Capítulo 29

1033 Words
O coração de Lyo batia de forma desesperada enquanto o carro dos soldados da família Matsumoto cortava a cidade em direção ao centro. Ela não queria passar por aquilo, e apenas o fato de saber que seria largada nua na rua a deixava em pânico. — Não podem fazer isso comigo! O meu pai vai punir vocês! — gritou ela aos soldados que a seguravam no banco de trás do carro. — A única que será punida aqui é você, e o soldado que permitiu a sua entrada, senhorita. Você não está lidando com uma família qualquer, e aposto que é inteligente o suficiente para saber que os Matsumoto têm mais poder do que a sua família nesta cidade. Aquelas palavras eram duras, mas verdadeiras, e faziam Lyo ranger os dentes de raiva. Era por isso que ela queria se casar com Hideo. Ela queria poder — um poder que só viria se se unisse a uma família influente. — Por favor! Eu imploro! — disse ela, chorando, as lágrimas escorrendo por seu rosto. — Teve a sua chance de implorar à senhorita Sayuri. Não vai conseguir nada conosco — disse o soldado, encerrando a discussão. Ele sabia o quanto a família Matsumoto zelava pela filha mais nova e temia que os eventos daquele dia acabassem recaindo sobre ele e os outros. Então, o melhor a se fazer era obedecer. O céu estava cinzento quando Lyo foi jogada no centro de Tóquio. As pessoas pararam ao vê-la, olhos arregalados, mãos cobrindo bocas, telefones erguidos, captando cada detalhe da sua vergonha. Ela tentava esconder o corpo com os braços, mas não havia escapatória. O frio queimava a sua pele tanto quanto os olhares cortavam a sua alma. Sussurros, risos, insultos. Tudo se misturava ao som distante dos carros e da cidade que nunca parava. — É ela? A herdeira da família Takahashi? — perguntou alguém entre a multidão que se formava à sua volta. — Meu Deus... o que aconteceu com ela? — Alguém chame a polícia! Mas ninguém a ajudava. Ninguém a cobria. Ninguém lhe estendia a mão. Lyo tremia. De raiva. De vergonha. De impotência. Os olhos cheios de lágrimas não eram por medo, eram por ódio. Um ódio que queimava mais forte do que qualquer humilhação. Sayuri havia ultrapassado todos os limites. E agora... agora ela queria mais do que Hideo. Queria destruição. Lyo se jogou no chão, tentando esconder o rosto entre os joelhos. O som de passos se aproximou. Um homem de terno escuro, chapéu inclinado, parou à sua frente. Atirou-lhe um casaco. — Cubra-se. Você não é uma vítima, Lyo... é uma peça descartada — disse ele com um tom calmo, porém firme. Ela olhou para ele com desconfiança. Jamais havia visto aquele homem em toda a sua vida. — Quem é você? — perguntou, cobrindo-se com o casaco dele. — Alguém que também já foi humilhado pelos Matsumoto e Shinoda. Alguém que sabe como derrubar um império — estendeu a mão. — Quero lhe fazer uma proposta. Lyo hesitou. Mas, naquele momento, sem dignidade, sem apoio, sem esperança, qualquer chama de vingança parecia calorosa o suficiente para mantê-la de pé. Ela agiu movida pela mais pura fúria. Jamais permitiria que o que Sayuri lhe havia feito ficasse sem punição. Ela pegou na mão dele. — Estou ouvindo — disse com um sorriso de canto. — Vamos. Essa conversa não pode acontecer aqui. Lyo acompanhou o homem até um Rolls-Royce imponente e sentou-se no banco de trás ao lado dele. O carro deslizava pelas ruas da cidade até parar diante de uma mansão majestosa, numa área mais afastada. Eles desceram, e ela entrou ao lado do homem. — Bem-vindo, senhor — disse o mordomo, aproximando-se. — Leve esta senhorita para se trocar, Shon, e depois traga-a ao meu escritório — ordenou o homem. — Como desejar, senhor — respondeu ele, virando-se para Lyo. — Por favor, me acompanhe, senhorita. Lyo seguiu o mordomo até uma sala belíssima. As paredes em tom creme davam um ar requintado ao lugar. Havia um sofá e várias araras de roupas num canto, além de itens de cuidados pessoais. — Vocês estão bem preparados — disse ela, observando o local com atenção. — O senhor costuma realizar alguns eventos aqui na propriedade, e é comum que alguma senhorita acabe derrubando algo nas roupas. Por isso, temos o básico para atendê-las — explicou ele. — Fique à vontade. Esperarei do lado de fora para levá-la ao senhor quando estiver pronta. Sem mais palavras, o mordomo se retirou. Lyo aproximou-se das araras e escolheu um dos vestidos. Impressionou-se ao ver a etiqueta de uma marca famosa, e, ao observar o ambiente ao redor, percebeu que o dono do lugar certamente tinha muito dinheiro. Depois de se vestir, Lyo acompanhou o mordomo até o escritório da mansão e entrou. — Estou curiosa para saber por que deseja me ajudar — disse, sentando-se à frente do homem. — É simples, senhorita Lyo. Você pode estar em lugares onde eu não posso, e preciso de alguém com ouvidos tão apurados quanto os seus — disse ele, com um sorriso de canto. — Com tudo o que vi na sua casa, é difícil acreditar nisso — respondeu ela com um sorriso. — Temos inimigos em comum. Podemos nos ajudar — insistiu ele. — Eu quero que Sayuri seja destruída, e que Hideo se arraste aos meus pés. Consegue fazer isso? — perguntou ela, em tom de desafio. — Será uma brincadeira de criança conseguir isso. Mas também tenho os meus próprios objetivos. Preciso que me ajude a descobrir quem tem atrapalhado os meus carregamentos. Quero confirmar se é o seu precioso Hideo Shinoda. — Já disse: quero Hideo. Se vai destruí-lo, não conte comigo — disse ela, levantando-se. — Não preciso destruí-lo. Apenas confirmar se é ele. Assim poderei evitar futuros ataques aos meus negócios. — Se for apenas isso, poderei ajudá-lo, senhor...? — Masato — respondeu ele, pegando a mão dela e beijando-a. — Prevejo uma colaboração vantajosa entre nós. O que Lyo não sabia era que o único interesse de Masato era destruir Hideo. Ele desejava vingança pelos carregamentos que tinham sido apreendidos ao longo dos anos.
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