Sayuri continuava deitada em sua cama, o olhar fixo no teto, mas sua mente estava longe dali. Tentava, em vão, organizar os pensamentos — entender o que sentia, o que Hideo sentia e, principalmente, o que viria a seguir. Mas não teve muito tempo para pensar.
Ouviu a porta ser aberta com um leve rangido. Levantou-se na mesma hora, sentando-se na beira da cama, já esperando pelo que estava por vir.
— Sayuri — a voz de Yuki soou firme, mas não agressiva. — Precisamos conversar.
Ele entrou no quarto sem pedir permissão, seguido pelo pai, Kyota, que mantinha uma expressão indecifrável no rosto. Ela já devia esperar por aquilo. Os homens da sua vida eram muito protetores, algo pelo qual ela era muito grata.
— Estou bem — disse ela, antes que qualquer um falasse, tentando parecer firme.
— Isso não é sobre estar bem ou não — Yuki cruzou os braços, encostando-se à parede. — Queremos saber o que aconteceu exatamente. O que Hideo fez com você?
Sayuri hesitou. Por um instante, pensou em mentir, minimizar tudo, mas sabia que não adiantaria. O seu irmão e o seu pai não a deixariam sair daquela conversa sem respostas.
— Ele não fez nada — respondeu, olhando nos olhos do irmão. — Ontem recebi uma mensagem de Ricardo pedindo para ficar de olho nele, então apenas acatei o pedido.
Kyota franziu o cenho. Ele mesmo havia convidado Ricardo para o aniversário da filha e ficou feliz quando ele aceitou, mas não sabia que Sayuri era tão próxima do líder da Fênix quanto parecia.
— Desde quando conhece Ricardo? E por que saiu às pressas e expulsou Hideo como se ele tivesse feito algo errado?
— Isso é uma longa história, papai. E não quero que fiquem pressionando o Hideo. Foi por isso que o expulsei de casa. Vocês sabem que ele não me ama... quero manter um pouco da minha dignidade — disse ela, com um misto de vergonha na voz.
— Precisa nos contar isso direito, Sayuri. Ricardo não é qualquer pessoa. Tem que ter cuidado — disse Yuki, com a voz mais baixa agora, confusa.
Sayuri levantou-se. Sentia o peso da incompreensão se abater sobre ela. Não queria falar sobre nada daquilo, pois tocava nas suas feridas, mas sabia que a sua família não deixaria o assunto de lado.
— Eu o procurei em uma das vezes em que o Hideo desapareceu. Estava preocupada e, desde então, ele sempre me informa o que ele está fazendo — disse, dando de ombros, como se não fosse nada.
O silêncio entre eles foi denso por alguns segundos. Kyota respirou fundo, como se estivesse digerindo cada palavra da filha.
— Ricardo não é alguém que faz favores de graça, Sayuri. Conheço bem a fama dele e não quero você em problemas — disse Kyota, sério, encarando a filha.
— Não precisa se preocupar, papai. É um acordo entre nós. Eu cuido do Hideo aqui e ele me informa dos passos dele quando estiver fora — aquele havia sido o melhor acordo que Sayuri já tinha feito, ainda mais por não ter precisado convencer Ricardo a ajudá-la.
Yuki se aproximou, mais calmo agora, e sentou-se ao lado dela na cama. Tudo o que ele desejava era que a sua irmã ficasse bem, e naquele momento se questionava se aquele casamento com Hideo era mesmo a melhor opção.
— Só quero que você entenda, Sayuri, que não precisa se prender a um compromisso que não te faz bem. Não somos mais obrigados a seguir promessas antigas. Se Hideo não for o certo... você não precisa seguir com isso — disse Yuki calmamente.
Ela assentiu com a cabeça, mas seu coração batia mais forte. A verdade era que, apesar de tudo, ela queria entender o que havia por trás daquela fachada de Hideo. Queria descobrir quem ele era quando não estava usando uma armadura.
— Você tem o direito de escolher o seu caminho, minha filha. Mas, seja qual for, queremos que você esteja segura. Sempre — disse Kyota.
Sayuri sorriu de leve. Pela primeira vez em muito tempo, sentia-se ouvida.
Mas, dentro dela, algo pulsava forte. Uma certeza estranha, como um sussurro crescente: Hideo Shinoda estava mais presente em sua vida do que imaginava. E o destino deles ainda estava longe de ser resolvido. Ela não desistiria do noivo que havia sido prometido a ela desde pequena.
— Eu quero tentar, papai. Não vou desistir tão fácil. Ele é meu — disse, com os olhos brilhando, encarando o pai e o irmão com uma chama diferente.
— Tão teimosa quanto vocês — disse a mãe de Sayuri, entrando no quarto com um largo sorriso no rosto.
— Vocês ouviram — disse Sayuri, rindo.
— Não a apoie, querida. Sabe como essa menina é — disse Kyota.
— Sei bem, querido. Ela é sua filha e possui o espírito de luta dos Matsumoto — disse a mãe, sentando-se ao lado de Sayuri. — Apenas lembre-se, minha filha, por mais que esse casamento seja um acordo antigo, isso não importa. A sua felicidade importa. Tente o quanto quiser, mas se Hideo insistir em não querer se casar com você, coloque um ponto final nisso.
A mãe de Sayuri tinha um olhar firme sobre a filha. Sabia o quanto ela era teimosa, mas sempre deixara claro que Sayuri tinha uma escolha no meio de tudo aquilo e nunca a forçaria a tomar uma decisão r**m para sua vida.
— Tem a minha palavra, mamãe — disse ela, abraçando a mãe apertado.
— Essa é a minha menina — respondeu ela, divertida.
— Posso resolver isso com uma bala só — disse Yuki, com um bico enorme no rosto.
— Nem pense nisso, Yuki. Me deixe resolver as minhas coisas — disse Sayuri, fuzilando-o com o olhar.
— Tudo vai se acertar. Pelo que vi hoje, ninguém mais vai ousar desrespeitar a nossa filha — disse Kyota, satisfeito com o que Hideo havia feito. Sofria muito vendo a forma como as outras famílias fofocavam sobre a sua filha, mas depois daquele dia, duvidava que alguém ousasse comentar algo. Se havia algo que as famílias da máfia temiam, era Hideo Shinoda.