Sayuri caminhava lentamente pelo jardim interno da residência dos Matsumoto. As flores de cerejeira começavam a florescer, espalhando um perfume doce pelo ar, e ela amava a beleza da paisagem ao seu redor. Poucas coisas chamavam a sua atenção, e aquele jardim era uma delas. Tão lindo e ao mesmo tempo tão simples, encantava-a.
— Que gracinha... fingindo ser a senhora perfeita da Yakuza. — A voz carregada de veneno veio por trás de uma das colunas de pedra.
Sayuri parou, erguendo o rosto com calma antes de virar-se. Lá estava ela: Lyo Takahashi. Os olhos pintados de raiva, os lábios carregando um sorriso sarcástico. As marcas do tapa ainda não haviam desaparecido, mas o que mais chamava atenção era o ódio que queimava por trás do olhar.
Sayuri se perguntava como Lyo havia entrado na sua casa, pois duvidava que os seus pais tivessem permitido a sua entrada ali depois do incidente com ela e Hideo.
— Lyo — disse Sayuri, num tom neutro. — Esperava que estivesse se recuperando.
— Recuperando? — Lyo deu uma risada curta. — Você fala como se tivesse me vencido. Mas não se engane, Sayuri... eu ainda estou aqui. E vou continuar aqui quando tudo desmoronar sobre você.
Sayuri manteve a postura serena. Não se abalava com palavras, mas conhecia o perigo escondido nelas. Perguntava-se se Lyo estava se ouvindo. Ela havia invadido a sua casa para dizer aquilo, sem sequer pensar nas consequências.
— Não estou em guerra com você, Lyo. Mas vou adorar começar uma, se me provocar. — respondeu ela com um sorriso sombrio no rosto.
— Não? — Lyo deu um passo para trás, bem devagar. — Então por que está sempre no meu caminho? Por que ele olha para você como se você fosse algo mais do que apenas uma noiva conveniente?
Sayuri respirou fundo. As palavras de Lyo eram afiadas, mas ela se recusava a se rebaixar ao nível da rival. Se ao menos soubesse que Hideo a desprezava, Sayuri duvidava que ela estivesse ali, provocando-a.
— Se ele me olha diferente, não é culpa minha. Talvez devesse perguntar a ele... ou a si mesma. — disse ela, sorrindo diante da expressão raivosa de Lyo.
Lyo cerrou os punhos. Sayuri a provocava mesmo diante das verdades que ela jogava em sua cara.
— Você adora esse joguinho de dama perfeita, não é? Mas eu te conheço, Sayuri. Sei que por trás dessa cara calma há ambição. E você quer o que é meu.
— Eu não quero nada que não venha por escolha, Lyo. — Sayuri deu um passo à frente, os olhos agora fixos nos dela. — Mas não vou permitir que me humilhem. Nem Hideo, nem você.
O silêncio entre as duas pesou por um instante. Sayuri se mantinha firme, os olhos a fuzilando com raiva por sua ousadia.
Lyo deu um sorriso frio. Para ela, Sayuri estava apenas jogando com ela, um jogo que pretendia vencer, é claro.
— Você tem coragem, admito. Mas coragem não vai te salvar. Ele vai se cansar da sua serenidade. E quando isso acontecer, eu estarei lá para lembrá-lo de quem realmente o entende.
— Gosto da forma como você se ilude, Lyo, e percebo que não conhece Hideo o suficiente. — disse ela, rindo da expressão da rival. — Acho que os tapas que ele te deu não foram o suficiente.
— Como se atreve! — gritou Lyo, furiosa, levantando a mão para dar um tapa em Sayuri.
Sayuri segurou a mão de Lyo e, com a outra, deu-lhe um tapa estalado no rosto, jogando-a no chão.
— Você está na minha casa, e ainda ousa me bater? — perguntou, caminhando até onde ela estava. Sayuri desferiu um chute em Lyo, jogando-a contra a coluna da parede.
— Guardas! — gritou ela com raiva, olhando Lyo gemendo no chão.
— Senhorita. — disse um soldado, aproximando-se seguido de outros. — Como podemos ajudar?
— Quero saber como essa c****a entrou aqui. Até onde sei, a minha casa não é abrigo de animais. — Lyo trincava os dentes com as palavras de Sayuri, a raiva a corroendo por dentro.
— Vamos verificar imediatamente, senhorita. — disse ele, partindo com mais um soldado, enquanto os outros permaneciam vigiando Lyo.
— Você está com azar hoje, Lyo. Estou de péssimo humor. — disse ela, com os dentes trincados de raiva.
Alguns minutos depois, os soldados retornaram correndo até onde elas estavam.
— Parece que um dos nossos liberou a entrada dela, senhorita. — disse o soldado, apontando para outro, que tinha os olhos arregalados.
— Me desculpe, senhorita. Ela disse que tinha algo para a senhora e que era surpresa, por isso a liberei. — disse ele, caindo aos pés de Sayuri. — Me perdoe! Eu errei!
— Sim, você errou. E vai pagar por esse erro. — disse ela, encarando-o com ódio. — Levem-no para o depósito e avisem o meu irmão. Que ele lide com isso.
— Sim, senhorita Matsumoto. — disse um dos soldados, arrastando o outro com ele, enquanto este esperneava e gritava.
— Quanto a você, já que queria me fazer uma surpresa, acho que eu é que vou fazer uma para você. — disse Sayuri, pegando uma faca de sua bota e abaixando-se ao lado de Lyo.
— Sayuri! O que vai fazer?! — perguntou ela, em desespero.
— Algo que você jamais esquecerá. — disse ela, rindo enquanto passava a faca pelas roupas de Lyo, sem se importar que a lâmina tocasse a sua pele.
Lyo gritava e esperneava enquanto Sayuri cortava a sua roupa com um sorriso no rosto. Os soldados a continham, evitando que ela fugisse de Sayuri.
— Pronto. — disse Sayuri com um sorriso no rosto ao ver Lyo nua à sua frente. — Quero que a levem e a soltem no centro da cidade.
— Não! Não pode fazer isso! Ficou louca?! — gritou Lyo, em desespero.
— Fiquei sim! E a culpa disso é sua. Mas hoje você vai aprender o que acontece quando se mexe comigo, Lyo. — disse ela, sorrindo enquanto se virava e saía. Às suas costas, Lyo gritava e se debatia enquanto os soldados a arrastavam para cumprir as suas ordens.