tocado por Deus. Todos esperavam grandes coisas de seu bebê. Até que um dia... Ela entrou em trabalho de parto... bem... aqui...
Ele olhava para o único lugar que não estava queimado naquele lugar e o único lugar onde não crescia plantação nenhuma. O chão estava branco como se fosse posto ali há pouco tempo e tudo em volta parecia uma trilha de fogo. Eu pude ver... Todo aquele fogo...
- O seu pai não estava presente quando você foi concebida. Ele correu até a cidade atrás de uma parteira, mas chegou tarde demais... Todo o lugar estava consumido por chamas. Tentaram apagar o fogo, mas muitas pessoas já estavam mortas. Quando seu pai conseguiu um espaço para passar e procurar sua mãe... Ela estava deitada num único círculo longe das chamas e com um lindo bebê nos braços.
Cheguei mais perto de onde eu supostamente tinha nascido e toquei o chão. Ao fazer isso milhares de imagens de pessoas morrendo e gritando por ajuda entraram em minha mente, me deixando atordoada. Eu acabei por cambalear e cair de b***a no chão. Rick tentou me ajudar, mas eu recusei a ajuda.
- Se... Eu nasci aqui... Isso quer dizer que eu fiz isso? Eu matei essas pessoas?
- Ninguém sabe. Mas depois daquilo todos se afastaram de você e de sua mãe. Seu pai pediu p******o ao conselho e eles lhe deram cargos altos lá dentro. Assim foi decretado que você seria mantida em total segurança... Até os 17 anos.
- Por que? Por que teve que ser assim? Por que justo eu?
- Você nasceu para isso, Z. Embora todos achem que você tem ligação com o inferno, eu acredito que você tenha ligação com Deus! Seu pai também crê nisso!
- Como poderia Deus me enviar para m***r tanta gente inocente?
- Zahra... Não existem mais pessoas inocentes no mundo. São todos monstros usurpadores de poder. Entenda... Eu preciso te tirar daqui. Eu prometo que vou achar um jeito de te tirar daqui.
- Richard... Você não pode... Eles vão m***r você. Eu... não posso te perder.
- Você não vai me perder, Zahra. - Rick chegou mais perto e me abraçou forte. - Por que eu te amo.
Meus olhos vibraram e pode sentir seu sorriso.
- Vou cuidar de você, pequena. Eu prometo que vou.
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