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Me deitei aquela noite com um certo peso nos ombros e um forte aperto em meu peito. O que se pensar? Parecia loucura. Sou nascida das chamas, de um parto prematuro e com a morte de centenas de pessoas ao redor. Agora eu compreendia um pouco a raiva de todos que me cercavam todos os dias da minha vida... Uma aberração. No entanto havia algo que eu não conseguia entender... Por que, de todas as pessoas, Richard Fire era meu amigo e me aceitava mesmo sabendo de tudo aquilo... E pior... Era capaz de me amar... Como amar alguém que já nasce assassino?
Meu quarto tinha uma luz fraca, o que o deixava m*l iluminado... Naquela noite fazia um pouco de frio e eu estava encolhida em meu cobertor observando o vazio do teto. No silêncio eu podia ouvir uns baques surdos de portas se fechando no quarto de meus pais e um ruído longe da música de meu irmão. Uma noite normal. Uma casa normal. O relógio da sala de jantar soou alto e minha pele toda de arrepiou. Senti uma forte dor no pescoço e levei minha mão rapidamente até o local, queimava como se tivessem me jogado água fervente. As luzes do meu quarto piscaram antes de apagarem completamente.
Me levantei de vagar da cama, tentando buscar o interruptor. Um frio h******l invadiu meu corpo e me deixou paralisada de pronto.
- Que sensação horrível... - sussurrei.
Quando finalmente alcancei a parede, a luz voltou num click. Me virei na intenção de voltar para o calor dos meus lençóis e minha vista ainda tentava se acostumar com a luz fraca do abajur ligado do lado da janela. Porém, havia uma forma encapuzada diante de mim com a cabeça baixa e um dos joelhos apoiados no chão.
Meu coração acelerou e arregalei meus olhos de pavor. Parecia mais como se a própria Morte tivesse vindo me buscar. Abri minha boca para gritar, mas não consegui produzir nenhum som. A forma se levantou e virou um homem que ergueu sua cabeça em minha direção e seus olhos encontraram os meus em um instante.
- Meus comprimentos, me chamo Koboa e serei seu guardião durante a campanha.
Meus pés pareciam grudados no chão e minha voz estava entalada na garganta. O homem passou seus olhos em mim e deu um meio sorriso. Meus olhos piscavam sem parar tentando analisar a situação.
- Acredito que deve estar se perguntando o que está acontecendo, mas não há tempo para melhores explicações, deixarei contigo uma carta mais tarde para que leia e entenda a sua situação.
- Mi-minha situação? Eu vou morrer? – o homem riu.
- Mas é claro que não! Se você morrer nosso objetivo morre e teremos que esperar mais umas centenas de anos para repetir tudo! Você é a Princesa do Fogo.
- Princesa? – Koboa caminhou até mais perto e pude ver suas feições. Ele tinha intensos olhos azuis e cabelos castanho-avermelhados. Ele sorriu.
- No total são duas princesas e dois príncipes, em breve irão se conhecer. A propósito, feliz aniversário, Zahra!
- H-hoje não é meu aniversário. - minha voz teve dificuldades para sair, mas fiquei mais aliviada quando a ouvi sair fraca. Seu sorriso ficou maior e ele retirou a capa dos ombros. Imensas asas brancas brotaram de suas costas, brilhando! – Um anjo... – sussurrei baixinho. Ele veio até mim e tocou meu ombro falando mais baixo.
- Mas é claro que é! E eu lhe trouxe seu presente, enviado por Deus. Sei que deve estar confusa agora, mas precisa continuar caminhando para chegar onde quer chegar, pequena.
- Quem é você? E o que faz na minha casa? Aliás... Como você entrou aqui!? - ele deu risada.
- São perguntas que ainda não terão respostas para ti. Me considere apenas como... o seu anjo da guarda, por hora.
Ele abriu tirou do bolso um cristal vermelho que brilhava no meu quarto pouco iluminado. Koboa o colocou em minhas mãos e fechou seus olhos.
- Use-o quando precisar da ajuda de Deus para tirar todos os humanos de dentro da muralha.
Arregalei meus olhos.
- Como!?
O cristal na minha mão ferveu e acabei por deixar ele cair no chão. Rapidamente me pus a pegá-lo, porém, quando voltei a olhar para Koboa... Ele tinha desaparecido.
- Isso é loucura! - gritei, mas me calei subitamente quando ouvi umas batidas na porta. Corri para a cama e me enfiei por de baixo das cobertas.
- Zahra, querida? Com quem está falando? - minha mãe já estava girando a maçaneta ao falar. Ela entrou no quarto.
- Filha? O que está fazendo acordada esta hora?
- E-eu é... Tive um pesadelo, mas já estava indo dormir.
Eu virei meu rosto e me encolhi, um tanto atordoada.
- Tem certeza? Precisa de alguma coisa?
- Não, mãe. Eu estou bem. Obrigada.
Como se você se importasse... Bruxa. - pensei.
- Boa noite, princesa.
E a luz se apagou, a porta se fechou e meu sono finalmente veio pra me carregar...
- Princesa.... De fogo....? - sussurrei antes de cair no sono.
Tudo tinha acontecido como em um sonho, mas o dia seguinte me deixou perplexa. Em meu pescoço havia uma marca... "Netuno" - foi o que eu disse, mesmo sem entender, ao vê-la. O cristal estava no meu criado mudo, então tratei de escondê-lo numa caixa dentro do meu closet. Havia muito o que pensar a respeito daquilo e... Richard poderia me dar sugestões mais plausíveis. Por que eu estava com medo.
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