O médico tinha um semblante cansado, mas determinado. Julia deu um passo à frente, o coração acelerado. As palavras que sairiam da boca dele poderiam ser a solução para os problemas que eles tinham.
— E então, doutor? Ela sobreviveu? — pergunta ela.
Ele assentiu lentamente, para alívio de todos ali presentes.
— Sim… ela sobreviveu.
Um suspiro coletivo de alívio tomou conta da equipe, mas a expressão do médico permaneceu grave.
— Porém, ela apresenta sinais claros de abuso s****l, perdeu muito sangue… está extremamente debilitada. Há múltiplas marcas de maus-tratos e sinais evidentes de desnutrição. No momento, está inconsciente e, quando acordar, vai precisar de apoio psicológico urgente.
O médico não diria a ela o quão graves eram as lacerações na i********e da mulher; ele nem ao menos cogitava pensar em tudo o que ela havia sofrido para chegar àquele estado.
Julia fechou os olhos por um segundo, processando o impacto daquelas palavras. Quando abriu, a sua expressão endureceu.
— Faça tudo o que puder para garantir que ela fique bem, doutor. Essa mulher é mais do que uma vítima… ela pode ser a chave para desmontar Masato de uma vez por todas.
O médico assentiu, retornando para a sala de emergência.
Julia se virou para a equipe, os olhos brilhando com uma nova determinação.
— Vamos. Preciso encontrar a senhorita Sayuri imediatamente. Ela precisa saber disso.
— Para a casa de Hideo? — perguntou Marco. — Acredito que ela ainda esteja lá.
Julia confirmou com um gesto rápido.
— Sim. A senhorita Sayuri está lá e essa informação pode mudar tudo.
Sem perder tempo, a equipe entrou novamente na van. O motor rugiu enquanto cruzavam as ruas escuras e silenciosas da cidade, em direção à casa de Hideo.
Dentro da van, o silêncio era cortado apenas pelo som do rádio transmitindo as últimas atualizações da equipe que permanecia vigiando a mansão de Masato.
Julia mantinha o olhar fixo no horizonte, os pensamentos acelerados. Aquela mulher havia sobrevivido ao inferno… e agora podia ser a peça que faltava para derrubar um império construído sobre dor e medo.
Quando finalmente avistaram a entrada discreta da casa de Hideo, Julia inspirou fundo e murmurou para si mesma:
— Agora as coisas vão mudar.
Assim que saíram do veículo, foram recebidos por Shiro, que os conduziu rapidamente até Sayuri. O destino daquela mulher, e talvez o de todos eles, agora dependia do que fariam a seguir.
— Desculpe interromper, senhorita Sayuri — diz Julia, entrando na sala de jantar e fazendo uma pequena reverência.
— Não se desculpe, sei que, para me ver a essa hora, deve ser algo importante — diz Sayuri.
Julia observa as pessoas à mesa e se volta novamente para Sayuri.
— Preciso falar em particular com a senhorita — diz ela.
— Podem usar o escritório — diz Hideo.
— Venham comigo, vocês — diz Sayuri aos outros que estavam à mesa. Apenas Mei permanece em seu lugar.
Eles caminham em direção ao escritório em silêncio. Assim que todos entram e fecham a porta, Sayuri se vira para Julia.
— Pode dizer, Julia. Sei que, se fosse algo menos grave, você teria me ligado. Para vir até aqui, deve ter acontecido algo muito sério — diz Sayuri.
Os outros observavam a postura de Sayuri mudar enquanto encarava a mulher e os outros homens à sua frente. Hideo observava com atenção o que acontecia, curioso para conhecer mais da mulher que dividiria a vida com ele.
Julia observa os rostos no escritório, em dúvida; ela não sabia o quanto podia revelar na presença de pessoas que não conhecia.
— Apenas diga, Julia. Eles são da minha confiança, vão manter o sigilo — diz ela, percebendo a forma como Julia hesitava.
— Mantivemos vigilância sobre Masato e Sora, como nos instruiu, e hoje finalmente tivemos uma pista que pode nos ajudar — diz ela em voz baixa.
— Uma pista? Que pista?
— Ela está sendo tratada agora, senhorita. Acredito que... — Sayuri a interrompe rapidamente.
— Como assim “ela”, Julia?
— Encontramos um endereço novo que Masato frequenta, um que não está listado entre os que já temos.
— Então tinha algo que ainda não sabíamos — diz Sayuri, pensativa. — Ele é realmente esperto.
— Quando fomos vistoriar a propriedade, vimos quando uma van partiu com uma mulher. Resolvi segui-la e vimos quando eles descartaram um corpo no beco. Fomos verificar e ela estava viva. Nós a levamos para ser tratada e agora ela está sob vigilância dos nossos — diz Julia, resumindo a história.
— Então temos alguém que pode nos ajudar a descobrir mais sobre Masato. É isso? — pergunta Sayuri, com a esperança correndo por suas veias.
— É sim, senhorita. Chegamos à conclusão de que ela deve ser de alguma das cargas de Masato.
Aquela palavra traz uma nova luz à mente de Sayuri; ela encara Julia com olhos sombrios ao finalmente entender o que ela queria lhe dizer.
O rosto de todos escurece no escritório. O clima fica tenso enquanto eles absorvem o que a mulher à sua frente dizia.
— Aquele filho da p**a! — diz Hideo, socando a mesa com raiva.
— Eu vou me divertir com esse animal quando puser as minhas mãos nele, e garanto que vai ser bem doloroso — diz Matteo, girando um canivete entre os dedos.
— Precisamos do depoimento dela, pode ser a chave para o que precisamos — diz Sayuri.
— O médico disse que ela está desacordada, senhorita, e que precisará de ajuda psicológica — diz Julia.
— Cuide de tudo, Julia. Não quero que falte nada a ela. Precisamos achar um jeito de parar Masato e ela pode ser a chave — diz Sayuri.
— Cuidarei de tudo pessoalmente, senhorita. Não se preocupe — diz Julia.
— Me mantenha informada, Julia.
— Sim, senhorita — diz ela, fazendo uma reverência antes de deixar o escritório.
— Masato está passando dos limites. Se ele tinha essa mulher, pode ser que tenha outras — diz Matteo.
— Não vejo a hora de usar o meu canivete no couro daquele canalha — diz Vito, com olhos sombrios.