O silêncio de Hideo acendia um alerta em Sayuri. Ele não questionou quando ela tinha arrancado a sua camisa e começado a fazer o curativo nas suas costas; suportou tudo em silêncio, sem deixar que uma única queixa de dor escapasse dos seus lábios.
Sayuri termina o curativo, cobre o local com algumas faixas, pega uma camisa limpa de botões e a veste em Hideo, que não reclama em nenhum momento.
— Prefiro quando está m*l-humorado do que te ver assim — diz ela, sentando-se ao lado dele e segurando a sua mão.
— Tudo vai ficar bem — diz ele, levantando-se e dando um beijo na testa de Sayuri.
— Espere! Aonde vai? — pergunta ela.
— Vou atrás dos canalhas que mataram meu pai — diz ele, já na porta da casa. Sayuri entra na frente e o impede com um olhar raivoso.
— Meu pessoal está cuidando disso. Você tem outras coisas com que se preocupar — Hideo a olha com a sobrancelha arqueada.
— Saia da frente — diz ele.
— Não — diz ela com firmeza.
Os outros observavam os dois, temendo que pudessem se matar em meio àquela disputa.
— Não me obrigue a te tirar do meu caminho, Sayuri — responde ele, dando um passo na direção dela.
Sayuri sorri com as palavras de Hideo. Ela dá um passo na sua direção, ficando ainda mais próxima dele.
— E como vai fazer isso? m*l consegue ficar em pé com os ferimentos nas costas — diz ela, bufando.
— Você... — começa ele, mas naquele momento a porta se abre, interrompendo-os.
Vito observa os dois com cuidado. Ele podia ver a tensão entre eles.
— Desculpem se interrompi — diz ele, entrando e fechando a porta.
— Chegou no momento certo, Vito — diz Ricardo.
— Parece que esses dois iam se matar — diz ele, observando Hideo e Sayuri se encararem em desafio.
— Não ia chegar a tanto. O j**a não está em condições de lutar com a noiva — diz Aurélio, segurando o riso.
Nico se aproxima e dá um tapa na cabeça de Aurélio.
— Hora errada para piadas, sabia?
— Chato, não falei por m*l.
— Desista, garoto. Não vai vencer uma luta com ela. Sei do que essa menina é capaz — diz Vito, caminhando até o bar e se servindo de uma bebida. — E você tem outras coisas com que se preocupar no momento.
— Como? — pergunta ele.
— O funeral do seu pai. A notícia já deve ter se espalhado. Precisa fazer os preparativos.
Hideo suspira, cansado, e passa a mão pelos cabelos. Com passos hesitantes, caminha até o sofá e se deixa cair nele. Odiava ter que lidar com aquelas coisas, mas seu pai era uma figura importante e ele precisava cuidar logo daquilo.
— Não se preocupe, vou te ajudar — diz Sayuri, sentando-se ao lado dele e pegando o seu telefone.
Ela passa os próximos minutos fazendo ligações. Hideo apenas observava a forma como o rosto dela, às vezes, se fechava e, em outras, se suavizava. Um tempo depois, ela desliga o telefone.
— Pronto. O pessoal da funerária vai vir cuidar do corpo de Haruki. Já cuidei da lista do funeral e, a essa hora, eles devem estar recebendo a ligação do meu pessoal os convocando. Pedi que realizem a cerimônia no salão ancestral da sua família, mas podemos mudar, se quiser.
Hideo estava impressionado com a forma como ela tinha resolvido tudo. Ele não tinha cabeça para aquilo naquele momento e estava grato pela ajuda dela.
— Está bom para mim. Só precisa se lembrar de que não desejo algumas pessoas na cerimônia — diz ele, com a sobrancelha arqueada.
— Eles não foram convidados. Pode ficar tranquilo — diz ela.
— Essa é eficiente — diz Aurélio, impressionado. Então se volta para Vito: — O que quis dizer com aquilo sobre ela?
— Finalmente algo que Don Aurélio não sabe — diz ele, com um sorriso de canto.
— Não pode fazer isso comigo, Vito. Me diga — diz ele.
— Por mais que fosse divertido te ver implorar, vou sanar a sua curiosidade. Ela controla um grupo de mercenários no mercado n***o. Eles fazem de tudo, até mesmo espionagem. O pessoal dela é vasto e está espalhado por vários lugares... em lugares que você nem acreditaria — diz ele, de forma sugestiva.
Os olhos de Aurélio se voltam para Sayuri, curiosos. Ele não imaginava que a mulher à sua frente fosse realmente alguém com tanto poder, mas também não duvidava.
— Eu já devia saber — diz Aurélio, balançando a cabeça.
— Você está ficando velho, perdendo esse tipo de informação — diz Nico.
— Olha quem fala — diz ele, apontando para Alicia, num canto.
Nico olha para ela e sorri ao ver a sua barriga proeminente. Em breve, seu filho estaria nascendo, e ele já se sentia eufórico ao pensar em sua família crescendo.
— Às vezes é bom ficar velho — diz ele, dando de ombros.
— Conversei com as mulheres, e elas quiseram vir — diz Ricardo, se aproximando. — Elas se importam com ele.
— É bom que elas venham, Ricardo. Que todos vejam que o garoto não está sozinho. Ele tem família por ele — diz Vito, com olhos escuros.
— Já providenciei para que fiquem numa casa aqui perto — diz Ricardo.
— Você tem uma casa aqui? — pergunta Nico, que ouvia a conversa.
— Agora tenho — responde ele com tranquilidade. — E vou me sentir melhor com elas num lugar que controlo.
— Isso é verdade. Não podemos descuidar da segurança delas, ainda mais com as crianças — diz Charles.
— Se tivessem me dito, eu teria emprestado uma das minhas propriedades. Não a uso — diz Matteo.
— Obrigado por oferecer. Vou me lembrar disso no futuro — responde Ricardo.
— Qualquer coisa pela Fênix, Ricardo — responde ele e se afasta.