Sayuri manteve o olhar fixo em Júlia, esperando que ela continuasse. A noite estava silenciosa, mas a tensão era quase palpável no ar frio que cortava as ruas vazias.
— Como vocês descobriram isso? — perguntou Sayuri, cruzando os braços, mantendo a expressão neutra, embora por dentro sentisse uma chama crescente de fúria por Sora ter colocado todos na organização em perigo com as suas ações.
Júlia respirou fundo, puxando de dentro do casaco uma pasta fina e a entregando para Sayuri.
— Começamos a desconfiar há algumas semanas, quando um dos nossos pontos de distribuição no porto sofreu uma emboscada muito bem articulada. Inicialmente, pensamos que fosse coincidência… — explicou ela, mantendo a voz controlada e fria. — Mas foram três ataques em menos de dez dias, todos em locais onde apenas poucos tinham acesso às informações.
Sayuri folheava as fotos e relatórios com rapidez, o olhar afiado captando detalhes: datas, nomes, horários. Tudo muito bem documentado.
— Continuem… — incentivou ela, sem erguer os olhos.
— Decidimos rastrear as comunicações de todos que tinham acesso a esses pontos. A maioria, como esperado, não apresentou nada suspeito… exceto Sora. — Júlia fez uma breve pausa, cruzando as mãos atrás das costas. — Ele começou a fazer deslocamentos fora da rotina, principalmente para uma região que é reduto conhecido de Masato.
— Masato… — murmurou Sayuri, apertando a pasta com força. O nome do homem que no momento era uma pedra nos seus sapatos. Masato parecia sempre voltar como uma sombra.
— E não apenas isso. — Júlia gesticulou para um dos homens ao seu lado, que rapidamente entregou outro envelope para Sayuri. — Conseguimos imagens. Ele foi visto entrando em um armazém controlado por um dos braços de Masato. Em três ocasiões diferentes.
Sayuri puxou as fotos e franziu a testa. Ali estava, sem dúvidas, Sora, usando roupas discretas, o capuz cobrindo parte do rosto, mas ainda assim nitidamente reconhecível. As imagens capturadas pelas câmeras de segurança confirmavam: ele não apenas procurava Masato, como se reunia com ele.
— Essas imagens são de três dias atrás. — acrescentou Júlia, com firmeza. — Depois disso, seguimos alguns dos seus contatos mais próximos e conseguimos interceptar parte de uma mensagem codificada. Ainda não temos a tradução completa, mas tudo indica que ele estava repassando detalhes de rotas de transporte de armas.
Sayuri respirou fundo, fechando os olhos por um breve segundo, enquanto processava a gravidade do que ouvia.
— E você tem certeza que ele fez isso por vontade própria? — perguntou, abrindo novamente os olhos, agora com um brilho mais duro.
Júlia hesitou, mas logo assentiu.
— Pela forma como se comportou… não parece ter sido coagido. Ele não procurou nenhuma ajuda, não fez nenhum movimento de defesa. Está vendendo informações, senhorita… e isso significa que ou está com medo de nós, ou acha que pode vencer. — concluiu, com frieza.
Matteo, ao lado, soltou um assobio baixo.
— Esse i****a assinou a própria sentença… — murmurou ele.
Sayuri fechou a pasta, o olhar agora voltado para o vazio da rua à sua frente, como quem observa o inevitável se aproximar.
— O que quer que façamos? — perguntou Júlia, aguardando ordens.
Sayuri permaneceu em silêncio por um segundo a mais, antes de responder, com a voz fria e calculada:
— Quero que continuem monitorando cada movimento. Não toquem nele ainda. Se ele está passando informações, podemos usar isso a nosso favor… descobrir quem mais está envolvido.
Fez uma pausa, inspirando fundo.
— Quando for a hora… — prosseguiu, com um meio sorriso c***l — … eu cuidarei dele.
Júlia assentiu, sem esboçar qualquer emoção. Matteo apenas ajustou o casaco, já antecipando o desfecho inevitável.
Sayuri guardou as pastas sob o braço e olhou mais uma vez para Júlia.
— Bom trabalho. Quero relatórios diários.
— Sim, senhora. — respondeu Júlia, inclinando levemente a cabeça.
Sayuri se virou e começou a caminhar de volta ao carro, sentindo o frio da madrugada atravessar-lhe os ossos, mas também com a mente ardendo de determinação. Sora tinha cometido o maior erro da sua vida. E, agora, seria apenas uma questão de tempo até pagar por ele.
— Ele é burro ou apenas se finge? — Pergunta Matteo abrindo a porta do carro para Sayuri.
— Difícil fizer, tudo o que eu sei é que é um cadáver que ainda anda. — Diz ela com um sorriso c***l no rosto.
— Adoro isso em você sabia. — Diz ele arrancando com o carro. — A forma como se transforma de repente.
Matteo já tinha feito alguns trabalhos com Sayuri e gostava, ela tinha mais estômago do que alguns soldados que ele havia conhecido, e o melhor era que ela não reclamava, apenas fazia o que era preciso, uma parceira digna do Príncipe Escarlate.
— Sabe para onde ele foi depois de hoje? — Pergunta Matteo.
— Sei que ele tem algumas propriedades espalhadas pela cidade, então com toda certeza não deve estar dormindo na rua. — Sayuri andava investigando Sora há algum tempo, ele era meio irmão de Hideo, e tudo o que dizia respeito ao seu noivo dizia também a ela, e isso incluía vigiar Sora.
— Hideo o esta deixando sem saída, precisa ter cuidado. — Matteo já sabia bem o que acontecia quando um animal se sentia encurralado, e naquele momento era isso que Hideo estava fazendo com Sora, o estava deixando sem saída.
— Não se preocupe, Sora está sobre controle, Hideo não é o único que esta de olho nele. — Diz ela de forma tranquila.
— Sabe que não é apenas ele que precisa ser vigiado. — Diz ele com a sobrancelha arqueada.
— Estou cuidando disso, não precisa se preocupar. — Matteo lança um olhar rápido sobre Sayuri e bufa, é claro que ela estava cuidando de tudo, isso ele não duvidava.
— Apenas saiba que estamos aqui também, então não precisa se forçar tanto.
— Eu sei, e amanhã espero conseguir nos organizar melhor. Com a Fênix aqui precisamos tirar vantagem de nossos inimigos. — Responde ela sorrindo.
— Seria bobagem se não os usasse.