O som das botas contra o chão de madeira ecoava nos corredores silenciosos da mansão Matsumoto. O soldado que carregava Mei nos braços mantinha o rosto sério, desviando o olhar da sua expressão esgotada. Ela, envolta num manto cinzento emprestado, não oferecia resistência. A dor, tanto física quanto emocional, a mantinha entre o torpor e a vigília.
Quando chegaram ao quarto preparado para ela, Hana já a esperava. Os seus olhos marejados de preocupação não hesitaram. Com doçura e firmeza, ela se aproximou.
— Vamos cuidar de você agora, Mei — murmurou, guiando-a para dentro. Mei estava tão entorpecida que nem ao menos questionou quando Hana a arrastou para o banheiro do quarto.
A água quente corria sobre o corpo coberto de terra e sangue seco. Hana, paciente, ajudava-a a despir as roupas rasgadas, lavando cada ferida com mãos trémulas, mas cuidadosas. Mei não dizia nada. Apenas deixava as lágrimas se misturarem à água, escorrendo silenciosas pelo rosto. O cheiro do sabão misturado ao do medo parecia impregnar o ar.
— Eles vão trazer o Hideo de volta, vai ver. Ele vai ficar bem — sussurrava Hana, tentando oferecer uma âncora num mar de incerteza.
Mei apertou os olhos, contendo um soluço. Ela não se permitia pensar que o seu filho não estaria mais com ela, o seu coração ela nutria a esperança que Haruki pudesse ser misericordioso com o filho.
— Se ele... se ele não voltar... — começou, mas a voz falhou. Hana segurou-lhe o rosto com ternura.
— Ele vai voltar. — Diz ela com a voz embargada. Mei precisava dela e ela não poderia desmoronar na frente da pequena mulher.
Momentos depois, já vestida com um quimono leve, Mei foi acomodada na cama. O médico entrou, com ar grave, e começou a tratar das feridas. As mãos experientes aplicavam pomadas e faixas, mas foi ao tirar um frasco âmbar do bolso que Mei se retesou.
— Isto vai ajudá-la a descansar. O corpo precisa recuperar — disse ele, estendendo o calmante.
Mei balançou a cabeça com firmeza. Ela não queria dormir, queria estar bem e lúcida para ajudar o seu filho quando ele retornasse.
— Não posso. Preciso estar acordada. Preciso dele.
— A senhora não está em condições...
— Preciso do meu filho! — interrompeu ela, a voz ganhando força pela primeira vez.
O médico hesitou. Suspirou, então colocou o frasco nas mãos de Hana.
— Se mudares de ideia...
O silêncio voltou a instalar-se, mas durou pouco.
Do andar de baixo, um tumulto irrompeu. Vozes exaltadas. Passos apressados. Hana e Mei trocaram um olhar e correram.
A cena no átrio gelou o tempo. Quatro membros da Fênix entravam, carregando um corpo que Mei conhecia melhor que a palma da sua mão. Mei reconheceu os cabelos escuros e o contorno do rosto — Hideo.
— NÃO! — o grito rompeu-lhe o peito como uma lâmina. As pernas cederam, mas ela avançou de joelhos, mãos trémulas estendidas.
O pano que eles usaram para o cobrir deslizou e revelou as costas feridas de Hideo — um mapa de dor traçado a ferro e sangue. Hideo estava inconsciente, o rosto pálido, quase translúcido.
— HIDEO!!! — o desespero de Mei tornou-se quase físico, enchendo o espaço com o eco da sua dor.
Ela o abraçou, mesmo com os curativos inacabados no próprio corpo, mesmo com o mundo desabando. O instinto materno falou mais alto do que qualquer racionalidade, do que qualquer dor.
— Por favor... meu filho... acorda... — sussurrava, entre beijos e lágrimas. — Mamã está aqui... estou aqui, meu amor...
Naquele momento, não havia mansão, guerra, honra ou missão. Havia apenas uma mãe diante da ameaça de perder o que lhe restava de alma.
— Precisamos levar ele senhora. — Diz Ricardo a chamando a si. — O médico está esperando.
Ao ouvir as palavras de Ricardo, Mei volta a si e relutante solta Hideo permitindo que os outros o levasse para o quarto no final do corredor, o quarto de Sayuri.
— Ele vai ficar bem Tia Mei, vamos cuidar disso. — Diz Sayuri tocando com carinho o rosto de Mei.
— Não posso perdê-lo. Ele é tudo o que tenho. — Diz ela entre soluços.
— E não vai, — Diz Hana a puxando para si lhe abraçando. — O médico da família é muito bom, o seu filho ficará bem.
No momento em que entram no quarto o médico corre até eles.
— O coloque de bruços para que eu examine os ferimentos. — Diz ele já abrindo a maleta e colocando as suas luvas.
Eles observavam em silêncio enquanto o médico examinava as feridas de Hideo com cuidado, cada toque extremamente calculado. Quando ele termina um suspiro cansado deixa os seus lábios.
— Ele perdeu muito sangue, mas acho que não será necessário por enquanto uma transfusão, mas vou precisar dar pontos na maioria dos cortes nas suas costas.
— Faça o que for preciso doutor, queremos que ele se recupere bem e sem sequelas. — Diz Ricardo com um tom sombrio fazendo o médico tremer. Aquilo não era intencional, mas ver o amigo naquela situação o fazia querer cometer uma loucura com o pai dele.
— Farei o que estiver ao meu alcance senhor, mas infelizmente ele ficara com cicatrizes profundas nas suas costas, não posso fazer nada quanto a isso. — Diz o médico.
— Apenas faça o seu melhor. — Diz Ricardo.
— Sim, senhor. Responde o médico começando a cuidar de Hideo sobre os olhos atentos dos membros da Fênix.
— Aquele velho é completamente maluco. — Diz Nico, os seus olhos azuis escurecidos pela raiva que o dominava.
— Isso não tem como questionar. — Diz Charles.
— E os outros Ricardo? — Pergunta Aurélio.
— Max e Vito estão vindo. Chegarão a tarde e Xavier mais a noite.
— Isso é bom, precisamos mostrar para aquele i****a que Hideo tem quem cuide dele. — Aurélio odiava aquele tipo de coisa, o fazia lembrar dos dias em que o seu irmão tinha sido torturado por seu avô, era algo que para ele não tinha perdão.