A noite avançava, e a cidade parecia esquecer os sorrisos falsos e o brilho das festas. O carro de Ricardo cortava as estradas silenciosas que levavam aos arredores industriais de Tóquio, onde os becos escuros guardavam mais segredos do que as famílias jamais admitiriam em público.
Eram naqueles becos onde a maior podridão da cidade existia de forma silenciosa, e era lá que negócios escuros eram firmados sobre um juramento de sangue.
Hideo estava no banco do passageiro, o olhar fixo no reflexo das luzes da rua nos vidros molhados. Ainda sentia o peso das palavras de Yuki, mas agora, ao lado de Ricardo, ele respirava com mais liberdade — como se tivesse deixado para trás as paredes sufocantes daquela festa. Sabia que tinha muito com o que lidar, mas naquele momento queria apensa esquecer aquela noite fracassada.
— Esses homens que vamos encontrar... — começou Hideo, sem tirar os olhos da estrada. — Eles fizeram o que exatamente?
— Ao que parece roubaram a casa de um homem importante e estupraram uma das suas filhas, ele quer vingança e o rastro do ladrão me trouxe justamente para cá.
Ricardo já tinha perdido as contas de quantos pedidos como aquele ele recebia por dia. Os homens poderosos quando não conseguiam resolver as coisas com os seus contatos na lei sempre procuravam o submundo do crime, mais especificamente o mercado n***o de assassinos.
— Esse vai merecer o fim que o espera. — Diz Hideo com o maxilar trincado. Aquele era o tipo de coisa que ele tinha profundo nojo.
— Ele não vai ter a menor chance, nunca teve.— Ricardo tinha um sorriso sombrio no rosto, e Hideo sabia bem o que significava. Nada ficava no caminho de Ricardo, ou melhor de Rino, o assassino de aluguel mais bem pago do mundo do crime, o que significava que o ladrão e estuprador já estava morto desde que ele tinha aceitado aquele trabalho.
Chegaram a um dos galpões abandonados da zona leste. O local parecia vazio, mas o cheiro no ar — óleo, pólvora e medo — denunciava a movimentação recente. Ricardo desligou o carro e puxou um casaco escuro do banco de trás junto com suas roupas. A identidade de Rino ainda era um mistério e ele garantiria que continuasse assim. Hideo fez o mesmo, checando a pequena pistola que trazia junto à cintura. Eles se arrumam e descem do veículo, naquela noite escuro os dois eram um borão nas sombras.
— Como sabia que ele estava aqui? — perguntou Hideo, enquanto caminhavam silenciosamente entre os contêineres empilhados.
— Tenho os meus meios. Hoje, esses homens fariam um encontro rápido para repassar o pagamento do que tinham roubado. Depois disso, iriam desaparecer do mapa.
O som metálico de uma corrente ao longe os fez parar. Ricardo sinalizou com a mão e ambos se esgueiraram até a lateral de um contêiner. À frente, três figuras conversavam em voz baixa, próximas de uma van preta com vidros escurecidos.
Hideo reconheceu o emblema tatuado no pescoço de um deles — a marca da gangue Kurogane, conhecida por fazer o "trabalho sujo" das famílias poderosas.
— São eles. — sussurrou Ricardo. — Aquele de casaco vermelho é o mensageiro. É ele quem tem o contato direto com os membros da elite.
— E o plano? — indagou Hideo, sentindo o coração acelerar, mas com o rosto frio como pedra.
— Simples. Entramos matamos todos e despachamos a cabeça como prova. — Diz Ricardo com um sorriso de canto. Hideo se sentia um t**o por perguntar, Rino nunca deixava a suas vítimas vivas.
Ricardo moveu-se como uma sombra, e Hideo o seguiu sem hesitar. O primeiro homem caiu com um golpe seco na nuca. O segundo tentou reagir, mas foi contido antes de sacar a arma. O mensageiro tentou correr, mas Hideo o interceptou com um movimento preciso, derrubando-o contra o capô da van.
— Aonde pensa que vai. — murmurou Hideo, com a voz baixa e perigosa. — Quem ataca uma família como vocês fizeram, cava a própria cova.
Hideo pega o homem e o arrasta de volta para dentro, lá Rino já tinha os outros dois homens mortos aos seus pés e as suas cabeças já tinham sido arrancadas.
— Você foi rápido. — Diz Hideo jogando o homem aos pés dele.
— Precisava, tenho pressa em voltar para casa ou caso contrario me divertiria com eles por boas horas. — Hideo podia ouvir o tom de riso na voz de Ricardo e sabia que ele devia estar sorrindo por baixo da máscara que usava.
— Ainda me surpreendo empre que penso quem você é, — Diz Hideo balançando a cabeça. — Aposto que os seus inimigos devem estar frustrado por não saber.
— Eles estão, e isso é algo que eles jamais vão descobrir. — Ricardo era cuidadoso em tudo o que fazia, e sua identidade no submundo era mantida em segredo a risca.
O homem resmunga aos pés de Rino e quando abre os olhos ele se desespera, mas antes que pudesse fugir Rino o acerta com um chute no rosto o jogando novamente contra o Chão.
— Aonde pensa que vai? Temos contas a acertar. — Diz ele puxando um canivete da sua bota.
— Não! Por favor! Eu não fiz nada! — Grita ele em desespero enquanto Rino caminhava na sua direção.
— Se não tivesse feito eu não estaria aqui. — Os gritos do homem enchem o lugar a medida que Rino partia para cima do homem. Quando ele termina o chão estava coberto de sangue assim como as suas mãos. Ele pega um saco plástico e recolhe as cabeças que o seu cliente tinha pedido como prova e volta para o carro.
Para a felicidade de Ricardo, Aurélio tinha um lugar que lidava com aquele tipo de encomenda, então no caminho eles despacham a encomenda e voltam para o centro.
— Uma bebida? — Oferece Hideo no caminho em direção ao aeroporto.
— Tudo bem Hideo, vai ser bom tomar algo, e precisamos conversar garoto. — Aquele tom de Ricardo faz Hideo erguer a cabeça e encontrar os seus olhos castanhos que o fitavam de forma firme, então ele apensa assente e seguem para um bar próximo.