A cada passo que Hideo dava em direção das celas ele sentia o seu peito queimar com a raiva. Quantas vezes ele já tinha feito aquele caminho? Varias. E ao que parecia ele não pararia de caminhar por ali tão sedo. Os soldados lhe permitem fazer o seu caminho em silêncio mantendo alguns passos de distância dele, lhe dando um pouco de espaço.
As paredes frias da cela pareciam sussurrar memórias antigas, como ecos de uma dor que nunca cessava. Hideo entrou sem resistência. Já sabia o que o aguardava ali. Não adiantaria lutar como muitas vezes havia feito, ele tinha parado de resistir quando tinha descoberto que o seu pai odiava mais quando ele colaborava, então preferia fazer um pouco mais de raiva no seu velho pai.
Sem que os soldados precisassem dizer uma única palavra, ele retirou a camisa, revelando cicatrizes que riscavam a suas costas como mapas de batalhas m*l vencidas. Os seus músculos contraíram-se ao contato com o ar gelado da cela. Lentamente, caminhou até as correntes presas ao teto e segurou-se nelas com firmeza.
— Vamos acabar com isso logo... — murmurou, encarando o vazio à sua frente. Naqueles momentos ele gostava de deixar a mente vazia, mas a discussão daquela noite ainda insistia em rondar os seus pensamentos lhe roubando até mesmo a paz que ele sentia quando apanhava.
Os dois soldados hesitaram. Hideo os conhecia. Eram rostos familiares, homens que serviam à família havia anos. Um deles baixou o olhar, tomado pela culpa, mas mesmo assim ergueu a vara de bambu. O som do primeiro golpe cortou o ar como uma lâmina.
— TCHAC!
Hideo cerrou os dentes. O ardor na pele não era nada comparado ao que queimava dentro dele. As lembranças vieram em ondas, tão nítidas quanto a dor física. Para ele a ardência que marcava o seu corpo era apenas uma forma de se lembrar de como o seu pai era c***l ao impor a ele uma culpa que ele não carregava.
A primeira surra, ainda menino, por ter chorado na frente de convidados. A segunda, por ter se recusado a treinar com armas aos doze anos. A terceira, por dizer que não queria ser o herdeiro daquele mundo. A quarta, a quinta, a sexta... tantas que já perdera a conta. O seu pai parecia ter um prazer c***l ao surra-lo, como se aquilo apagasse as palavras que ele tinha dito, não apenas lhe dava mais força para o retaliar no futuro.
— TCHAC! TCHAC!
O bambu vergava a cada golpe, abrindo a carne das suas costas como se quisesse escrever, em marcas vermelhas, as lições de obediência que o pai tentava impor. Uma após a outra elas se seguiram.
Mas Hideo não gritava. Ele não se permitia. Ele apenas revivia, em silêncio, cada insulto, cada humilhação, cada “você não é digno”, cada olhar frio de Haruki. E, com cada novo golpe, o ódio dentro dele crescia como uma b***a faminta.
"Um dia… eu vou quebrar essas correntes. Não as de ferro. As de sangue."
— TCHAC!
O último golpe veio mais forte que os anteriores. A sua pele estava quente, latejante, sangrando em filetes finos que escorriam por suas costas até o cós da calça. Os soldados recuaram, ofegantes.
Um deles — o mais novo — se aproximou com olhos marejados, caindo sobre os seus joelhos e abaixando a cabeça em sinal de submissão a ele.
— Me perdoe, senhor Hideo... nós... só cumprimos ordens...
Hideo permaneceu de cabeça baixa, ainda segurando as correntes. Os seus ombros subiam e desciam com a respiração pesada.
Os dois guardas deixaram a cela, trancando a porta atrás de si com um estalo seco de chave. O som ecoou na mente de Hideo como um ponto final.
Silêncio.
Por alguns segundos, apenas o som da água pingando de um cano velho preenchia o espaço. Então, veio a risada. Baixa no começo. Depois, mais alta. Irregular. Um riso trêmulo, quase infantil, mas cheio de dor, mas que foi crescendo dentro daquele espaço assustando os soldados que a ouviam do lado de fora.
— Hahahaha... — Hideo gargalhava com os olhos marejados, a testa apoiada na parede úmida. — Que piada de merda... a minha vida é uma piada de merda...
Ria como quem já não tinha mais o que perder. Como quem havia finalmente aceitado que, naquele mundo, não havia redenção. Apenas punição. E ódio. Muito ódio.
Hideo permite que a sua loucura saia naquele momento colocando para fora toda a raiva que o corroía por dentro, lentamente os risos se transformam em gritos que enchem o lugar, ele solta as correntes e soca a parede repetidamente dando vasão a raiava reprimida.
Ele estava ofegante, sentia como se pudesse desmaiar a qualquer momento tamanho era o aperto que sentia no seu peito. Com um último suspiro Hideo se senta no chão frio da sua cela, cruza as pernas e se permite apenas meditar, deixando que aqueles sentimentos ruins que o dominavam se acalmasse no seu peito.
A mente de Hideo vaga para lugares mais felizes, como o seu último encontro na Fênix, ele sorri ao se lembrar da disputa para padrinho que estava rolando na organização, uma disputa que ele estava decidido a ganhar. Ele permite que o seu coração se encha com aquele acolhimento que ele tinha quando estava com eles, e lentamente a raiva vai cedendo dentro de si, a sua respiração se acalmando assim como a sua mente.
Hideo sabia que não teria como fugir do seu destino, o seu pai não o deixaria em paz enquanto não assumisse o seu lugar na Yakuza, então ele teria que encontrar uma forma de conviver com ele por sua mãe, porque por mais que Mei sofresse, Hideo sabia que a mãe amava profundamente o seu pai, e ele não queria ser o responsável por trazer mais memorias ruins a ela.
A mente de Hideo começa a relaxar a medida que ele começa a fazer novos planos, e um deles era vingar o nome da sua mãe.