Hideo caminhava lentamente em direção à saída com a sua mala. O encontro entre eles tinha sido revigorante e ele se arrependia por ter que partir tão cedo. Voltar para casa, para ele, era sempre um tormento.
— Sabe que pode ficar um pouco mais, não é mesmo? — diz Ricardo assim que ele abre a porta.
— Sei, mas preciso resolver algumas coisas em casa.
— Sayuri? — pergunta Ricardo com um sorriso no rosto.
— Podia ter me ajudado com isso. — Ricardo ri das palavras de Hideo.
— Podia, e foi isso que eu fiz — diz, se aproximando dele e colocando a mão no seu ombro. — Espero que enxergue o tesouro que tem antes de perdê-lo, meu amigo.
— Do que você...
— Faça uma boa viagem — diz Ricardo, se afastando antes que ele completasse a frase.
— Para um futuro Don, às vezes você é bem lento, Hideo — diz Jin, passando por ele, rindo.
O voo até o Japão havia sido cansativo, e tudo o que Hideo não queria era mais um problema em sua vida. Mas, quando ele desce do jato e encontra o seu pai o aguardando, ele apenas suspira, pensando no que viria.
Hideo caminha até o pai a passos lentos. O rosto de Haruki era sombrio ao observar o filho se aproximar. Quando Hideo para em frente ao pai, o som alto de um estalo enche o lugar quando Haruki dá um forte tapa na cara do filho.
Hideo observa o pai com ódio nos olhos, os punhos cerrados. Ao seu lado, Jin se aproxima e entra em sua frente.
— Enquanto eu estiver aqui, você não toca nele — diz, sustentando os olhos sombrios de Haruki.
— Se ele cumprisse com as suas obrigações, eu não precisaria discipliná-lo — responde Haruki, sem se intimidar com o olhar de Jin.
Hideo suspira, deixando parte da sua raiva se dissipar. Ele puxa Jin para o lado e encara o pai à sua frente.
— Me explique o que houve — pede Hideo, a contragosto.
— Recebi um vídeo interessante de Yuki Matsumoto. Ao que parece, a sua noiva estava sendo difamada em uma boate por sua causa. Tem noção dos problemas que está me causando? — diz Haruki, zangado.
O coração de Hideo dispara ao ouvir aquilo, a culpa o corroendo ao pensar em tudo o que estava causando a Sayuri.
— Me mande o vídeo, vou cuidar disso — diz ele.
— Não precisa. O senhor Matsumoto em pessoa lidou com a situação — Haruki pega o celular, abre e mostra a Hideo o vídeo em que Kyota lida com os homens da boate. Os olhos de Hideo se arregalam ao ver a brutalidade das cenas à sua frente.
— c*****o! — exclama Jin ao lado de Hideo.
— Ele fez questão de me mandar uma mensagem dizendo que lidaria pessoalmente com você, meu filho, quando chegasse a hora — Haruki tentava a todo custo evitar uma guerra, mas a cada novo insulto que Sayuri recebia, ele se via mais distante do que desejava. Se aquilo não fosse resolvido cedo, em breve eles teriam uma guerra entre as suas famílias.
— Vou cuidar disso, pai — diz ele.
— Faça isso o mais rápido possível — diz Haruki, virando as costas e saindo.
Jin observava o olhar perdido do amigo com pesar. Ele não desejava vê-lo daquela forma, mas entendia que não poderia fazer muita coisa sobre aquilo.
— Vamos — diz Hideo, seguindo para o carro.
Assim que entra no seu apartamento, vai direto para o banheiro, toma um banho rápido e veste os seus trajes típicos. Ele precisava ir até a família de Sayuri para resolver aquela situação de uma vez por todas.
— Vai sair? — pergunta Jin ao vê-lo vestido.
— Vou resolver logo essa situação — diz ele, pegando uma maleta e saindo. Jin se levanta do sofá, corre e o acompanha.
O caminho até a casa dos Matsumoto foi feito em silêncio. Hideo remoía o que tinha visto e o seu coração não o deixaria em paz até resolver tudo aquilo. E, já que o seu pai se recusava a ajudá-lo, ele cuidaria daquilo pessoalmente.
Assim que os soldados da família Matsumoto reconhecem o carro de Hideo, abrem os portões rapidamente. Hideo desce do carro e caminha em direção à porta de entrada.
— Bem-vindo, jovem Shinoda. O senhor Kyota o aguarda — diz o mordomo, fazendo um sinal para que o seguissem.
No momento em que entra na sala, Hideo encontra Kyota e Hana esperando sentados no sofá.
— Obrigado por me receber — diz ele, fazendo uma reverência.
— Sua presença em minha casa não é bem-vinda, rapaz, mas vou abrir uma exceção já que a minha querida esposa intercedeu a seu favor — diz ele, segurando a mão de Hana.
— Obrigado por seu apoio, senhora Hana — diz ele, fazendo outra reverência.
— Não confunda as coisas, Hideo. Apenas pensei que você merecia ser ouvido — diz ela, com olhos firmes, observando-o.
— Mesmo assim, eu sou grato.
— Sentem-se. Vamos ouvi-lo — diz Kyota, apontando para o sofá à sua frente.
Hideo e Jin se sentam sob os olhos atentos dos Matsumoto.
— O que deseja, rapaz?
— O que tenho para tratar com vocês não é fácil, mas é necessário — começa ele, puxando uma lufada de ar. — Quero romper o meu compromisso com Sayuri.
O coração de Kyota erra uma batida com as palavras de Hideo, e suas mãos se fecham em punho. Era como se Hideo risse da cara deles e da situação em que estavam.
— Como você se atreve! — grita Kyota, levantando-se num pulo. Ao seu lado, Hana se levanta, pegando em sua mão.
— Se acalme, querido. Deixe que ele fale — pede ela, de forma desesperada.
— Me acalmar? Eu quero matá-lo! Acho que ele ainda não entendeu tudo o que causou à nossa família! — esbraveja, sentando-se novamente.
— Eu sei o que fiz e me envergonho profundamente — diz, com a cabeça baixa.
— Vergonha? Você não sabe o que é vergonha! — diz Kyota, furioso.