O zumbido constante das turbinas era quase um sussurro reconfortante para Matteo. Sentado no luxuoso interior de seu jato particular, o mexicano observava pela janela o manto n***o da noite, cortado apenas pelas luzes tímidas das cidades que ficavam para trás. Ele segurava um copo de uísque com firmeza, como se o calor da bebida pudesse conter a tempestade que fervia dentro dele.
No silêncio da cabine, as palavras de Sayuri ecoavam com nitidez. “Preciso de ti no Japão. Há algo que só você pode fazer por mim.” Ela não precisou dizer mais nada. Matteo conhecia aquele tom de voz, aquele olhar que pedia ajuda, mas ao mesmo tempo desafiava qualquer um a questionar os seus motivos.
Sayuri não era como os outros — ela era uma tempestade calma, como ele, mas que escondia no seu peito as forças de um verdadeiro tornado.
Enquanto o avião cortava os céus do Pacífico, Matteo deixou-se afundar nas memórias. Desde que a conhecera, ainda muito jovem durante um evento em seu pais, algo neles dois se reconheceu. Dois mundos diferentes, mas uma mesma escuridão. Ela com os seus olhos que escondiam segredos. Ele, com as mãos manchadas por histórias que ninguém ousava contar em voz alta.
Sayuri era uma das poucas pessoas que conseguiam vê-lo para além da fama manchada de sangue. Para o mundo, Matteo era o filho do demônio — o "Príncipe Escarlate" da máfia mexicana, conhecido por sua crueldade fria, pelo sorriso que precedia a morte. Mas para Sayuri, ele era apenas Matteo. O amigo, o confidente, o escudo.
Matteo cresceu entre sangue e pólvora. O seu nome fazia tremer homens experientes, e mesmo assim, diante de Sayuri, ele era apenas Matteo — o amigo, o confidente, o homem que sorria de verdade. Mas ele também era o predador, e agora, ela o havia chamado à caça. Ao menos era o que ele pensava que significava o pedido dela.
Acendendo um charuto, tragando lentamente enquanto olhava os reflexos escuros do vidro. As sombras que habitavam o seu passado, dançavam ao redor dos seus pensamentos. Torturas, traições, execuções silenciosas. Ele era o tipo de homem que fazia justiça com as próprias mãos, e não perdoava quem traía os seus. Matteo era o acerto de contas para aqueles que ousavam desafiar as suas ordens.
Encostado, Matteo passou os dedos pela cicatriz que marcava o seu maxilar, lembrança de uma emboscada em Tijuana. Uma lembrança de que a lealdade tem preço. Mas com Sayuri, ele pagaria qualquer valor. Ela o salvara do abismo, anos atrás, com algo tão simples quanto confiança. Ele jamais esqueceria os olhos dela ao ajudá-lo a vingar-se do homem que o tinha marcado.
E Sayuri era “sua” em um sentido que poucos entenderiam. Não como posse, mas como pacto. Lealdade selada em olhares e gestos ao longo dos anos. Ela sabia o que ele era. E mesmo assim, o aceitava. Matteo não aceitava qualquer um ao seu lado, mas por Sayuri ele andaria em brasas acessas quantas vezes fosse necessário.
— Quem tem incomodado a minha princesa… — murmurou em espanhol, o rosto endurecendo com a simples menção do nome dela. — Que tipo de pessoa ousou machucar uma mulher como Sayuri?
Ele sorriu de lado, um sorriso que não alcançava os olhos. A pessoa que estava perseguindo Sayuri, estava prestes a aprender que há sombras piores do que o arrependimento.
O piloto avisou que em breve estariam sobrevoando Tóquio. Matteo apagou o charuto no cinzeiro dourado ao lado da poltrona. O jogo estava prestes a começar, e desta vez, o corvo cruzava os céus com fome. E quando Matteo entrava em cena, não havia misericórdia.
Minutos depois ele observa a mensagem de um dos seus em seu telefone, ele agora tinha um nome para investigar: Lyo.
Matteo cuidava de Sayuri como um verdadeiro irmão faria, e ele tinha olhos ao redor dela para garantir que ela estaria segura, então tinha sido uma surpresa desagradável para ele ao saber que Sayuri tinha sido vitima de alguém próxima a ela, mas como era de se esperar, a sua pequena princesa não se deixava cair em truques velhos e tinha saído daquela armadilha.
Lyo. Não importava para Matteo quem era a mulher, a única certeza que ele tinha é que o seu pescoço lhe pertencia mesmo que ela ainda não soubesse. Ninguém mexia com alguém que ele amava e vivia para contar história.
— Conseguiu o que eu precisava? — Pergunta ele ligando para um dos seus no Japão.
— Sim, Don. Estamos apenas esperando uma ordem sua para agir. — Responde o homem na linha, ele estava acostumado com a rispidez de Matteo, e não era burro para deixar o seu chefe esperando.
— Aguarde as minhas ordens, em breve desejo ter uma conversa com essa pessoa. — Diz ele apenas.
Todos que conviviam com Matteo sabia o que aquelas palavras significavam, o seu nome no submundo não seria Príncipe Escarlate, se não fosse uma alusão ao sangue que ele derramava sem nenhum arrependimento.
Matteo olha no seu telefone uma foto de Hideo, ele já tinha ouvido falar muito sobre ele, mas nunca tiveram a chance de se encontrarem. Algo havia mudado na forma que ele o via agora, saber que a sua princesa estava sofrendo por causa dele o deixava sedento por seu sangue, mas ele não passaria por cima das ordens de Sayuri, e ela tinha sido claro ao dizer a ele para não agir sem a sua permissão.
Horas depois o jato pousa no aeroporto, Matteo se levanta aliviado por finalmente poder descansar das longas horas de voo, mas primeiro ele iria até Sayuri, precisava saber o que ela precisava dele com tanta urgência para não dizer ao telefone. Ele entra no carro da família Matsumoto e parte em direção à mansão.
Matteo podia ouvir as vozes que vinham da sala onde Sayuri e a família tomavam café, e aquilo fazia seu peito arder em saudades. Quando o mordomo o anuncia para eles, ele observa com prazer ela se levantar e vir correndo na sua direção, se jogando nos seus braços.