Lyo deixa a casa de Masato com um sorriso no rosto. Ela estava animada com aquela cooperação e já imaginava a cara de Sayuri quando a esmagasse com os seus sapatos. Lyo sabia que Masato era alguém importante e com poder, o que era perfeito para que os seus planos de conquistar Hideo e se tornar a senhora da Yakuza dessem certo.
Quando chega em casa, encontra o seu pai à espera na sala. Ela corre até ele com um largo sorriso no rosto, louca para contar as novidades do que havia acontecido.
— Pai! Tenho uma notícia incrível! Finalmente conseguimos! — diz ela, eufórica com tudo o que havia conquistado.
Um estalo seco interrompe as suas palavras. A bofetada a faz cair no chão. Lyo leva a mão ao rosto, olhando para o pai em descrença. Ela sempre tinha sido a filha querida e, nunca na sua vida, havia levado um tapa sequer dele. Mas aquilo acabara de mudar.
— Cale-se, Lyo! Cale essa maldita boca antes que eu perca o resto da paciência que ainda tenho com você! — diz o Sr. Takahashi, com os olhos inflamados de fúria. Ele olhava para a filha pensando em como pôde colocar no mundo uma criatura que lhe causava tanta humilhação.
— Pai...? O que aconteceu? — pergunta Lyo, tentando entender, com lágrimas começando a se formar nos seus olhos.
— Um soldado dos Matsumoto esteve aqui hoje! Veio exigir explicações, retratações... humilhações! Por sua causa! Você abriu a boca quando devia tê-la mantido fechada! — grita o Sr. Takahashi.
Naquele momento, a compreensão invade a mente de Lyo. A família de Sayuri queria uma retratação pelo que ela havia feito dias atrás. Aquilo não era sobre a humilhação daquele dia.
— Mas... Papai. Eles... — diz Lyo, tentando se levantar.
— Sem mais! E como vai chamar a vergonha que espalhou por toda a cidade quando andou nua pelas ruas?! As imagens, Lyo! Você está nua no centro! NA INTERNET! Todo mundo já viu! Os vizinhos, os colegas de trabalho, o país inteiro, talvez! — diz o Sr. Takahashi, cada vez mais exaltado. Ele não sabia onde enfiar a cara depois do que a filha havia feito. Agora, duvidava que algum dia Hideo aceitasse a sua filha depois do ocorrido. Ninguém iria querer uma mulher que manchasse o nome da família.
— Eu não sabia... Acredite em mim, papai! — diz Lyo, a voz trêmula, enquanto se apressa a se jogar aos pés do pai. Ela precisava do perdão dele. Ele era a única família que ela tinha, seu único apoio — e não viveria sem isso.
— Você traiu esta família! Traiu o nosso nome! A sua mãe deve estar se revirando no túmulo de vergonha! O que você fez, Lyo... é imperdoável — diz o Sr. Takahashi, apontando o dedo com desprezo enquanto se afasta dela. Ele havia prometido à filha que a ajudaria a derrubar os Matsumoto e conquistar Hideo, mas depois do que soube, considerava-se com sorte se alguém ainda quisesse algum contato com ele.
— Eu só queria fazer o que era certo... — tenta se justificar Lyo, chorando. O desespero a tomava enquanto pensava que não teria mais o apoio do pai nos seus planos. Agora ela estava sozinha e não podia mais contar com a sua ajuda.
— O que é certo?! Para você, talvez. Mas se esqueceu de pensar no preço que todos à sua volta teriam de pagar. A partir de agora... não se atreva a sair ou levantar essa cabeça como se fosse alguém honrada. Porque, para mim... você não é mais — diz o Sr. Takahashi, virando-lhe as costas, sem esperar por explicações. Ele se sentia mais do que humilhado. Todo o amor e cuidado que dedicara àquela filha pareciam ter sido em vão. Sentia-se um pai fracassado.
— Foi aquela maldita, papai! Foi Sayuri que tramou contra mim! — grita ela, esperneando em fúria no chão da sala.
As palavras de Lyo não importavam mais. O seu pai já não estava na sala para ouvir o que ela tinha a dizer. A sua vida havia acabado de ser arruinada por sua inimiga, e aquilo apenas fazia a sua sede de vingança aumentar. Na sua mente, Lyo já se via destruindo Sayuri. Tudo era culpa dela.
— Sua maldita! — grita ela, puxando os cabelos de raiva. O rosto de Sayuri, rindo enquanto cortava as suas roupas, estava gravado na sua memória.
Lyo permanece sentada no chão, as costas encostadas no sofá, ainda sentindo o ardor na face. As palavras do pai ecoavam como facas afiadas em sua mente. Traidora. Vergonha. Imperdoável. Ela jamais esqueceria aquele dia — o dia da sua vergonha.
O telefone, jogado ao canto, vibrava incessantemente. Mensagens, notificações, chamadas. O mundo lá fora tinha visto tudo. Comentários cruéis, memes nojentos, montagens feitas por gente que nem a conhecia. Ela havia se tornado uma piada para a sociedade ao seu redor — e aquilo apenas a fazia arder ainda mais de raiva.
— Mas eu fiz o que era certo… não fiz? E por que dói tanto, então? — pensa Lyo, enquanto as lágrimas descem por seu rosto.
Ela se ergue devagar, cambaleante, vai até a janela e olha para o horizonte. Os telhados molhados pareciam tão distantes quanto a vida que conhecia antes. A confiança do pai, o respeito da comunidade, sua própria dignidade — tudo parecia perdido. E ela só não estava mais perdida porque agora tinha alguém para apoiá-la.
Com esse pensamento, Lyo sorri. Toda aquela vergonha seria transformada em glória assim que o plano dela e de Masato desse certo. Tudo voltaria a ser como era antes — e as pessoas ao seu redor seriam obrigadas a respeitá-la. Se não por bem... seria pela força. Lyo sorri com isso ao imaginar usando a força para forçar as pessoas, a sua volta, e o seu riso sombrio enche a sala enquanto ela se levantava e caminhava em direção ao seu quarto, estava na hora de planejar seu próximo passo.