Capítulo 100

1004 Words
O salão ainda vibrava com o eco das palavras de Hideo. Um silêncio tenso pairava no ar, como se o tempo hesitasse em seguir adiante. Mariana ajudava Sora a se levantar, os olhos fixos ao redor, como uma fera encurralada. Ela não estava habituada àquela sensação — a de impotência. — Eu disse para se ajoelharem. Ou precisam que eu os ajude com isso? — perguntou ele de forma sugestiva, enquanto alguns soldados entravam no salão e os cercavam. — Não precisa disso, já entendemos — disse Sora, recuando. Não havia nada que ele pudesse fazer naquele momento; recuar era sua melhor estratégia. — Precisa, sim. Vocês dois estão brincando com a minha cara e com a da minha mãe tempo o suficiente para agora lidarem com o preço por isso — os olhos de Mariana se arregalaram com as palavras de Hideo. — O que você... — O que vou fazer? — perguntou ele, divertido. — Me diga, Mariana, há quanto tempo você é amante do meu pai? O rosto de Mariana queimava de raiva e vergonha por Hideo expô-la daquela forma. As pessoas ao redor apenas observavam, sem intervir. — Eu... — Diga — exigiu ele, com o maxilar trincado. — E aproveite enquanto ainda estou perguntando. — Há vinte e três anos — disse ela, desviando o olhar. — Então, tenho o castigo perfeito para você — disse Hideo com um sorriso de canto. Os líderes da organização, um a um, mantinham-se em silêncio, as cabeças levemente inclinadas diante de Hideo. O respeito que Haruki demorou anos para construir, o filho agora conquistava com puro temor. Era algo que Mariana não esperava. Ela confiava demais na arrogância de homens velhos e nas rachaduras da lealdade. Mas ali… ali não havia rachadura alguma. — Vocês vão aceitar isso? — gritou Mariana, a voz embargada de ódio. — Haruki também era pai do meu filho! Ele tem direito a algo! Vocês sabem disso! Nenhuma resposta. Apenas olhares baixos, evitantes. Alguns carregavam culpa, outros apenas medo. Sora deu um passo à frente, tentando recuperar a compostura. — Eu sou filho de Haruki Shinoda! Tenho o mesmo sangue que você, Hideo. Tenho o direito de fazer parte desta família, desta organização! Você não pode nos humilhar dessa forma. Hideo soltou uma gargalhada seca, dura. A expressão era quase de divertimento, mas os olhos… os olhos permaneciam frios como gelo. — O único lugar que eu darei ao meu irmão bastardo — disse, cada palavra sendo cuspida com desprezo — será um túmulo ao lado do nosso pai. E olhe lá, porque nem isso você merece. O impacto daquelas palavras atingiu Mariana e Sora como uma tempestade. O rosto da mulher se deformou em ódio, as mãos tremendo. Sora cerrou os punhos, os olhos faiscando, mas ele sabia — no fundo, sabia — que não tinha poder ali. Não como Hideo. Para aquelas pessoas, ele sempre seria visto como um bastardo. — Você é um monstro… — sussurrou Mariana, os olhos fixos em Hideo. — Não é o filho de Haruki… é a sombra dele. A pior parte dele. — Talvez — respondeu Hideo, dando um passo à frente, encarando cada rosto no salão — mas sou eu quem vocês obedecem agora. E será por minhas mãos que vocês pagarão por tudo o que fizeram à minha mãe ao longo desses anos. Não se enganem, essa cara de vítima não convence ninguém. Virou-se para os demais. — Que fique claro, aqui e agora: qualquer um que acolher essa mulher ou esse bastardo… qualquer um que os aceitar em seu círculo de amizades, em sua casa, ou mesmo lhes oferecer um copo d’água… será considerado meu inimigo. E sofrerá como tal. Um murmúrio nervoso percorreu a sala. A tensão era palpável. Alguns dos presentes desviaram o olhar de Mariana, como se sua presença fosse agora um fardo pesado demais para carregar. Mariana olhou em volta, esperando algum apoio. Não encontrou nada além de silêncio e medo. Sora, por sua vez, sentia o orgulho sendo esmagado. Eles tinham subestimado Hideo. Haviam imaginado um jovem impulsivo, guiado por emoções. Mas o que viam agora era um líder frio, calculista e impiedoso. — Isso ainda não acabou — sussurrou Sora para a mãe, os olhos fixos em Hideo. — Não. Está apenas começando — respondeu ela, a voz carregada de veneno. Mas, por ora, nada mais podiam fazer. — Guardas! — ordenou Hideo. Rapidamente, vários homens cercaram Sora e Mariana. — Quero que levem essa mulher até o jardim. Deem vinte e três varadas como punição pelos seus erros. Ela deve permanecer a mesma quantidade de tempo de joelhos, sem comer ou beber nada. O choque encheu o lugar com as palavras de Hideo. — Querido — disse Mei, chamando a sua atenção. — Não, mamãe. Eu te amo, mas hoje você não vai usar esse sentimento para me impedir — disse ele, beijando-lhe as mãos. — Levem-nos e façam como ordenei. — Será feito, senhor — respondeu um dos soldados, segurando Mariana pelo braço. — Não! Você não pode fazer isso comigo! — gritou ela, sendo levada para fora. — Isso não ficará assim! Está me ouvindo, Hideo? Não ficará assim! — gritou Sora. Assim que saíram, o salão caiu em silêncio, e lentamente as pessoas voltaram a prestar as suas homenagens. — Gostei do que fez — disse Sayuri, aproximando-se. — Ela merecia mais alguns tapas. — Não o incentive, Sayuri — pediu Mei. — Ele fez o certo — disse Vito, aproximando-se mais para que os outros não ouvissem. — Todos que são ligados à Fênix fazem de tudo pela família, Mei. Se Hideo não fizesse o que fez por você, ele não seria digno do lugar que ocupa entre nós. As palavras de Vito deixaram Mei surpresa. Ela olhou para o homem à sua frente, mas não via malícia no que ele dissera — era apenas a constatação de um fato. E, ao observar os outros membros da Fênix, percebia que todos pensavam da mesma forma.
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